PAIS
ADOTIVOS LEGAIS!
Dinah
Ribeiro de Amorim
Bento
e Rogério, amigos inseparáveis, levam a filha adotada à escola. Aos seis anos,
já vai frequentar o primeiro ano, menina precoce e muito inteligente, quase
alfabetizada.
Orgulhosos
e preocupados, percebe-se o carinho que sentem pela menina Luiza, que caminha
entre os dois, ansiosa para conhecer a nova professora. Não os chama de pais,
mas de tios, embora more com eles.
Os
amigos a adotaram uns cinco anos antes, após salvá-la de terrível acidente em
estrada, um capotamento de carro, que se incendiou rápido.
Conseguiram
tirá-la, ainda bebê, presa na cadeirinha do banco de trás, aos berros. Os pais,
inconscientes, morreram na explosão. Mal
deu tempo de eles correrem e se salvarem.
Essa
tragédia deixou-os em choque por muitos meses, não sabendo direito o que fazer
com a criança pequena e com dó de entregá-la a estranhos. Segundo a polícia, só
havia uma avó materna ainda viva que, com o sofrimento dessa perda, ficou sem
condições de educar a neta, interna em casa de repouso.
Inexperientes,
os dois amigos resolvem recorrer ao Juizado de Menores, explicar a situação e a
vontade de adotá-la.
Assim
a pequena Luiza cresceu, amada e criada, com dois papais ou titios.
Logo
no primeiro dia de aula, as crianças notam que vem à escola com os dois amigos
e, sem a mãe, como todas elas. Estranham e começam a observá-la, curiosos.
Luiza
já começa a se destacar dos outros alunos. Desperta a curiosidade dos
coleguinhas que perguntam, várias vezes, se não tem mãe ou qual deles é seu
pai?
A
menina, desembaraçada, responde que foi criada por eles, mas, realmente, não
conheceu os pais, chama-os de tios. Descobre nela atenção sobre eles, como veio
ao mundo e acabou sendo criada por Bento e Rogério. Demonstra não saber nada
sobre o acidente.
Os
dias passam alegres na escola, com Luiza, que é a mais inteligente e capaz.
Torna-se líder da criançada nas atividades escolares e brincadeiras.
Às
vezes, volta para casa, meio quieta, o que não é normal, quando avista os
coleguinhas abraçados por suas mães.
Os
dois amigos, preocupados, sentem que está na hora de contar-lhe a verdade, como
veio viver com eles. Mas compreendem que terá um grande choque. Não está
preparada para isso. Sentem a sua necessidade de saber sobre os pais,
principalmente da mãe, quando toda criança depende da criação e do amor
materno.
A
menina Luiza, somente com eles, não demonstrou essa falta de carinho, mas, no
meio das outras crianças, seus primeiros contatos sociais, começa a manifestar
essa ausência carinhosa comum aos coleguinhas.
O
que fazer? Foram criados longe dos pais, enfrentaram seus problemas sozinhos,
venceram razoavelmente na vida, a ponto de se compadecerem dos problemas
alheios, como aconteceu no caso de Luiza. Mas, falar sobre a ausência dos pais
dela, da falta que faz uma mãe, não sabem como revelar isso a uma menina de
seis anos.
Por
mais que tentem agradá-la, considerá-la como filha, não conseguem substituir o
amor do pai e da mãe verdadeira.
Após
conversarem e meditarem sobre o assunto, resolvem pedir o auxílio da irmã de
Bento, casada, com três filhos, para orientá-los como agir como verdadeiros
pais e explicar à menina o porquê está com eles.
Carolina,
a irmã de Bento, compreende logo a situação e já previa que teriam problemas
nesse sentido. Percebia, achando graça, como agiam com Luiza, tratavam-na como
se fosse um homenzinho, fazendo-a participar da vida deles. Vestiam-na com
roupas esportivas, levavam-na a jogos ou a brincadeiras de meninos, não era
tratada como uma menina delicada e sim como eles gostariam de ser tratados na
infância. Isso chamou a atenção dos dois amigos, que creram nas verdades que a
irmã de Bento falava. Precisavam mudar de atitude em relação à Luiza, se
quisessem que fosse feliz como menina e, mais tarde, como mulher.
