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quarta-feira, 10 de março de 2021

A Pistoleira - Adelaide Dittmers

 


A Pistoleira

Adelaide Dittmers

 

Rose saiu revoltada da sala do xerife.  Só porque era mulher não podia ajudar nas investigações.  Atirava muito melhor do que a maioria dos homens, que conhecia.  Não sentia medo de nada.  Seu avô e seu pai a prepararam para saber se defender em quaisquer circunstâncias.  Montou o seu cavalo, decidida a desvendar o que aconteceria naquele dia e a se vingar daqueles que provocaram aquele terrível tiroteio, em que morreu tanta gente.

A realização da primeira feira de gado leiteiro trouxe muitos rancheiros, que queriam exibir seus animais e vendê-los a bons preços, mas ela soube que apareceram por lá quatro forasteiros, que, segundo a descrição dos que os tinham visto, eram mal-encarados e metidos a valentões.  Olhavam os habitantes de soslaio, como se estivessem a avaliá-los um a um.  Iam ao salão para jogar, beber e tentar as mulheres.  E se alguém os encarassem, imediatamente punham a mão no coldre empunhando o revólver.

O que queriam aqueles homens?  O que estavam fazendo naquela pacata vila?  Perguntou-se ela.

Na volta para casa, passou por ela um amigo de seu pai, que quando a viu, puxou as rédeas de seu cavalo, chamou-a  e contou-lhe que muitos animais expostos na feira tinham sido roubados e tudo foi tão de repente que ninguém conseguiu reagir rapidamente e por isso começou aquela enorme troca de tiros.  Dois capangas levaram os animais e outros dois ficaram um tempo para cobrir os companheiros e depois desapareceram rapidamente.

Segundo a narrativa dele, a confusão se alastrou pela cidade como um rastilho de pólvora.  Ela ouviu-o atenta. Depois de ele externar seus sentimentos pela morte de seu pai, perguntou-lhe se precisava de alguma ajuda.  Ela balançou a cabeça, dizendo que não.  Os dois despediram-se e Rose seguiu seu caminho.

Agora tinha a certeza a que vieram os forasteiros.  Vieram para roubar o gado e ela iria persegui-los até ao fim do mundo e iria acabar com eles.

Chegou à casa, apeou-se do cavalo e entrou com passos firmes.  Seu rosto parecia ter sido esculpido em uma rocha.  Dirigiu-se ao quarto, onde pegou algumas roupas e dinheiro. Depois escolheu alguns víveres e encheu um cantil com água e colocou tudo em uma pequena bruaca.  Enfiou nos coldres dois Colts e à tiracolo uma tira de couro com munição adicional.  Olhou com tristeza a sua volta, despedindo-se de cada cantinho da casa, onde nascera,  crescera e onde fora muito feliz.

Montou o seu cavalo e a galope saiu de sua pequena cidade em busca dos assassinos de seu pai e de tanta gente do lugar.  Tinha que ir rápido para alcançá-los. 

Cavalgou por um bom tempo, mas eles tinham desaparecido.  Anoiteceu e Rose procurou um lugar perto de um rio para dormir.  Ao amanhecer, ela banhou-se nas águas frias do rio.  Sentiu-se disposta e com muita energia para seguir viagem e enfrentar aqueles capangas. E lá se foi atrás de seu objetivo.

Um pouco mais adiante, encontrou um homem, que colhia milho em uma pequena plantação.  Rose cumprimentou-o e perguntou-lhe se tinha visto quatro homens a cavalo, que tocavam várias cabeças de gado. O homem olhou curiosamente para ela e disse que não os vira, mas antes do amanhecer ouviu de sua casa, que ficava próxima, o barulho de um tropel de animais, que passaram velozmente por lá.

O rosto de Rose acendeu-se.  Não deviam estar muito longe.  Algum tempo depois, avistou o que estava procurando.  Bem adiante, à beira de um regato, sombreado por  frondosas árvores, lá estavam eles, em pé perto dos animais, que bebiam a água corrente.  Ela desmontou, puxou-o para o meio da folhagem espessa e silenciosamente caminhou até chegar bem perto deles.

Os bandidos conversavam e riam distraídos.  A jovem puxou seu revólver e com tiros certeiros atingiu três dos homens, que caíram mortos na relva.  O quarto, no entanto, virou-se rapidamente e pode divisá-la atrás de uma moita.  Apontou a sua arma e de repente ouviu-se um tiro vindo de outro lugar, que o atingiu em cheio nas costas e o matou.

