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quinta-feira, 4 de março de 2021

Chapeuzinho Vermelho travessa - Adelaide Dittmers

 


Chapeuzinho Vermelho travessa

Adelaide Dittmers

 

Era uma tarde fria de inverno.  Em uma bela casinha pintada de branco com janelas vermelhas, rodeada por um charmoso jardim, onde cresciam várias flores multicoloridas, que se entremeavam com os vários tons de verde da vegetação, morava um casal e sua filha, que era chamada de Chapeuzinho Vermelho, porque adorava uma capinha com capuz em um tom bem vivo dessa cor.

A menina era a única filha e talvez por isso era muito mimada.  Todas as suas vontades eram prontamente atendidas.  Em consequência disso, era birrenta, autoritária, malcriada e muito desobediente. 

Nesta tarde, a mãe de Chapeuzinho estava na cozinha arrumando uma cesta com bolo, pães, geleia, frutas e outras guloseimas, pois sua mãe estava doente e não podia se levantar da cama para se alimentar.

Enquanto isso, a travessa menina se divertia correndo pela casa, atrás de Pipoca, um gatinho adotado por elas, que era carinhoso e alegre.  Em suas correrias procurava atormentar o pobre bichinho, puxando-lhe o rabo.  Pipoca tentava fugir e miava pedindo ajuda, até que conseguiu se esconder e ela finalmente desistiu da perseguição.

A mãe começou a chamá-la, mas só depois de algum tempo, Chapeuzinho apareceu na cozinha para saber o que ela queria.

— O que você quer?  Estou brincando! Reclamou a menina.

—Sua avó está adoentada.  Quero que você leve essa cesta com lanche para ela.

— Não quero ir.  Estou brincando! Gritou meio chorosa a menina. Por que você não vai? É a filha dela!

— Infelizmente você vai ter que ir, sim.  Estou cheia de trabalho e não posso ir agora. E além do mais, vou preparar um jantar para a vovó, que seu pai e eu vamos levar para ela ao anoitecer. A mãe falou com uma voz firme, que era raro usar para a menina.

— Você é muito chata, mamãe!  Não gosto mais de você! Mas pegou a cesta com má vontade e foi em direção à porta.

— Vá depressa e não se distraia no caminho! Gritou a mãe.

A avó vivia do outro lado de uma floresta, que ficava entre as duas casas.

Chapeuzinho entrou na floresta, cantando e dançando. Parava muitas vezes na tentativa de alcançar uma borboleta.  A certa altura um esquilo saiu de sua toca e a menina rapidamente atirou uma pedra no pequeno animal, que fugiu assustado.  Ela soltou uma sonora risada e continuou o seu caminho sem pressa nenhuma. Sentou-se embaixo de uma árvore, abriu a cesta e deliciou-se com um pedaço de bolo.  Depois seguiu o seu caminho, arrancando as flores que encontrava e as jogando no chão.

De repente, um enorme lobo apareceu em sua frente. Ela se assustou e encolheu-se toda.

— Não precisa ficar com medo.  Disse o lobo.  Não faço mal a ninguém. Aonde você está indo?

A menina desconfiada falou:

— À casa da minha avó. Ela está doente. Vou levar essa cesta de comida para ela.

— Posso ir com você?  Perguntou o lobo. Conheço o caminho mais curto.

— Não.  Vamos fazer outra coisa.  Vamos apostar uma corrida. Eu vou pelo caminho mais curto, que você vai me ensinar e você pelo outro caminho porque corre muito mais do que eu.

O lobo gostou da brincadeira e aceitou o desafio.

Separaram-se e cada um seguiu o seu caminho.

 Chapeuzinho começou a andar muito depressa e conseguiu chegar antes do lobo na casa de sua avó.

Bateu à porta e gritou:

— Vovó, sou eu

 Entre minha querida, falou a avó com voz rouca.

Chapeuzinho entrou e aproximou-se da cama da avó.

— Oi, vovó, está melhor?

— Estou um pouco melhor, sim, minha querida.  A gripe me pegou de jeito.

— Trouxe esta cesta para você.  Tem uma porção de coisas gostosas.

— Então vá ao armário, pegue pratinhos e sente-se ao meu lado para comer comigo.

Mais que depressa, a menina correu e trouxe os pratinhos para desfrutarem do lanche.

— Vovó, ainda tem aquela armadilha para pegar os bichos maus da floresta.

