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quarta-feira, 9 de novembro de 2022

No meio do percurso… - Hirtis Lazarin

 



No meio do percurso…

Hirtis Lazarin

 

Caminhava eu feliz e confortável por uma estrada larga e promissora. A sombra do verde que a ladeava protegia-me do calor escaldante do sol e das tempestades que, inesperadamente, chegavam. Os troncos resistentes das árvores eram a minha segurança; agarrava-me a eles quando a ventania tentava me arrastar.

A lua observava-me silenciosa e sua luminosidade tênue não permitia que eu me desviasse do caminho. Punhado de estrelas inspirava-me a fazer poesia.

O amanhecer, com suas cores, aromas e brilho, rejuvenescia-me e enchia-me de energia. Aprendi a reconhecer cada pássaro pela melodia do seu canto. Em voo livre, sem medo e sem direção, fizeram-me valorizar a liberdade. 

Aprendi a exercitar o silêncio. O silêncio não comete erros, não magoa ninguém e acalenta nossos sonhos. É no silêncio que encontramos respostas às nossas dúvidas tão frequentes e comuns.

Mas… Eu não sabia que existia a palavra “MAS”…

Fui pego de surpresa. Uma porta enorme, feita de ferro pesado, caiu do nada, a minha frente, e interrompeu minha andança. Dei um pulo atrás para que meu pé não fosse dividido em dois. Foi tudo tão rápido que não deu tempo pra eu ver como foi plantada ali, bem pertinho de mim. Cair do céu ela não caiu. Um mistério.

Tentei arrumar explicações várias; primeiro, utilizando meus conhecimentos de física e matemática, mas todos passaram por ingênuos e descartáveis. Examinei-a, cuidadosamente. Era compacta. Alguém poderia estar escondido?  Nenhum rastro, nenhum ruído diferente, nada que indicasse a presença de um estranho.

Cheguei até a pensar em bruxaria ou coisas do outro mundo. Joguei esse pensamento longe, pois não era o momento para superstição.

Senti raiva, gritei palavrões e perdi o autocontrole quando, inexplicavelmente, o dia virou noite. Não enxergava mais nada. Chutei e esmurrei a porta, por quantas vezes não sei. Só parei quando o sangue escorria pelas minhas mãos e pés.

Atônito e sem saber o que fazer, joguei-me ao chão. Senti muita… muita dor. Espinhos, que a relva fresca escondia, feriram-me o rosto e, pela primeira vez, chorei. Chorei até à exaustão.

Adormeci. Sonhei com monstros que devoravam cada pedacinho de mim. Só restava meu coração para que a morte me engolisse.

Não sei quanto tempo se passou…

Acordei com o toque de uma varinha mágica. Abri os olhos e tudo continuava escuro. Ouvi palavras macias e acolhedoras. Conselhos de mãe.

Levantei-me sem pressa. Depois de algumas flexões, senti os músculos enrijecidos.

Sem nada enxergar, arrastei os pés até a porta que permanecia desafiadora. Tateei-a, detalhadamente, sem pressa nem alvoroço. Era uniforme e não tinha fechadura. 

Mas… Outro “MAS”… apareceu.

À esquerda, bem lá no topo da porta, senti um pontinho saliente, perdido no negro inabalável. Ensaiei várias vezes até tocá-lo levemente. Nada aconteceu. Criei coragem e, sobre ele, pressionei o dedo indicador com toda força que eu tinha.

A porta deslizou sobre os trilhos, silenciosa e macia. Tão macia quanto o levantar voo de um cisne.

Não podia perder tempo nem a oportunidade. Corri para o outro lado. Venci o obstáculo.

Sem olhar para trás, continuei minha caminhada.

Reconectado à esperança… 

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