Helio Fernando Salema
Zezinho ficava eufórico quando via aproximar-se da fazenda
uma carroça.
Imaginava que estava repleta de livros, como o paiol
cheio de milho.
Felicidade maior era ao reconhecer o condutor, seu Nacib.
Corria em direção ao viajante para ser o primeiro a saber do que ele trazia,
embora tivesse certeza de que eram livros e algumas encomendas recebidas quando
da última visita.
Depois ia correndo para dentro da casa e aos berros,
avisava a todos da novidade. Até o cachorro Rex vinha latindo e balançando o
rabo para saudar o esperado senhor, pois este sempre lhe fazia afagos.
Quando todos estavam próximos da carroça, Zezinho ficava
com olhos e ouvidos atentos, pois sabia que era a hora do seu Nacib falar. A
medida que o colportor narrava as histórias de cada livro, ele concentrado
memorizava tudo e prestava bastante atenção na capa do livro. Sempre havia uma que
era a sua história preferida, depois solicitava que comprassem aquele livro
para ele.
As pessoas compravam alguns livros, mas nem sempre era
aquele que o menino queria, apesar da sua insistência. Após realizar algumas vendas, seu Nacib,
experiente vendedor, escolhia um bem baratinho. Narrava com bastante
entusiasmo, deixando o garoto perplexo com a história, em seguida dava-lhe de
presente. Era a recompensa que aquele pequenino esperava e se encantava com ela.
Seu Nacib algumas vezes pernoitava na fazenda, pois sabia
que moradores próximos sempre apareciam no início da noite. Até o Zezinho
costumava sair e avisar em algumas casas.
No momento em que ele ia embora, o menino o acompanhava
com um olhar de tristeza, embora ficasse em seu coração a esperança da nova
visita.
Quando a fazenda recebia visitas, ele fazia questão de
mostrar os novos livros e contava as histórias que ele ouviu e decorou.
O ENCONTRO
Sempre que anunciavam festa em alguma fazenda próxima, o
menino todo dia, bem cedinho, perguntava se era hoje. Com tristeza, ouvia como
resposta… Ainda não. Logo depois vinha novamente a esperança de que falta
pouco… Só um pouquinho. E foi numa festa que ele conheceu Rosinha, uma menina
do seu tamanho que também se encantou pelo olhar do interessado.
Ficou sabendo que Rosinha morava perto do ribeirão,
mostrou-se interessado em pescaria. Sua mãe muito preocupada não deixou. Poucos
dias depois ele descobriu que o seu Calixto, que trabalhava na fazenda, nos
fins de semana pescava depois que terminava o serviço. Insistiu tanto até que
sua mãe concordou e permitiu que ele acompanhasse o seu Calixto, mas com muitas
recomendações aos dois.
Um dia, ao voltar da pescaria, o jovem pescador percebeu
que Rosinha o olhava do quintal de sua casa. Viu na beira do caminho uma
pequena e bonita florzinha, toda branca. Pegou-a e avisou ao seu companheiro:
— Vou falar com minha amiga e volto já.
Seu Calixto, ao perceber que ele tinha uma margarida na
mão, não teve dúvida. Andou alguns metros e ficou parado esperando. Isso foi se
repetindo nos sábados, o que deixava seu Calixto completamente emocionado e
lembrando da época em que ele, ainda muito jovem, conheceu sua futura esposa.
Um belo dia, ao receber a margarida que Zezinho trazia, Rosinha retribuiu-lhe com um cartão. O menino foi para a casa saltitando de alegria.
Era um cartão com o desenho de um coração e alguma coisa escrita.
A sós, em sua casa olhava emocionado para o cartão, até
que uma tristeza o fez ficar abatido. O que estaria escrito? Será que foi ela
quem escreveu?
Na próxima pescaria ele levou o cartão. Quando seu
Calixto falou em ir embora, o menino rapidamente arrumou suas coisas e disse
que iria antes, esperaria pelo companheiro perto da casa da Rosinha. Com o
sorriso do velho pescador, o menino percebeu que assim poderia ser.
