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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

No velho Oeste ela nasceu - Hirtis Lazarin

 





No velho Oeste ela nasceu

Hirtis Lazarin

 

Em Oldtown, pequena cidade do oeste americano, acontecia a primeira exposição de gado leiteiro.  Agitada e festiva; há tempos não se via tanta gente.  Balões coloridos foram amarrados por todos os cantos.

As ruas estreitas de terra batida congestionavam-se com carroças puxadas por parelhas de cavalos.  Do solo, levantavam-se nuvens de poeira que provocavam acessos de tosse intermináveis.

O ferreiro coçava a cabeça.  Não daria conta de tanto trabalho.  E as ferraduras em estoque não seriam suficientes.  Perdia-se a chance de faturar um pouquinho mais...

Cowboys, vestidos de jeans, lenço no pescoço, chapéu e botas, exibiam-se às mocinhas casadoiras que se escondiam atrás de risinhos tímidos e marotos.  Eram jovens fortes e valentes que dominavam, acrobaticamente, o laço e o gado.

No "saloon", agitado e barulhento, a música alta misturava-se ao vozerio grave e alterado dos homens.  Mulheres jovens, exuberantes e pouca roupa ofereciam "moonshine" aos mais afoitos.

Rose nasceu em Oldtown.  Cresceu, praticamente, no colo do avô, atenta e encantada com as histórias que ele lhe contava.   A sua família foi uma das primeiras a chegar ali, no oeste americano, lado esquerdo do rio Mississipi.  Terra inóspita e selvagem que se fazia tremer com o estouro de manadas de bisões que se perdiam nas planícies sem fim. 

O trabalho incansável, a persistência e a esperança nunca faltaram a essas famílias desbravadoras.  E foram esses exemplos que moldaram a personalidade da menina Rose.

Seu pai, Joe, era proprietário da única loja que abastecia os moradores, agricultores e rancheiros. Vendia um pouco de tudo. 

Depois de um dia exaustivo e cheio que começou às 06:00 da manhã, pai e filha fechavam o estabelecimento.   Rajadas de tiros ininterruptos vinham de todos os lados.   Era gente correndo e caindo, gente gritando, crianças escondendo-se debaixo de carroças estacionadas, mocinhas tropeçando na barra dos vestidos,, cavalos relinchando e bois berrando.  Uma confusão jamais vista. Joe,  não se sabe como nem porquê, foi atingido na cabeça. Despencou na calçada e, em segundos, morreu ali mesmo, sangrando...

Nunca se viu tanta gente reunida num funeral.

O tempo corria e as investigações não caminhavam.  Um homem trabalhador e de família tradicional teve o cérebro perfurado por um tiro perdido e certeiro de colt.  O culpado tinha que ser encontrado.

Enquanto isso, a família Goldstein desmoronava.  O filho mais velho perdia-se na bebida, a mãe tresloucada andava sem rumo falando sozinha.  Rose, corroída pelo ódio que virou sede de vingança, encheu-se de valentia.  Atirava com tiro rápido e certeiro e dominava o cavalo no galope.  Ofereceu ajuda ao xerife:  "Mulher não se mete nisso."  A moça insistiu... insistiu..., mas não teve jeito.  A rejeição jamais seria aceita e provocou um revés na vida de Rose.  Uma pistoleira convicta nascia ali.

Há anos e anos que Oldtown não ouvia mais falar naquela moça.   Seu nome caiu no esquecimento até que o capelão da cidade recebeu  mensagem do governador do Estado de Arkansas:

       "Acabamos de enterrar o corpo da justiceira Rose Goldstein, que, friamente, matava muitos contra a lei, mas sempre protegendo os mais fracos. 

         The thorny Rose (a Rosa espinhosa) são as inscrições na sua tumba fria e escura."

               Cemitério de Arlington - em Suntown (Arkansas)

    

 "No velho Oeste, ela nasceu e entre bravos se criou. Seu nome em lenda se tornou..."


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