O último encontro
Alberto Landi
Paris dormia sob uma chuva fina. O relógio da
Madeleine marcava 10 horas quando Isabel subiu apressadamente as escadas do
Hotel Bedford.
As velas tremiam no corredor, e o som dos passos
dela parecia ecoar entre as sombras, como um presságio do que estava por vir. O
ar trazia um leve aroma de cera e saudade. Cada passo parecia apagar uma
lembrança até que restou apenas o som distante de duas almas prestes a se
reconhecer ou se perder de vez. O pai estava deitado, olhos semicerrados,
respiração curta. Por um instante ela hesitou, fazia tempo desde o último olhar
entre os dois. Aproximou-se e o silêncio pareceu se curvar diante daquele
reencontro que era também uma despedida.
No quarto D. Pedro como sempre, envolto em livros e
papéis, e ao vê-la sorriu com a serenidade de quem já compreendia o destino.
— Minha filha, o Brasil ainda vive em você. - Murmurou.
Ela se ajoelhou ao lado da cama e segurou-lhe as mãos,
frias, mas firmes.
Conversou sobre o neto menor, das flores do jardim
do castelo D´Eu, das cartas que chegavam de antigos amigos.
Ele escutava em silêncio, o olhar distante, como se
as lembranças do Rio de Janeiro passassem diante dos olhos, o Paço, o povo, o
mar.
— Pai... O senhor sente ainda saudade?
— Saudade não, minha filha... Sinto gratidão. Tive
um povo bom, fui imperador de almas gentis.
Um longo silêncio caiu. Isabel emocionada tirou do
bolso um pequeno pano de linho, um fragmento da bandeira imperial, bordado por
ela antes do exílio e colocou sobre o peito do pai.
— Para que o senhor nunca esqueça o Brasil.
Ele sorriu pela ultima vez.
— Nunca esqueci. E quando eu partir direi a Deus que
o Brasil é belo.
As velas se apagaram quase juntas.
Lá fora, Paris seguia seu curso indiferente, mas
eterna.
Dentro do quarto o imperador adormecia em paz, e a
princesa ajoelhada compreendia que a história não morre, apenas muda de
endereço.
E naquele instante o passado enfim descansou!