Ao chegar perto da casa viu que ela o esperava. Ao
entregar a flor, mostrou o cartão e perguntou se foi ela que escreveu.
Assustada com a pergunta:
— Sim... Você leu?
Ele, sem saber o que responder, abaixou a cabeça e ficou
triste, como uma margarida murcha… Sem vida.
Olhou para a estrada e viu seu companheiro que estava
próximo, disse ter que ir e assim o fez.
A ESCOLA
Assim que chegou em casa foi logo falando para a mãe que
queria estudar. A mãe surpresa, mas muito contente, respondeu que na
segunda-feira iria até a escola falar com a professora. Preocupada em atender a
vontade do filho, antes que ele mudasse de ideia, avisou à patroa e, segunda-feira,
bem cedo, ambos foram ao caminhão do leite até a escola.
Lá chegando, sua mãe perguntou se o seu filho poderia frequentar
as aulas. A resposta não foi a que esperava, embora a Diretora fosse muito
atenciosa:
— Traz a Certidão de Nascimento dele, que efetuaremos a
matrícula.
— Ele não tem documento nenhum. É muito pequeno.
— Sim. Porém, sem a certidão não pode.
— E se ele começar e, depois, consigo o documento?
— Infelizmente… Não.
Assim, com um fardo de decepção nas costas e um vazio de
caverna abandonada no coração, retornaram a fazenda. Ao chegar foram recebidos
por Dona Cândida, madrinha do Zezinho. Ao tomar conhecimento do problema e
diante da tristeza do afilhado, disse que no dia seguinte iria ao Cartório providenciar
o documento.
Dona Cândida tinha muito carinho pelo seu afilhado e filho de sua especial e
única empregada, sua companheira há muitos anos. Desde que ficou viúva, os dois
a faziam companhia. Seu único filho, ainda adolescente, foi morar na capital e raramente retornava à
fazenda.
Quando Dona Cândida subiu na charrete e olhou para a
porta da casa, seu corpo todo se arrepiou.
Seus olhos se encontraram com os do menino, que olhava com um brilho que só mesmo as crianças têm,
uma esperança divina, conseguem emitir um raio tão cintilante.
Aquele olhar fixou a senhora ainda por alguns minutos, mesmo
estando fora do seu alcance, era o pensamento dele em algo necessário para sua
vida agora e futura.
No final da tarde, Dona Cândida retorna e encontra seu
afilhado a espera na varanda. Ao vê-la, fica de pé junto a mureta com o coração
aflito, mas como educado que era, aguardou até que ela entrasse. Ela olha para
o menino e diz que semana que vem ficará pronta a certidão. O dono do Cartório,
esta semana, está viajando. O menino não entendeu e uma expressão de tristeza
demonstrava o seu rosto. Sua madrinha então lhe explicou detalhadamente e,
garantiu que na próxima semana ele irá com ela ao Cartório e assim que pegarem
o documento irão até a escola.
Foi uma semana de expectativa que o deixou na dúvida se no
sábado iria ou não pescar; resolvida quando o seu Calixto o chamou. No caminho,
sentia ainda um pouco de vergonha para encontrar Rosinha e não sabendo o que
dizer se ela insistisse em perguntar se ele leu. Durante a pescaria uma ideia
lhe surgiu. Tirou do bolso o cartão e mostrou ao seu amigo, que elogiou a
beleza do cartão e perguntou se foi ele quem escreveu. Resolveu dizer que não. Então, surpreso, seu
Calixto falou:
— Mas está escrito no coração Zezinho e Rosinha.
O menino, segurando a vara, levanta-se como se sentisse o
fisgar de um peixe. Espera alguns segundos e recoloca a vara onde estava. Olha
para o lado:
— Pensei que fosse um peixe.
Seu Calixto entendeu:
— Também pensei.
