TEMPOS MODERNOS DA BUROCRACIA
M.luiza
de C.Malina
A
tecnologia avançada, o foguete, o celular, Google, toda a modernidade não
serviu para facilitar nada, ao contrário, veio para dificultar toda a nossa
vida que era mansa e previsível.
Pagar
uma conta, por exemplo. Meu Deus! Sim, só clamando Ele para que permita que
nossa paciência não se evapore, como a pouca água nas ressecadas represas.
Alguém
vai dizer, coloca suas contas em débito automático! Débito automático, jamais! Deste
mal já me livrei. Sou mais a moda antiga. Mas, para não me passar por tão
antiquado, aceito o uso da internet, que tem lá os seus cuidados.
Muito
bem. Aí vem a “coisa”. Viajei, viajei bem. O pensamento de quando retornar
acerto tudo, não é seria problema. Vou pagar os juros que provavelmente virão
na próxima conta.
Lá
fui eu ao Banco mais popular da cidade pagar a tal conta, conforme instruções.
-
Senhor, desculpe não posso receber e nem calcular a multa.
Pareceu-me
engano, já que estava eu no Banco Popular para pagar uma conta cujo boleto é do
próprio Banco Popular.
-
Senhorita, a multa virá na próxima conta, está escrito aí.
A
caixa olha para o papel, como se estivesse frente a um marciano e arguiu:
-
Senhor, o Banco não possui caixa habilitado a fazer este tipo de cobrança, use
a Internet.
-
Srta. Eu preciso pagar isto! Estou aqui justamente porque, o título está
vencido e a Internet não o recebe, fui orientado a vir direto ao caixa do Banco
Popular, pela própria empresa, digo, pela atendente computadorizada. E, aqui
estou.
-
Sinto muito senhor. Tente pagar esta conta no Supermercado LevaFour até às
19:00 horas, uma vez que eles possuem caixa de cobrança.
Desanimado,
lá fui eu, pensando pelo caminho. A que ponto chegamos! Um supermercado recebe
o boleto de um Banco Popular. E, o que faz este Banco, apenas recebe e lucra
com os clientes?
Bem,
acredito que vou guardar o dinheiro no colchão.
No
LevaFour.
Quantos
caixas e que fila! Bem, é melhor perguntar
se isto está certo, se posso pagar aqui.
-
Sim. O senhor pode dirigir-se a qualquer caixa. Incrédulo, lá estava eu,
apresentando meu boleto ao caixa.
-
O que o senhor deseja?
-
Pagar esta conta – outra que olha o papel como se estivesse decifrando uma
análise de urina.
-
Não posso receber. O senhor precisa ir ao Banco Popular.
Minha
paciência estava pedindo muletas ao Deus.
- SenhoritAA! Acabei de chegar do Banco e fui
orientado a pagar neste local, porque eles não tem caixa de cobrança.
-
Ora, senhor, se o senhor esteve lá, por que eles não cobraram ou calcularam a
multa? - minha paciência estava no limite de olhos esbugalhados e boca
salivando. Era mais uma que estava analisando letras que não conseguia
entender.
- Sem
oras, minha filha, aqui está escrito que a multa virá na próxima conta. – disse
batendo o indicador no papel sobre a informação - Por favor, é só receber. Aqui
está o dinheiro, uma nota sobre a outra, não tem sequer troco.
-
Ah! Um momento. Vou apertar o botão, a luz vai acender e a gerente já vai
chegar.
Enquanto
isto a fila crescia e via os clientes resmungando e virando bocas,“principalmenteaqueestavaatrásdemimquejáhaviadescarregadotodooocarrinho”.
Eu
já estava no limite.
Mais
uma pergunta, uma só, acredito que me transformaria em “Hulk”.
Para
minha surpresa, a gerente chega mais rápido do que eu pensava, deslizando
corredor afora em cima de patins, equipada com um belo capacete. Ouve, dá clique, e ordena:
-
Pode receber o valor que está aí. A multa virá na próxima conta. Você deveria
ter lido as instruções. – Sem mais nenhuma palavra, retorna ao seu deslize
levando minhas nuvens no embalo dos patins.
A
verdade é que você cai numa rede, tal qual um peixe e não consegue sair, nem
sequer comprar um McInfeliz, se o sistema cai.
A
burocracia é que deveria estar sobre os patins, porque eu, pobre eu, já estava
de patins na rampa, à beira de um colapso.