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quarta-feira, 1 de setembro de 2021

ANÍSIO, O SURFISTA - Leon Vagliengo

 


ANÍSIO, O SURFISTA

Leon Vagliengo

 

Um continho curtinho, minúsculo, figurado.

 

        O verde profundo e salgado do mar era um convidativo aceno de paz, mesmo com as vagas enormes, que corriam até explodir em grandes ondas, que corriam com doce rugido até ficarem pequenas, que corriam, ainda, até se reduzirem à espuma. O céu de um doce azul, as nuvens bem esparsas, branquinhas e macias, o sol quente e amarelado. Componentes de um lindo dia de calor, cujo excesso era atenuado pela brisa fresca e perfumada.

        Quanta beleza, cenário perfeito!

        Anísio pegou a prancha, prendeu o slash no tornozelo e quando entrou na água fria caminhou devagar, apressou, correu enquanto ainda estava no raso e depois seguiu remando até onde ficam os surfistas na espera das boas ondas. Nem se diga que ele sentia uma grande alegria. Pura imaginação! Aquilo iria dar um trabalho...!

        Mais do que um esporte, a prática do surfe, para ele, é um ritual de harmonia, momento de estar consigo mesmo, esquecido de tudo, dos problemas corriqueiros da rotina diária. Delicia-se com o embalo da vaga ao equilibrar-se na prancha, em que sobe com seus próprios braços; sente-se único, poderoso, dominador, ao andar sobre as águas como Jesus; empolga-se com o forte estalar daquela massa de água quando se transforma em onda e o transporta numa curta viagem que o leva à plena sensação de felicidade. O salgado do mar é doce.

        E tudo se repete milhões de vezes, novamente, novamente e novamente, o doce rugir do mar em seus ouvidos, os passeios sobre a prancha até o mergulho, e tudo outra vez e outra vez e outra vez.  Momentos de encantamento, nada mais existe para Anísio.

        Aqui não existem conflitos.

        Apenas o prazer de sentir-se integrado à natureza, participar de sua beleza, acompanhar os movimentos do mar. A vida, os dias precisam ser bem aproveitados.

        Aqui não existe desfecho.

Tudo se repete indefinidamente. Vai embora feliz Anísio, mas volta sempre. É apenas um coadjuvante, o personagem principal é mesmo a Natureza.


2 comentários:

  1. Muito legal poeta Leon você tem o dom para a escrita e a alma poética

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  2. Esporte e natureza, um casamento perfeito. E justamente, quando uma pessoa escolhe o seu esporte favorito e o une a natureza. Parabéns

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