CRIANÇAS VIVEM UMA NOVA AVENTURA!
Dinah Ribeiro de Amorim
A Rua Vitorino era
conhecida pelo grande número de crianças que lá viviam. Várias casas
residenciais, famílias numerosas, a animavam e movimentavam os dias.
As brincadeiras atraíam
as crianças, que passavam o dia nas calçadas, quase sem entrar em casa
Muito levadas, metiam-se
em várias aventuras, causando algumas preocupações aos pais, mas, geralmente,
eram sossegados, quando as viam sempre juntos. A única advertência e proibição
era para não fugirem ao parque deserto, na rua detrás, perigoso e desconhecido.
Muito cheio de mato,
árvores copadas, vazio ainda de construções, poderia ter algum bicho estranho
ou andante desocupado e desconhecido, perigoso, principalmente para crianças.
Às vezes, alguns barulhos aconteciam nas noites, sem saberem ao certo se eram
de gente ou bicho.
Melhor não chegarem nem
perto.
Fora isso, as crianças
brincavam e se divertiam com muita graça e aventuras.
Marcinha, a mais nova, de
nove anos, apenas, era a mais novidadeira. Vivia sorrindo, fazendo imitações e
gracejos, balançando o corpo e movendo o rosto salpicado de sardas até no
nariz. Quando corria, suas tranças ruivas, feitas pela mãe, com esmero, toda
manhã, se desfaziam, desmanchadas pelo vento, ao final do dia.
Numa tarde, a criançada
inventou de brincar de esconder e Marcinha, muito curiosa, achando-se a mais
esperta, cismou de se esconder no parque. Sabia que não seria achada, todos
tinham medo de ir até lá. Sentia-se a mais corajosa.
Vai se embrenhando
naquele mato proibido e procura uma árvore de tronco grosso para se esconder.
De repente, para
assustada, percebe o corpo de um homem deitado no chão, escondido atrás da
árvore. Não sabe se dorme ou caiu e, como não se mexe, procura chegar mais
perto.
Avista um sangue escuro
que lhe escorre do pescoço e, paralisada, dá um grito forte de socorro.
As outras crianças, ao
ouvirem, também correm para lá e avistam esse homem que aparenta estar morto.
Paulinho, o mais velho,
corre a chamar o pai e avisa-os para não chegarem muito perto do homem. Não
sabem o que aconteceu.
A polícia é chamada,
peritos isolam a área e levam o homem, já velho, ao hospital. Tentam estancar o
sangue do pescoço, que jorra de uma veia.
Ele é colocado numa maca
e recebe os tratamentos de praxe, enquanto as crianças são interrogadas,
Marcinha, principalmente, sobre o ocorrido.
Mal sabem falar direito o
que viram e o susto paralisa até os seus movimentos. Todos quietos, sentados na
calçada, assustados e pensativos, imaginam as piores coisas. Em suas mentes
entram agora as histórias tristes que leram nos livros ou assistiram nos filmes
de aventuras, com monstros, bandidos e fantasmas.
Os pais, preocupados,
querem repreendê-los, mas, se não tivessem visto o que viram, como o velho
teria sido achado? Ficaram em posição difícil e com dó das crianças pela
brincadeira ter acabado mal.
À noite, todas as
crianças dormiram no quarto dos pais. Estavam sonolentas, mas amedrontadas,
nunca haviam visto, na realidade, uma pessoa morta ou caída, com algum
ferimento.
Na manhã seguinte, vários
policiais percorrem o parque, estudando seus esconderijos e possíveis cavernas.
Nada encontraram, a não ser alguns filhotes de lobos, escondidos atrás do
bosque. Com certeza, os pais saíram à caça.
Levaram-nos ao zoológico
e avisaram os pais que o homem apresentou, no hospital, sinais de mordidas de
lobo, principalmente no pescoço, mas não chegou a morrer. Estavam tentando
recuperá-lo.
As crianças, quando
souberam disso, ficaram menos temerosas, aliviadas por não haver um crime, mas
cientes de que os pais têm sempre razão. O parque tinha lobos e o atacado
poderia ter sido um deles. Marcinha não sabe se fez um bem ou um mal, mas na
dúvida, ninguém mais brincou na rua Vitorino, por um bom tempo.
O parque logo
desapareceu, com construções novas e jardins, e o homem, que quase morreu,
aparece, ocasionalmente, para agradecer.
Todos o tratam bem, só
Marcinha, que ainda foge quando o avista.