Na volta adquiriu coragem, pegou uma bela margarida,
correu até o portão, entregou à menina, que o esperava, e disse que seu amigo
estava com pressa. Assim, retornou antes que ela pudesse falar alguma coisa.
O DOCUMENTO
Finalmente chega o dia tão esperado. Antes de clarear, Zezinho
já estava de pé ansioso para ir ao Cartório conseguir o necessário documento.
Após o café, saiu com sua madrinha todo contente, principalmente por
estar indo de charrete e não no caminhão do leite.
Chegando à cidade foram diretamente ao Cartório e sem
nenhuma dificuldade pegaram a Certidão de Nascimento.
Emoção enorme ao entrar na escola; falar com a Diretora…
Mais emoção. Ver as salas de aula, ser recebido pela futura professora, tudo
isso o deixou entusiasmado, mas nada comparado ao ver Rosinha sentada com
amigas e sorrindo para ele.
Ao sair da escola, a sua maior vontade agora era chegar e
contar tudo para sua mãe. Porém, era necessário comprar cadernos, lápis e um
livro. Dona Cândida aproveitou e o levou a uma loja para ele escolher roupas
novas. Pela primeira vez ele lanchou numa padaria. Compraram outras coisas e
assim chegaram à fazenda só a tarde.
Assim que sua mãe terminou o serviço, sentou-se junto ao
filho e ouviu seu relato com todos os pormenores. A madrinha explicou que no
dia seguinte o levaria até a escola e que nos outros dias ele iria com as
filhas do Sebastião numa charrete grande.
Acordou cedo e após se arrumar, ouviu de sua mãe as
recomendações de como se comportar na charrete e na escola. Mas seus pensamentos estavam longe dali. Assim
que sua madrinha o chamou, foi logo em direção a ela.
Durante a viagem pouco falou, nada perguntou. O silêncio era
a demonstração da imensa emoção interna. Na escola ficou fascinado com tudo;
outro menino perguntou se ele gostava de jogar bola. Sorrindo, respondeu que
sim. Daí começou uma grande amizade, que permaneceu enquanto estiveram na
escola.
Nas viagens de charrete ele conversava um pouco com as
filhas do Sebastião que estudavam em outra sala, eram menores que ele. Rosinha
ia com a pai numa outra charrete.
Durante o recreio, além de jogar bola com os amigos,
algumas vezes conversava com a Rosinha. E nos fins de semana a pescaria com o
amigo e, na volta, levava uma margarida para ela.
Devido a sua idade foi colocado numa turma que já estava
adiantada. Em casa tinha dificuldades de fazer os deveres, mas sua madrinha
sempre o ajudava. Num outro caderno ela passava deveres que ela julgava serem
necessários para ele acompanhar a turma. Ele não reclamava, pelo contrário,
fazia tudo com muito capricho e fica alegre ao receber elogios da madrinha.
Gradualmente as dificuldades foram diminuindo. No final do
ano, conseguiu ótimas notas e passou de ano. Recebeu presentes da mãe e de Dona
Cândida.
Como gostava de desenhar, fazia alguns caprichados para a
Rosinha, sempre acompanhados de belas frases que a deixavam rindo à toa. Além
das margaridas nos finais de semana.
A FORMATURA
Após anos de estudo, finalmente estava chegando ao
fim do curso secundário. Como nos anos anteriores, a escola marcou o dia em que
numa solenidade os alunos, com a presença dos familiares, receberiam o
certificado de conclusão. Alguns iriam estudar em outras cidades que ofereciam o
curso de segundo grau. Não era o caso do Zezinho.
Após o término do ano letivo, a Direção da Escola marcou
uma reunião no salão do Clube, na qual todos os alunos receberiam instruções a
respeito da solenidade que aconteceria no fim de semana. Assim eles ensaiaram
durante horas.
