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quinta-feira, 27 de maio de 2021

UM CONTO POLICIAL - Alberto Landi

 




UM CONTO POLICIAL

Alberto Landi

 

Ao volante de seu Austin esportivo vermelho, ano 2019, a jovem mulher seguia pela Interestadual I5 que conecta os Estados de Oregon e Washington, no sentido Portland, quando próximo do condado de Salem, foi abalroada por um pneu de caminhão que se soltou e veio rodando da pista oposta e, em alta velocidade, espatifando-se contra o para-brisa do Austin.

A jovem Valerie perdeu o controle de seu veículo e capotou várias vezes. No acostamento o carro ficou com as rodas no ar. Quando os paramédicos chegaram, alguns minutos depois, encontraram-na sem vida entre as ferragens.

O carro foi atingido por um pneu que se soltou de um caminhão, informou uma testemunha, Michael, que vinha dirigindo bem atrás da vítima, que parou para socorrer e chamar a polícia.

Tem alguma informação sobre qual veículo provocou o acidente? Perguntou o patrulheiro Philip, o primeiro a chegar ao local.

Confesso que não estava atento naquele momento, admitiu Michael. Minha atenção ficou no Austin, que sofreu o acidente. Porém vi onde o pneu foi parar, batendo no Austin. Levou então o patrulheiro até o local onde estava o pneu arrebentado, a uma distância de uns 100 metros da estrada.

Provavelmente, se soltou do caminhão, avaliou inicialmente o patrulheiro. O caminhoneiro nem deve ter percebido. Somente vai dar conta quando parar para reabastecer. E emitiu um alerta para a polícia de Salem.

Richard, um caminhoneiro de 1,90 m de altura e aproximadamente 120 kg de peso, acordou na boleia do cavalo mecânico estacionado junto a um posto de gasolina, nas proximidades de Salem. Alguém bateu à porta do veículo:

Abra!  É a polícia!

Richard ergueu-se, na cama atrás do banco, e esticou-se até a janela, no lado do carona. Havia um carro de polícia de Salem parado no acostamento com dois patrulheiros.

Era o patrulheiro Philip:

Um momento! Deixe-me me vestir! Gritou o caminhoneiro.

Instantes depois estava com os dois patrulheiros conversando.

Você é proprietário do caminhão de 3 eixos que está na oficina do posto para troca de um pneu?  Perguntou o patrulheiro.

Sim, é meu, confirmou. Quando parei para abastecer ontem a noite percebi que um dos pneus havia se soltado e caído na interestadual. Essas manutenções são muito ruins.

O seu pneu atingiu um carro ontem, informou o patrulheiro. Uma jovem faleceu.

Richard ergueu os braços de uma maneira bem chocada.  Eu não fiz nada não! Se foi o meu pneu, foi um mero acidente.

Mesmo assim, você vai ter que vir conosco, até a delegacia, prestar depoimento.

Melhor fazer logo o teste do bafômetro, sugeriu o outro patrulheiro Marc.   

Em seguida todos se dirigiram à delegacia de polícia de Salem.

O sujeito está limpo; sem sinal de álcool, drogas ou infrações de trânsito, informou o detetive Franco, da polícia de Salem para o xerife Dillon. Mas não resta nenhuma dúvida, o pneu que matou a jovem saiu do caminhão dele.

Como é de outro estado o veículo, e só estava aqui de passagem, melhor pedir prisão preventiva e deixá-lo preso até julgamento, comentou Franco.

Eu vou conversar com a promotoria, assentiu o detetive. Todavia o juiz pode não concordar com uma fiança alta, já que o caso se parece mais com um acidente de trânsito.

A outra companheira de Franco, a detetive Jennifer informou ter recebido uma queixa sobre um tumulto

ocorrido no estacionamento onde Richard estava, na noite anterior à prisão, havendo uma vítima.

O caminhoneiro estaria envolvido? Questionou Franco.

Há uma testemunha, mas a vitima não foi localizada, resumiu o xerife

Jennifer, a outra detetive, estava tomando um cafezinho, quando o detetive Franco aproximou-se trazendo uma pasta nas mãos. Tratava-se do caso do caminhoneiro.

O xerife informou que talvez tivesse algo mais.

Não é exatamente um fato conclusivo, mas a gerente da lanchonete do posto de gasolina afirma ter visto um caminhoneiro espancar uma prostituta, ontem à noite, no estacionamento. Pela descrição é o Richard.

E a prostituta?

A detetive informou que desapareceu sem prestar queixa. Isso não é exatamente incomum.

Sim. Franco balançou a cabeça.

Podem ter se desentendido sobre o preço ou o serviço prestado, e procurar a polícia seria a última das opções destas garotas.

Por isso se tornaram vítimas perfeitas para esse tipo de abusador. Replicou Jennifer, sorvendo um gole de café. Vou pedir um teste de DNA desse sujeito, argumentou Franco.

Você está desconfiado de alguma outra coisa? Indagou a detetive.

Somente por precaução, replicou Franco.

 O juiz está propenso a pedir uma fiança baixa nesse caso, informou a promotora Sofia, quando Franco ligou para ela, 2 dias após. Ele entende que ele não oferece risco à sociedade, complementou a promotora.

Estou aguardando retorno de informações que solicitei ao FBI, explicou o detetive. Tente conseguir mais 24 horas de preventiva com o juiz.

Vou fazer o possível, mas sem uma justificativa sólida, penso que tenhamos de colocá-lo em liberdade, informou a promotora. Infelizmente a prostituta espancada não prestou queixa, lamentou o detetive.

Mais tarde, para seu alívio, antes do término do inquérito dado pela promotora, o FBI fez contato com ele, informando dados importantes sobre o caminhoneiro.

O DNA dele está relacionado com 2 casos em aberto, de prostitutas mortas no Texas e Arizona. Informou o agente do FBI que ligou para Franco. Bingo!  Parece que você pegou um serial killer, Franco.

Por puro acaso minimizou Franco.  Tudo por causa de um acidente de trânsito, do qual é provável que seria inocentado.

Pelo visto, mais uma mulher teve que morrer para que pudéssemos pôr as mãos nesse criminoso, sentenciou o agente do FBI.

  

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