VENDA
E COMPRA DE SENTIMENTOS
Hirtis Lazarin
A menina franzina nasceu de um parto doloroso.
Poucos acreditavam que vingaria.
Os pais fervorosos e devotos de Santa Terezinha do
Menino Jesus, deram-lhe o nome da santa.
Milagre ou não, depois de um mês de internação,
chegou em casa coradinha e esperta.
Acolhida num cestinho de vime, cresceu entre flores
e cores.
Os pais tinham uma pequena floricultura,
arranjada num dos cômodos da casa humilde e, no quintal espaçoso, cultivavam
ervas, verduras e um canteiro só de flores. Sobreviviam com a venda
desses produtos.
Terezinha cresceu curiosa e criativa além da
conta. O vocábulo que mais usava era o pronome interrogativo por que (?).
Ajudava os pais com prazer. Trabalhava cantando.
Era o rouxinol da rua Plínio Rodrigues de Moraes. E bem cedo,
descobriu que trabalhar com flores era o que faria, provavelmente, pro resto da
vida.
Preparou-se sempre. A internet foi sua grande
aliada. Estudou pra se tornar a melhor vendedora, oferecer o melhor
produto e, o mais importante, valorizar o cliente e estabelecer conexão
emocional com ele.
Só não podia pôr em prática tudo que sabia, porque
os pais não entendiam esse jeito novo de trabalhar.
Mas a morte prematura do pai antecipou seus planos.
Modernizou a mobília da loja, trocou o toldo puído
por outro colorido, aumentou o estoque de flores e se aprimorou na montagem dos
arranjos.
Foi ousada. Iniciou a cultura de abelhas
porque aprendeu que elas exercem papel importante na polinização e garantem
maior qualidade aos alimentos. Seria ótimo pra as plantinhas do quintal
As abelhas atraíram borboletas que atraíram outros
pássaros além daqueles que já moravam no jequitibá que sombreava o
quintal. Virou uma festa.
Terezinha sabia que a criatividade por si só não
basta. Era necessário inovar. Inovação é criar coisas novas.
E a cabecinha inteligente pôs-se a funcionar.
Cultivou um pinheiro e abasteceu seus
galhos com cartõezinhos. A cada compra o cliente tinha o direito de
escolher um deles. Cada um era uma surpresa. Podia ser um botão de
rosa, um punhado de ervas fresquinhas colhidas no quintal, uma mensagem
positiva, um ramalhete gratuito, ou até não pagar a conta.
Era nessa hora que a emoção do cliente se
aflorava. Era alegria, perplexidade, surpresa, satisfação, curiosidade ou
risos. Era possível ver o que cada um sentia. Através do seu jeito de
fazer marketing, Terezinha vendia emoções.