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quarta-feira, 16 de março de 2022

ZÉ DO PICADINHO - Henrique Schnaider

 


ZÉ DO PICADINHO

Henrique Schnaider

 

Vou contar uma história que vem da minha juventude que é mesmo de causar espanto. Ela é verdadeira e estes crimes tomaram conta dos jornais da época.

José Alves dos Santos nasceu num lar pobre no interior de São Paulo na cidade de Pirassununga. Ele foi o terceiro de quatro filhos do casal. Sua mãe se desdobrava ao ter que cuidar dos meninos, carinhosa, sempre dando atenção e fazendo o possível para que a vida deles fosse a melhor que ela podia oferecer.

O pai era um péssimo marido, vagabundo, alcoólatra e violento, fazia da vida da mãe e de José e seus irmãos, um verdadeiro inferno aqui na terra. Além de não trabalhar, surrava os meninos sem nenhuma razão. Enquanto a mãe saía para trabalhar fazendo faxina e ganhando os seus míseros trocados e outras doações de roupas e alimentos que as patroas lhe davam.

Quando chegava do serviço, era dolorido de se ver, com as crianças todas marcadas de vergões, pelas pancadas recebidas do pai. Arlindo completamente embriagado, recebia a esposa com pancadaria, exigindo que ela fosse para o fogão preparar a refeição para todos.

Dessa forma a vida triste foi passando e nenhuma esperança de melhoras. José e os irmãos transbordavam de tanta revolta. A desgraça rondava a casa onde José e os irmãos moravam.

Um dia a esposa chegou em casa e foi recebida a murros e pontapés e caiu desfalecida sem chances de sobreviver. Os filhos já adolescentes, não suportaram mais tamanha violência. Juntos foram para cima do pai agredindo-o com pedaços de pau, levando-o à morte.

Neste dia os rapazes se tornaram órfãos e resolveram cada um ir pro seu lado. José foi à estação e pegou um trem com os trocados que tinha e veio para a Capital São Paulo. Foi parar numa pensão na rua Aurora. Saiu a procura de emprego e acabou trabalhando como carregador no Mercado Central.

A vida seguiu seu rumo, já com Jose adulto, mas ele era de fazer pouca amizade e carregava com ele a dor de uma revolta imensa de ter presenciado e participado no fim das contas, de tanta violência ao se desfazer a sua família,

Jose que morava na zona de prostituição, começou a se relacionar com as prostitutas da região. No começo tudo seguia o curso normal de quem pagava para ter um carinho e uma relação sexual. Mas ele não ficou satisfeito e as coisas pareciam piorar. Até que um dia José depois de se deitar com uma prostituta, sentiu uma violência e um ímpeto muito grande e sem controle matou a indigitada.

Com aquele corpo estendido na cama, José pensou como se livrar do cadáver. Pegou uma faca bem afiada e destrinchou o corpo em vários pedaços e colocou numa mala. Saiu dali carregando aqueles pedaços de gente e foi de táxi até o rio Tietê e sem testemunhas jogou a mala no rio.

O instinto assassino de José não parou na primeira vítima. Continuou a matar, picar e jogar no rio.

A polícia investigando aqueles crimes sem solução e com os jornais da época explodindo em manchetes enormes. Falando do Zé do picadinho, apelido que deram sem saber a quem se referiam. A opinião pública exigindo e pressionando as autoridades para uma solução daqueles crimes bárbaros.

Um dia seguindo sua rotina de crimes. José foi carregando sua mala em direção ao rio e para sorte da polícia e das prostitutas, passava por ali um carro policial na rotina de ronda. Viram aquele suspeito com a mala e pararam a viatura e se aproximaram dele. Mandaram abrir para ver o que levava e, já desconfiados, encontraram o corpo de uma mulher, em pedaços.  

José foi preso e condenado a muitos anos de prisão. Passado algum tempo, ele foi solto por bom comportamento. Mas o seu instinto assassino estava apenas adormecido. Despertou novamente e as mortes voltaram a acontecer.

Para a polícia não foi difícil localizar Zé do Picadinho e ele voltou para a prisão, ali permanecendo até o final dos seus dias.

Contei esta história porque depois de alguns anos aconteceu de um dia eu estar na casa do meu amigo de infância Carlos Azolini que trabalhou como Perito Criminal em São Paulo. Inclusive trabalhou no caso do Zé do Picadinho. Ele buscou uma pasta, tirou e me mostrou fotos dos crimes praticados. Me deixando espantado com o que eu vi.

Na época que os crimes aconteceram. Era espantoso saber dos fatos acontecidos com os crimes e da forma como foram praticados. Mas depois de ter visto as fotos deles. A minha sensação foi de horror, pois eu não podia acreditar que o ser humano fosse capaz de tamanha violência.

Mas infelizmente este é o mundo em que vivemos e a cada dia nos surpreende de forma negativa.

 

Um comentário:

  1. A meu ver esta história atende perfeitamente à proposta do exercício, retratando mesmo, e de forma bem concisa, fatos que nos espantam, resumidos numa boa sequência até o seu final, focando as causas e consequências do que foi contado. Para melhor fluência e encadeamento da narrativa, creio que seria proveitosa uma revisão da pontuação utilizada.

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