Zezinho notou que Rosinha, de repente, desapareceu. Saiu
pelo clube a procura dela. Atrás de uma árvore a encontrou de beijos e abraços
com um funcionário do clube, conhecido dele. Tudo estava perdido. Saiu e foi
para a rua caminhando sem destino, não considerava voltar para a casa, muito
menos para o clube. Não percebia onde estava, mas também não se importava. Até
que ao esbarrar numa senhora, que quase caiu, ele como se acordasse de um pesadelo,
segurou a mão da senhora, impedindo que ela caísse, pediu desculpas repetidas
vezes. Ela disse estar bem.
Então ele se lembrou
do funcionário da fazenda que estaria na charrete esperando por ele na praça. Foi
correndo e assim que viu a charrete, subiu e ficou aguardando o condutor. Seu semblante era tão diferente que até o
rapaz perguntou se ele estava se sentido bem. Respondeu estar bastante
cansado.
Ao chegar em casa já era tarde da noite. Sua mãe o
esperava para lhe dar a janta e estranhou seu rosto triste. Perguntou o que
aconteceu e ele respondeu estar cansado.
Após jantar resolveu falar para sua mãe, aquilo que
durante a volta para casa muito meditou e que o levou a tomar uma atitude. Foi
calmamente, dizendo que iria para outra cidade a procura de emprego, para poder
continuar os estudos. Pediu para que ela arrumasse suas roupas, pois pretendia, no dia seguinte, ir ao caminhão do leite até a cidade e de lá pegar
o trem:
— Mas… E a festa no fim de semana?
— Mãe… Meu futuro não está na festa. Vou em busca de algo
muito maior. Certamente, está numa outra cidade onde eu possa continuar meus
estudos.
AO ENCONTRO DO DESTINO
Após arrumar a mala, deu a ele o dinheiro que ela
guardara há muitos meses. Perguntou se ele não queria que ela pedisse ao rapaz
para levá-lo de charrete, já que sua madrinha não estava na fazenda e, só
regressaria na outra semana:
— Não é preciso. Assim que eu estiver estabelecido, venho
lhe dar notícias. Por favor, não fala para todo mundo o que eu farei.
No dia seguinte pegou o caminhão do leite. Chegou à
estação, faltando ainda uma hora para a chegada do trem. Durante a viagem foi
admirando a paisagem e percebendo como tantas coisas diferentes existiam e de que
ele nunca tomara consciência.
Poucas horas depois o trem vai chegando àquela cidade de que
ele tanto ouvir falar. Cidade grande, bonita e cheia de gente. Assim que desceu
do trem, foi em direção ao funcionário da estação e perguntou onde ele poderia
encontrar uma pensão. O funcionário lhe
indicou a rua e deu detalhes da casa.
Ao chegar, entrou pelo portão e logo viu uma senhora que
perguntou o que ele queria. Respondeu desejar um quarto por alguns dias.
Quando a senhora lhe perguntou o nome. Por alguns segundos lembrou que já era outro homem:
— José Antônio.
A partir daquele momento deixou de ser o Zezinho.
Após se acomodar no quarto que lhe fora apresentado, foi
até a sala, onde a dona se encontrava e perguntou se ela sabia de algum lugar
onde ele poderia conseguir um emprego. Após uma longa conversa em que ela
indagou sobre o seu passado, deixou-o com uma certa esperança ao afirmar que no
dia seguinte poderia ter uma resposta.
Conforme prometido, aquela senhora que conhecia todo
mundo, assim que José Antônio apareceu para tomar café, foi logo lhe dizendo que na farmácia, em
frente à estação, estavam precisando de uma pessoa para controlar o estoque. No
restaurante, mais adiante, havia vaga para auxiliar de cozinha. Agradeceu,
tomou café e imediatamente saiu e foi até a farmácia.
Lá chegando, procurou pelo Sr. Osmar, que na outra ponta olhou
para ele e já foi perguntando se era o rapaz que estava na pensão. Depois de
uma conversa, sr. Osmar ficou impressionado com o rapaz e resolveu contratá-lo.
