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quarta-feira, 15 de junho de 2022

ZÉ DO GADO - Helio Fernando Salema



ZÉ DO GADO

Helio Fernando Salema

 

Hoje com mais de quarenta anos, morando sozinho numa pequena propriedade rural onde nasceu e cresceu. Quando ainda era criança, por volta dos 6 anos, sua mãe faleceu. O pai cuidou dos três meninos. Os dois mais velhos, assim que ficam adolescentes, decidiram morar na cidade, para estudar, trabalhar e por lá permaneceram.

Na companhia do pai até os dezenove anos, aprendeu tudo o que o pai sabia, fazia e fez questão de transmitir ao filho. Sempre juntos como anjo da guarda. Gostava e admirava o trabalho do velho cuidador de gados. Daí o apelido de ZÉ DO GADO pegou no ainda jovem, José Antônio dos Santos.

Com o falecimento do pai, continuou sua vida com poucas alterações. Manteve com a mesma frequência as visitas à casa da viúva D. Olga, que morava só com a mãe numa casinha humilde na fazenda vizinha do seu sítio. Estimado por ambas, algumas vezes passava a noite por lá. Por estar morando sozinho, D. Olga passou a retribuir-lhe as visitas e também a cuidar da limpeza da casa.

Nas fazendas da região ele era solicitado sempre que havia algum problema com os animais, seja de doença ou de nascimento, ou para conduzi-los para outra propriedade. Assim ganhava seu sustento. Nas horas vagas cuidava da sua propriedade, plantando e vendendo seus produtos aos moradores do povoado.

Exímio atirador, quando via uma cobra rastejando, mesmo no meio do mato, poucos segundos eram suficientes para pegar seu revólver e liquidar com a serpente, pois era o único animal que ele não gostava e nem protegia, pois ela matava os bovinos e os equinos que ele tanto “corujava”.

Não se metia em brigas, nem aceitava covardias, e quando necessário as resolvia logo com a sua boa pontaria. Assim era admirado e respeitado. Muitos moradores ainda comentam sobre o dia em que ele, ainda muito jovem, mostrou do que era capaz.

Com a presença, na principal venda do povoado, dos IRMÃOS TORMENTOS, apelido dado a dois irmãos de sobrenome TORRES, e pressentindo confusão, alguém foi correndo até o sitio do ZÉ DO GADO. Ao vê-lo, deu-lhe logo a notícia ainda bastante assustado.

Ele só fez um sinal com a cabeça. Guardou suas ferramentas, arreou o cavalo e saiu num galope, produzindo poeiras como uma manada.

Ao se aproximar do local viu dois homens fortes batendo num rapazinho. Um socava e empurrava para o outro, que também golpeava. O jovem cambaleando era agredido por todos os lados, sangrava que dava dó.

As pessoas que estavam vendo aquela covardia, mas com medo de intervir, logo que viram quem se aproximava, ficaram aflitos e esperançosos para ver com os próprios olhos, aquilo que outros já relataram.

Ele parou. Pegou o revólver, e a uma pequena distância com dois disparos acertou a perna direita de cada um dos agressores, que caíram no chão feito jaca madura…Gritando palavras de ofensas, seguravam a perna ferida e se contorciam de dores.

Desceu do cavalo e foi até onde estava o rapaz ferido. Perguntou onde ele morava. Com uma das mãos, este indicou a venda, onde seu pai na porta, com um medo maior que a covardia dos agressores, olhava tudo, sem ter pernas para se mover.

Pegou-o pelas pernas e braços, carregou-o para dentro da venda e o colocou sobre o balcão. Retornou para onde estavam aqueles por ele baleados, ainda no chão reclamando das dores. Encostou seu chicote no rosto de um deles e avisou com ímpeto e bem alto:

— Eu sei quem são vocês… Agora vocês sabem quem eu sou…Na próxima vez que vocês voltarem por aqui…Será bala na cabeça. Entenderam?

Duas cabeças resignadas balançaram afirmativamente.

ZÉ DO GADO montou e voltou para casa. Nunca mais alguém teve notícias dos IRMÃOS TORMENTOS naquele tranquilo e harmonioso ARRAIAL DAS ÁGUAS MANSAS.

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