Queriam
o bem dela e pretendiam mudar o comportamento. Contavam com Carolina, para
isso.
Incentivam
Luiza a passar uns dias de convivência com a tia Carolina.
—
Por que isso? Pergunta a menina.
—
Gosto de viver com vocês. Acho que vou acabar brigando com os primos. E é mais
longe da escola.
Bento,
entristecido, responde que é só por uns tempos, para a tia ensiná-la melhor
como se vestir, brincar com sua filha, ter mais amiguinhas.
Luiza,
conformada, quando fala em brincadeiras e ter mais amigos, concorda. Gosta de
se socializar.
Realmente,
na casa da tia, a menina começa a se divertir e gostar. Brigam um pouco também,
comum na criançada, mas sente-se bem e é tratada como uma prima querida ou
filha pela tia, que lhe oferece carinhos iguais aos filhos. Sentia falta de uma
mãe!
O
tempo passa e Luiza sente, às vezes, saudades de Bento e Rogério, o mesmo
acontece também com eles. Parece que perderam uma filha, de verdade.
Carolina
começa a levá-la a escola e faz amizade com outras mulheres, mãe dos
coleguinhas.
Logo
Luiza começa a receber muitos convites para festinhas e brincadeiras. Vem a
preocupação da tia em ensiná-la a se vestir, comprar vestidos e sapatos de
moda, criar na menina um pouco da vaidade e dos costumes sociais, o que não
sabia com os tios.
O
carinho de Carolina começa a transparecer na alegria de Luiza.
Começa
a amar a tia como mãe de verdade.
Numa
noite, acorda assustada, tem um sonho estranho e chama a tia, que, preocupada,
corre a atendê-la. Encontra-a chorando.
— O
que aconteceu, Luiza? Está sentindo alguma dor?
—
Não, responde à menina, sonhei com uma mulher bonita, meio estranha, longe,
parecia me chamar, mas não consegui ouvir. Senti grande tristeza ao vê-la.
—
São sonhos Luiza, vai ver comeu alguma coisa que fez mal, ontem, responde
Carolina.
—
Não sei, tia, parece que ela me conhece! Só não sei de onde! Responde Luiza.
Carolina,
pensativa, acha melhor conversar com Bento. Será que é a primeira vez que
acontece isso? Pensa.
Na noite
seguinte, Luiza sonha novamente com a mesma mulher bonita, chamando-a e,
assustada, vai dormir com a tia.
Vem
à cabeça da menina, curiosidades a respeito de sua mãe! Começa a interrogar a
tia quem foi sua mãe, de verdade.
Diante
disso, Bento e Rogério são chamados e contam a verdade para a menina. Os pais
morreram num acidente de carro e, só ela conseguiram salvar. Passavam por uma
estrada e viram quando o carro capotou. Como não tinha mais ninguém que a
cuidasse, resolveram adotá-la como filha, encantados por ela e amando-a muito.
Luiza
permanece em silêncio, um pouco chocada; fica quieta por vários dias, sem
grandes manifestações. Até a escola, que sempre gostou, não mudou a tristeza e
quietude. Parecia outra menina.
Os
sonhos pararam e, com o tempo, Luiza manifestou grande saudade dos tios. Pediu
para voltar à casa deles. Já sabia muitas coisas sobre meninas e,
principalmente, a quem deveria amar e agradecer.
Despede-se
da tia Carolina, uma tia – mãe mesmo e, volta, aos dois papais ou titios que a
vida lhe deu.
Amadurece,
consciente dos problemas que teve. Nunca mais aconteceram sonhos estranhos.