— Tem sim, porque às vezes aparecem aqui uns animais perigosos e assim fico segura.

— Espera só um pouquinho. Vou lá fora ver se está armada. E saiu correndo.

Logo achou o grande buraco, onde os animais caiam quando se aproximavam da casa. Estava descoberto e a menina cuidadosamente o cobriu com várias folhas. Sorriu satisfeita e entrou para lanchar com a avó.

Alguns minutos depois, chegou o lobo, que vinha num passo lento, porque era tão bonzinho, que quis deixar a menina ganhar a corrida.

No entanto, quando se aproximou da casa, ¨zapt¨, caiu na armadilha. Muito assustado, chamou pela menina.

— Chapeuzinho, o que está acontecendo lá fora?  Perguntou a velha senhora, preocupada.

— Acho que um bicho caiu na armadilha.  Ainda bem, não é?

— Essa voz eu conheço. É do Peludo, um lobo, que é mais manso do que um cachorro.

— Não, não deve ser não. E continuou a avançar no lanche, que foi feito para a avó doente, indiferente aos pedidos de ajuda do pobre animal.

Nesse momento, um guarda florestal, que sempre passava por lá e muitas vezes entrava na casa para visitar a velhinha, ouviu os chamados do lobo.

— O que está acontecendo aqui? Gritou.

— Estou preso na armadilha.  Me ajude!

O homem se aproximou. Retirou as folhas que encobriam a armadilha.

— Peludo, como aconteceu isso?

— Não sei.  Apostei uma corrida com Chapeuzinho Vermelho e de repente caí aqui.

O guarda coçou a cabeça e disse:

— Ah! Essa menina é endiabrada.  Vive maltratando os animais da floresta. Só tem medo daquele enorme lobo, que anda circulando por aí.

— Verdade.  Ela me confundiu com ele, quando nos encontramos na floresta.

— Tudo bem.  Vou tirá-lo daí.  Arranjou uma madeira larga e forte e a colocou dentro do buraco, como uma rampa.  Jogou uma corda para o lobo, que, na ponta tinha um laço e com destreza enlaçou o pescoço do animal e com muita delicadeza foi puxando-o para fora do buraco.

O lobo lembre-lhe as mãos, agradecido. E o guarda falou.  Agora vamos dar uma lição nessa menina danada.

Bateu à porta da casa e Chapeuzinho veio atender.  Sua boca estava toda lambuzada de doces. Levou um susto quando viu o homem.

— O que você está fazendo aqui? Perguntou zombeteira, tentando demonstrar calma.

— Por favor, Chapeuzinho Vermelho, venha até aqui. 

E levou-a até a borda da armadilha. 

— Sente-se na borda desse buraco. Quero lhe mostrar uma coisa.

A menina assustada obedeceu.

— Onde está o lobo? Perguntou ela.

— Ah! Então você confessa!  Empurrou o pobre coitado aí para dentro.

— Eu só queria brincar!!

— Pois então, vamos continuar a brincadeira. O guarda a empurrou e ela deslizou pela rampa de madeira. Ele retirou a rampa.

— Agora você vai ficar aí para aprender a não maltratar os animais.

A menina começou a chorar desesperadamente.

— Me tire daqui!  Me tire daqui!

Não, você vai ficar aí por um tempo para nunca mais fazer mal a nenhum animal.

O lobo estava escondido atrás de uma moita com muita pena da garota.

O guarda chamou-o e os dois entraram na casa da velhinha, que, muito ansiosa, queria saber o que estava acontecendo.

O homem contou-lhe o que aconteceu.  A senhora passou a mão na cabeça de Peludo.

— Pobrezinho! Disse ela com tristeza.  Minha netinha é muito levada.  Ela merece o castigo. Mas não a deixem muito tempo presa.  Apesar de tudo é uma criança e eu a amo muito.

— Não vamos deixá-la muito tempo lá, mas ela precisa aprender a lição.  E começou a conversar com a avó de Chapeuzinho.

Lá fora, a menina chorava e falava:

— Me tirem daqui.  Prometo ser boazinha daqui por diante.

A avó, com os olhos, implorava para o homem tirar a menina do buraco.

Ele sorriu para ela. E concordou.

Está bem!  Estou vendo que a senhora está aflita.  Acho que o castigo já foi suficiente.

E saiu com o lobo para resgatar Chapeuzinho Vermelho.

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