O MISTÉRIO DE PADRE AUGUSTO.
Do
Carmo
Em
uma pequena cidade do interior paulista, corria um boato muito estranho a
respeito do pároco da igreja matriz, uma figura controversa, por conta de sua
atitude taciturna, discreta, séria, porém solícita e sempre presente quando
necessária: Padre Augusto, seu nome.
Há
bastante tempo que as senhoras carolas, frequentadoras assíduas e obedientes a
Lei Divina, comentavam com certa malícia, sobre um fato intrigante praticado
por tão sóbrio senhor.
Pontualmente
as portas da igreja eram fechadas e toda s as luzes apagadas, por volta das
vinte horas, demonstrando que o padre Augusto estaria recolhido aos seus
aposentos, que ficavam atrás da igreja.
Assim
apresentado, as “carolas” eram faladeiras, pois muito natural era a conduta do
padre.
Contudo,
uma dessas respeitadas senhoras, de língua comprida, era mãe de uma professora
de alfabetização de adultos, da escola municipal, cuja aula terminava entre dez
e dez e meia da noite. Ela estava sempre acompanhada por alunos.
Certa
noite, de inverno molhado, resolveu terminar a aula mais cedo, pois o frio era escuro
e o ar alfinetado de umidade. Caminhavam a passos rápidos e subidamente, qual o
espanto de todos, quando viram garbosamente o padre Augusto, acompanhado de
alguns jovens, mais ou menos doze, entre meninos e meninas, entrarem
sorrateiramente em uma casa totalmente as escuras.
Pararam
atônitos. Os boatos tinham fundamento? O que significava aquela atitude? O que
iria fazer com aqueles jovens? A professora foi a primeira que teve uma escaldante
idéia para desmascarar o sórdido padre.
Abriu o portão e com toda força feminina que
possuía, esmurrou a porta que se abriu totalmente e marchando ferozmente,
entrou em uma cozinha, fartamente iluminada e parou estupefata diante de uma
grande mesa preparada para um jantar para mais mais de trinta andrajosos
convidados, que iriam receber das mãos abençoadas do padre Augusto, uma
suculenta sopa, com pãezinhos quentes, carne com batatas, arroz e sobremesa de frutas.
Todos
estavam assustados com a invasão desbaratada da professora, que sempre serena,
estava totalmente irada. Envergonhada dos maus pensamentos quer tivera naqueles
rápidos minutos, tenta desculpar-se, mas foi interrompida pelo sorridente
padre, que calmamente e com um sorriso vitorioso nos lábios, diz :
-
A senhorita e seus acompanhantes aceitam sentarem-se conosco e saborear um
prato deste delicioso jantar, que toda noite com carinho fraterno, é feito por estes meus jovens amigos de coração e fé?