Essas festas...
Cida
Micossi
— Eu
sei de tudo.
—
Tudo o quê?
—
Mãe, não me engana.
—
Mas, filho, não tenho nada que enganar a você ou a quem quer que seja.
—
Tá. Pensa que acredito? Descobri tanto... descobri tudo. Tudinho!
— Ah, não... não me venha com insinuações!
—
Seja franca, não se omita! Você nos ensinou a agir sempre francamente.
Os
olhos ardiam, o suor fazia com que ela se sentisse encharcada, enquanto uma
tremedeira lhe dava a sensação de estar fora de seu corpo físico.
Continua:
—
Estão dizendo que no encontro de comemoração do aniversário de sua formatura
vocês apelaram, saíram do sério e a bagunça rolou solta. Tantos idosos
aprontando, querendo agir como jovens, ah, mãe, que vergonha. Nunca imaginei
que justamente você fosse me fazer pagar esse mico. Algumas de suas amigas
estão desesperadas com a repercussão do evento e não podem voltar atrás. Elas
postaram uma mensagem se desculpando. Você, mãe, deveria se lembrar de que,
atualmente, a internet é terra de ninguém. Como pôde? Como puderam? Caiu lá,
está perdida. Tantas vezes eu avisei...
Ela
teve a sensação de estar afundando no solo, parecia que o chão se abria para
engoli-la, ao mesmo tempo em que sentia-se levitar. Nenhuma das sensações havia
experimentado antes e isso a aterrorizava.
***
Olhos
arregalados, cabelos desgrenhados, sentou-se na cama: o filho e a nora, na
porta do quarto, perguntavam se ela estava bem, se precisava de algo, pois eles
tinham escutado alguns sons estranhos vindos do quarto dela.
Pegou
o relógio: seis horas da manhã.
Enxugou
o suor. Recompôs-se.
Virou-se
para o outro lado e viu, aliviada, sobre a poltrona do quarto, o vestido novo
estendido, esperando para ser usado na festa do aniversário de formatura, na
tarde do dia que acabara de raiar.