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sexta-feira, 21 de novembro de 2025

O último encontro - Alberto Landi



O último encontro

Alberto Landi

 

Paris dormia sob uma chuva fina. O relógio da Madeleine marcava 10 horas quando Isabel subiu apressadamente as escadas do Hotel Bedford.

As velas tremiam no corredor, e o som dos passos dela parecia ecoar entre as sombras, como um presságio do que estava por vir. O ar trazia um leve aroma de cera e saudade. Cada passo parecia apagar uma lembrança até que restou apenas o som distante de duas almas prestes a se reconhecer ou se perder de vez. O pai estava deitado, olhos semicerrados, respiração curta. Por um instante ela hesitou, fazia tempo desde o último olhar entre os dois. Aproximou-se e o silêncio pareceu se curvar diante daquele reencontro que era também uma despedida.

No quarto D. Pedro como sempre, envolto em livros e papéis, e ao vê-la sorriu com a serenidade de quem já compreendia o destino.

— Minha filha, o Brasil ainda vive em você. - Murmurou.

Ela se ajoelhou ao lado da cama e segurou-lhe as mãos, frias, mas firmes.

Conversou sobre o neto menor, das flores do jardim do castelo D´Eu, das cartas que chegavam de antigos amigos.

Ele escutava em silêncio, o olhar distante, como se as lembranças do Rio de Janeiro passassem diante dos olhos, o Paço, o povo, o mar.

— Pai... O senhor sente ainda saudade?

— Saudade não, minha filha... Sinto gratidão. Tive um povo bom, fui imperador de almas gentis.

Um longo silêncio caiu. Isabel emocionada tirou do bolso um pequeno pano de linho, um fragmento da bandeira imperial, bordado por ela antes do exílio e colocou sobre o peito do pai.

— Para que o senhor nunca esqueça o Brasil.

Ele sorriu pela ultima vez.

— Nunca esqueci. E quando eu partir direi a Deus que o Brasil é belo.

As velas se apagaram quase juntas.

Lá fora, Paris seguia seu curso indiferente, mas eterna.

Dentro do quarto o imperador adormecia em paz, e a princesa ajoelhada compreendia que a história não morre, apenas muda de endereço.

E naquele instante o passado enfim descansou!


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