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segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Assalto ao Metrô - Adelaide Dittmers

 


Assalto ao Metrô

Adelaide Dittmers

 

As pessoas com ar cansado lotavam a plataforma da estação do metrô.  Depois de um exaustivo dia de trabalho não viam a hora de chegar em casa.    

Na boca do túnel subterrâneo, a luzinha do trem apareceu e todos aglomeraram-se em diversos pontos para conseguirem entrar e talvez arrumar um lugar para sentar.

Quando o metrô parou e as portas automáticas abriram-se  foi aquele avanço.  A gentileza e a educação jogada no lixo.  Os vagões ficaram cheios.  O trem saiu da estação na disparada costumeira e entrou pelo escuro túnel.  Alguns passageiros de pé, deitavam a cabeça sobre os ombros, outros empunhavam com uma das mãos os celulares.  O balanço do trem desequilibrava alguns mais desprevenidos.

De repente, um homem gritou:

— Isto é um assalto.  Joguem os celulares e carteiras no chão e nem pensem em se mexer.  Qualquer movimento, atiramos.

Muito assustados, deixaram cair os celulares e as carteiras no chão.  Ao procurar de onde vinha a voz, depararam-se com cinco homens com armas apontadas para eles.  Um estava em uma extremidade do vagão, dois no meio deles e outros dois na outra extremidade.

O medo tomou conta de todos. Ficaram tão imóveis, que nem pareciam respirar.  As faces empalideceram e os  olhos cheios de terror.   Uma mulher, com uma criança no colo, apertou-a contra o peito.

O homem gritou novamente:

— Quando o trem parar na próxima estação.  Fiquem bem quietos.  Ninguém sai.

Dois dos assaltantes começaram a recolher os objetos do chão e colocá-los em grandes sacolas de plástico. 

A composição chegou à estação e como o vagão estava lotado, só um homem forçou a entrada e logo foi rendido. Seguindo caminho, o trem pegou sua velocidade normal.

Rapidamente, os assaltantes colocaram o resto dos objetos roubados nas sacolas.

Os passageiros pareciam congelados pelo pavor. Apenas olhavam uns para os outros, como se procurassem, em silêncio, apoio mútuo.

Na estação seguinte, os ladrões desceram e caminharam calmamente para não despertar suspeitas.

Um homem então gritou:

— Não entreguei meu celular.  Disfarcei e coloquei ele dentro da calça, caso eles revistassem meus bolsos.  Estou ligando para a polícia, informando a estação em que desceram.  Esses bandidos vão pagar!

As pessoas começaram a falar todas ao mesmo tempo.  A revolta explodiu pelo vagão. Uma mulher chorava: o salário de doméstica estava na carteira.  A criança percebeu a tensão e também começou a chorar alto. A confusão se espalhou por todo o lado.  O homem do celular então gritou:

— Calma pessoal! Vamos descer na próxima estação, vamos ficar juntos.  Vou avisar a polícia onde estamos!

Enquanto isso, os assaltantes subiam pelas escadas rolantes da grande estação, que tinha três andares.  A satisfação pelo sucesso do roubo brilhava em seus olhares.  Estavam tranqüilos.  Ao chegar ao andar, que os conduziria à saída, tiveram que percorrer um corredor comprido, com várias lojinhas ao redor.  Um deles parou para comprar cigarros.  Devagar seguiram seu caminho, conversando com naturalidade.

No entanto, quando chegaram próximos a escadaria que dava para fora foram surpreendidos por um grande número de policiais, que olhavam atentamente para a multidão que se encaminhava para a saída.  Um deles viu as grandes sacolas e chamou a atenção dos outros.

 Os ladrões perceberam o movimento e sentindo o perigo correram na direção oposta. Os policiais correram atrás deles. Uma grande e perigosa caçada começou.  As pessoas, ao ver isso, encolhiam-se pelo corredor. 

Um dos assaltantes olhou para trás e atirou.  Os policiais reagiram e um perigoso tiroteio ecoou pelo lugar.  As pessoas refugiaram-se nas pequenas lojas e os policiais gritaram para elas:

— Abaixem, um policial gritou,

Aturdidas e confusas, encolhiam-se, não acreditando no que estava acontecendo.

Um dos bandidos foi atingido e caiu morto.  Um policial foi ferido.

A polícia desceu pelas escadas, numa corrida desabalada e conseguiu cercar os quatro homens.  Um dos policiais saltou por cima da mureta e caiu de pé na escada rolante, alcançando-os por trás.   Encostou o revólver nas costas de um dos ladrões.

— Levantem as mãos e larguem as armas!  Ordenou.

Os homens muito nervosos obedeceram.

Ao pé da escada, os outros policiais estavam esperando. 

— Mãos na cabeça.  Gritaram e os agarraram.

Muita gente curiosa parou para ver a rendição dos bandidos.  Os guardas, porém, os dispersavam, mandando seguirem seus caminhos.

Os criminosos, então, foram levados para a delegacia.  Lá foram revistados, interrogados e depois de várias verificações, o delegado chocado descobriu que dois deles faziam parte da corporação.

Honesto e sério, sempre ficava furioso ao se deparar com esse lado podre da polícia.  Não se conformava de que homens que tinham o dever de proteger os cidadãos, passassem para o lado do crime.

Cansado pela longa jornada, levantou-se, vestiu o casaco e foi para casa.  Mais um dia tempestuoso vencido, pensou.  Como seria o dia seguinte.  A grande cidade era imprevisível e desafiadora.

 

 

 

 

 

 

 

Um comentário:

  1. A história é dinâmica, descrevendo todo o movimento do assalto e da ação policial, passando pelas reações pessoais dos envolvidos. Classifico como uma ficção baseada em fatos possíveis. Muito bem.

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