Henrique Schnaider
Décio era um senhor já nos seus cinquenta anos,
viúvo desde quando tinha quarenta. Levava uma vida pacata sem muito brilho, já
estava perto de se aposentar. Era funcionário público, trabalhava numa função
monótona, na qual sequer tinha alguma chance de se destacar. Era todo dia a
mesma coisa, verificação de papeis carimbar e despachar.
Ele tinha poucos amigos no trabalho. Já era um
sujeito de pouca conversa e assim não dava abertura para que os colegas
tentassem uma aproximação, puxar um papo e tentar saber algo de sua vida.
De segunda a sexta feira era a mesma rotina ele
sempre desanimado, saia do trabalho e passava num parque que havia a caminho de
sua casa. Era o único momento de lazer na vida dele. Caminhava pelas veredas à
sombra de enormes jequitibás e de manacás de um perfume inebriante. O canto dos
passarinhos dominava o Parque, sabiás laranjeiras com seu canto sem muita
alegria. Bem-te-vis tinham um canto forte querendo aparecer mais que todos.
Os bandos de periquitos Tuim e as maritacas, faziam
a maior arruaça encantando ao Décio, que se sentava num banco no meio de todo
aquele alvoroço. Sempre existe um dia na nossa vida que nos dá uma oportunidade
e para ele aquele dia chegou. Uma porta se abriu na vida daquele homem triste e
daquela porta sai uma bela mulher que se sentou ali ao seu lado no banco. Ele
logo reparou que ela tinha uns olhos azuis, coisas de boneca.
A mulher olhou para Décio e logo puxou conversa,
além de bonita, era comunicativa deixando-o com mil campainhas tocando no
coração. Ela perguntou a ele qual era o seu nome e ele respondeu:
— Meu nome é Décio, minha mãe adorava este nome, que
tinha sido do meu avô, eu não gosto muito do nome, prefiro ser chamado de Dé,
mas como é uma homenagem ao meu avô eu aceito. E o seu nome qual é?
— Eu me chamo Monalisa, meu pai adorava este quadro e
resolveu fazer uma homenagem ao pintor dele, Leonardo da Vinci. Eu gosto do meu
nome e acho muito bonito e charmoso.
Enquanto ela falava, Décio não cansava de olhar para
aqueles lindos olhos azuis e falou:
— Você sabe Monalisa, que tem lindos olhos azuis, me
encantei com eles. Ela corou, baixou os olhos envergonhada, tomou um folego e
respondeu:
— Obrigado pelo elogio, você também é um homem muito
atraente e eu simpatizei com você.
Décio sentiu que a eterna noite que era sua vida,
naquele momento viu que o sol estava nascendo, depois de tantos anos de viuvez
no seu coração e timidamente tomou as mãos de Monalisa e lhe disse:
— Acho que os anjos enviaram você aqui hoje para
mudar minha vida para sempre.
E Monalisa se aproximou de Décio ficando bem próxima
a ele e assim permaneceram por horas aproveitando aquele momento que era só
deles.
Os dois não perderam tempo, descompromissados que
eram, depois de pouco tempo foram viver juntos, pois sentiram que foram feitos
um para o outro e iriam ser felizes por muitos e muitos anos.