A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

FIGURAS DE LINGUAGEM

DISPOSITIVOS LITERÁRIOS

FERRAMENTAS LITERÁRIAS

quinta-feira, 22 de abril de 2021

CONTO MEMORIALISTA SOBRE BRUXAS - Henrique Schnaider

 

 


CONTO MEMORIALISTA SOBRE BRUXAS

Henrique Schnaider


Na minha infância, era um menino peralta, juntamente com o meu amigo Carlos Azolini, pois no bairro onde nasci, as pessoas eram ou de descendência italiana como o Carlinhos, ou judeu como eu.

Nós dois aprontávamos muito. Sempre dando dor de cabeça para nossos pais, mas com a ingenuidade de crianças, acreditávamos em histórias de fantasmas, da mula sem cabeça e do saci Pererê de uma perna só fumando seu cachimbinho e que chegava num rodamoinho de vento.

Bastava a empregada da minha mãe sentar-se com a gente e lá vinham as histórias assombradas que nunca vou saber se ela mesma acreditava.

Certo dia a Maria veio cheia de teretetê e começou a contar para nós sobre a vizinha, que morava num barraco, na entrada da oficina mecânica do senhor Felício. Deixou-nos cheios de pavor, contando que a mulher que morava ali, na verdade era uma bruxa.

Disse a Maria, que ela tinha um tacho enorme de água fervente que estava sempre no fogo. Segundo ela, já havia várias crianças que sumiram da região e que os boatos que rodavam soltos no bairro, é que elas haviam sido raptadas pela bruxa, assadas e devoradas por ela.

Criança é criança, pois a gente morria de medo, mas o espírito de curiosidade e peraltice nos levava a fazer molecagens. Um atiçando o outro, lá íamos eu e o Carlinhos bater na porta do barraco e pernas para que te quero. Insatisfeitos começamos a atirar pedras na porta da bruxa.

A tal da bruxa se encheu e veio reclamar justamente com a Maria. Falou cobras e lagartos para ela e ameaçou dar queixa na delegacia. Enquanto isso eu e o meu amigo dentro de casa tremendo de medo.

Depois que a mulher foi embora, a danada da Maria veio procurar a gente e pôs fogo no caldeirão, disse para a gente que a bruxa estava ameaçando que ia nos pegar num momento de distração e levar-nos para dentro do barraco e assar a gente no tacho fervente.

É evidente que a Maria estava inventando toda aquela história, pois queria na verdade se divertir às nossas custas.

Que saudades daquele tempo de inocência e peraltices, e da Maria que enchia nossa vida de histórias assombrosas. Mas no fundo eu e o Carlinhos adorávamos a malandra da empregada. Como diz o velho ditado espanhol “Yo no creo en las brujas, pero que las hay, hay” .

Quanto a nossa bruxa vizinha, nunca se provou nada contra ela e realmente era apenas pura fama e maledicência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

DEIXE AQUI UMA MENSAGEM PARA O AUTOR DESTE TEXTO - NÃO ESQUEÇA DE ASSINAR SEU COMENTÁRIO. O AUTOR AGRADECE.

As Meninas da Casa Verde – CAITANA - Adelaide Dittmers

  As Meninas da Casa Verde – CAITANA Adelaide Dittmers   Caitana, a mais velha das meninas da Casa Verde, muito religiosa e sóbria, er...