A VIZINHANÇA
Alberto Landi
Quando mudei do apartamento para
uma casa, foi porque estava procurando um lugar espaçoso, tranquilo e seguro
para se viver.
Encontrei esse paraíso em uma vila
próxima, romântica cheia de flores. A princípio observei que os vizinhos não falavam
entre si. A vizinha da direita, geminada
com minha casa, era sisuda e implicante.
Não permitia nem mesmo estacionar o
carro à porta de sua casa mesmo sem ter a guia rebaixada. Quando alguém o fazia, ela riscava o carro
com um prego. Tentei de todas as maneiras me aproximar, mas não houve
reciprocidade.
As paredes das casas eram finas e
assim pude aos poucos conhecer os membros da família pelas vozes.
Um dia, estava fazendo compras
quando fui abordado por uma senhora, me solicitando ajuda para carregar suas
sacolas explicando que de uma forma estranha havia dado um mau jeito na coluna
e não estava conseguindo andar direito.
Claro que me prontifiquei em ajudá-la
e ao chegar em sua casa me agradeceu muito, mas bastante surpresa, descobriu
que éramos vizinhos. É claro que eu já sabia,
reconheci sua voz.
A vizinha da esquerda que nunca vi,
tinha uma voz doce e triste. Às vezes a ouvia chorando, e uma voz masculina
forte e autoritária discutindo ou gritando!
Passados alguns dias não ouvi mais
vozes, nem movimento. Observei também que as plantas da frente da casa estavam
murchas. Fiquei preocupado, e relatei o fato a um posto de bombeiros. Eles foram até a casa e estranharam, porque havia
latidos desesperados de um cachorro.
Arrombaram a porta e a encontraram
sentada no sofá, televisão ligada, falecida há alguns dias e o cão latindo tentando
avisar os vizinhos!
Foi muito triste! Acredito que
serviu de lição a todos os demais, pois temos sim que preservar as amizades, o
convívio com amigos, parentes e vizinhos. Mesmo sendo aparentemente diferentes
ou estranhos ao nosso modo de ver.
E o cão, mais “humano” que todos
nós, só falta falar, tentou ajudar da forma que podia, pois sabia que alguma
coisa estava errada e quem sabe a vizinha morta por falta de socorro, tivesse
sobrevivido.
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