Rose, muito surpresa, saiu de seu esconderijo.  Atrás do homem morto, apareceu um homem alto e forte, que desmontou o cavalo e veio até ela.

— Olá senhorita! Vi que estava em apuros e ia ser surpreendida por um dos homens.  Estava perto, observava os homens e supus que eram ladrões de gado.  Parabéns! Nunca vi uma mulher atirar tão bem como a senhorita.

A moça estava espantada e olhou desconfiada para o seu salvador.

— Quem é você?

— Good Joe.  E a senhorita, quem é? Por que os perseguia?

Ela não respondeu à pergunta.  Muito admirada, falou:

— Good Joe! O famoso justiceiro do oeste, que persegue os malfeitores por todo o lado. Não acredito! Sempre o admirei muito!

Joe deu uma sonora gargalhada.

— Sim, sou eu e estou lisonjeado por ser admirado por uma garota tão bonita e corajosa.  Agora responda à minha pergunta. Por que perseguia esses capangas?

—Eles roubaram o gado de uma feira na minha vila.  Provocaram um grande tiroteio, que matou muita gente inocente e entre elas meu amado pai.  Então, sai da cidade em busca deles e me prometi que iria fazer justiça por este Oeste afora.

— Isso é muito perigoso.  Além de se ter que lutar com bandidos, temos que fugir dos patrulheiro, para quem somos foras da lei.

— Não tenho medo de nada. Fui criada pelo meu avô e meu pai, que me ensinaram a me defender e ter coragem para enfrentar qualquer obstáculo que estiver à minha frente. 

Joe estava pasmo. Nunca vira uma mulher tão corajosa e decidida.

— Então vou propor-lhe uma coisa.  Você quer vir comigo e juntar nossas forças e habilidades para vencer esses bandidos?

Rose abriu a boca numa expressão de espanto e contentamento.  O grande Joe a estava convidando-a para lutar pela justiça com ele.

— Claro que aceito e dando um passo em direção a ele, apertou-lhe a mão como a selar um acordo entre eles.

Ele sorriu satisfeito. Ia ter a companhia de uma linda e corajosa mulher.

— Primeiro temos que voltar à sua vila e devolver esse gado a quem pertencer.  

Rose concordou satisfeita e um sorriso iluminou seu belo rosto.

Montaram em seus cavalos, juntaram as vacas e as foram tocando pelo caminho de volta.  

Foi uma grande festa, quando os moradores da vila, viram Rose e Joe trazendo o gado que havia sido roubado. Estavam muito gratos pelo que os dois tinham feito e orgulhosos de Rose, uma moça da vila, que demonstrara tanta coragem.

 Por vários dias permaneceram na cidade para Rose organizar tudo o que lhe pertencia.  Escolheu um grande amigo de seu pai em quem confiava plenamente para administrar seus bens, cuja renda seria útil nas suas futuras andanças por aquela região inóspita e perigosa.

Quando tudo estava acertado, partiram e, durante muitos anos, vaguearam por todo o Oeste, defendendo os habitantes dos saqueadores, ladrões de banco e matadores. 

Joe e Rose tornaram-se a dupla de pistoleiros mais famosa daquela região.  Muitas vezes, os patrulheiros fingiam que não os viam porque tinham uma admiração secreta por eles, afinal faziam muito bem o trabalho que lhes cabia.

 Com o tempo, a convivência, os grandes desafios e perigos, que enfrentavam, foram os unindo cada vez mais e a confiança e admiração que sentiam um pelo outro se transformou em um grande e duradouro amor.

Viveram juntos até a velhice, quando se estabeleceram em um pequeno rancho, levando uma vida tranquila.   Nos fins de tarde, costumavam sentar-se na grande varanda, que circundava a casa e contavam as suas aventuras para os inúmeros amigos, que haviam conquistado durante os muitos anos, que vagaram por aquelas plagas.   E enquanto narravam as suas histórias, seus rostos cansados pareciam rejuvenescer e seus olhos brilhavam de alegria.

Depois de partirem para sua última e grande viagem, em uma das vilas, foi erguida uma estátua em homenagem ao casal, imortalizando todos os seus feitos e até hoje são considerados os grandes heróis de seu tempo.


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