Naquele mesmo dia José Antônio começou a trabalhar com muito entusiasmo. Sabia
que o seu desempenho era fundamental para o seu futuro.
Depois de um mês de trabalho teve um fim de semana de
folga. Aproveitou para visitar sua mãe. Chegou no sábado ainda pela manhã.
Ficou na fazenda o tempo todo conversando com ela e sua
madrinha, que demonstrou muita alegria em ver o afilhado adulto e demonstrando
muita maturidade.
No domingo, na hora de ir embora, sua madrinha disse que
iria com ele até a estação. Mandou
preparar a charrete e assim que o condutor disse estar pronta eles se
foram. Ao passar por uma bela casa próxima à estação D. Cândida apontou em
direção àquela propriedade. Seu afilhado olhou e ficou admirado.
Quando na estação estavam só os dois, ela lhe disse que
provavelmente no mês seguinte, ao voltar, ela e sua mãe já estariam morando
naquela casa. Descreveu em detalhes as vantagens dessa nova moradia.
Acrescentou que seu filho viria naquela semana para fechar o negócio. E que ela
já não estava com disposição e idade para cuidar da fazenda. Logo que tudo
estivesse tranquilo na nova residência, colocaria a fazenda a venda. Seu afilhado pensou ser uma boa ideia já que sua
mãe trabalhava muito na fazenda.
Assim aconteceu nos meses seguintes por vários anos. Percebeu que para sua mãe a
mudança para a cidade fora ótima. Ela passou a conviver com as vizinhas,
frequentar a igreja e se reunir com amigas.
Ele trabalhava durante o dia na farmácia e a noite
estudava. Seu desempenho na escola era muito elogiado, os professores diziam
que ele seria um ótimo professor.
Deixou o serviço da farmácia após ser procurado por
várias mães que queria que ele desse aula particular para os filhos. Em alguns dias da semana dava aulas o dia
inteiro. Depois de alguns anos passou a dar aulas na escola no período noturno.
Com o falecimento de sua mãe continuou uma vez por mês
visitando sua madrinha, pois isso a deixava muito contente, principalmente com
as novidades que seu afilhado contava a respeito das mudanças em sua vida.
FINAL
Num fim de semana aconteceu que sua madrinha faleceu no início da noite. No dia seguinte, durante o velório, José Antônio teve
uma surpresa. No cemitério, ao caminhar em direção a um grupo de pessoas
conhecidas, levou um choque ao ver alguém do passado. Tamanho foi o susto que
ficou parado, estático e olhando fixamente para ela. Como Rosinha já o vira e percebeu a situação que ele demonstrava, vai em sua direção.
Estende a mão e lhe dá os pêsames. José Antônio agradece
e continua a contemplar aqueles olhos, que durante muito tempo tocou o seu
coração, emoção esta que não sentia há pelos menos oito anos. Uma menina chega
e demonstrando certa surpresa, fica ao lado de Rosinha e olha, atentamente,
para ele. Alguns segundos de silêncio… Então Rosinha quebra o silêncio:
— Esta é minha.
A menina mais assustada ficou… E em seguida:
— Mãe!… Este é o meu pai?
Silêncio geral… Até que um casal chega para cumprimentar
José Antônio. Rosinha sai com a menina em direção aos seus familiares. Ao ficar
só, ele, sem saber o que fazer, fica desnorteado. Relembrando o passado sem
entender o que aconteceu naquele dia no clube em que ela o trocou por outro mau-caráter
e analfabeto.
Quando poucas pessoas restavam no cemitério, ele consegue
pensar mais claramente na situação e se dirige até onde se encontrava Rosinha:
— Você está casada?
— Não! Num momento de fraqueza, fiquei grávida, e assim
que ele soube, sumiu, e espero que seja para sempre.
— Moro sozinho numa cidade boa e tranquila. Sou professor
na mesma escola em que me formei… Você quer morar comigo?
Antes que ela pudesse responder, a filha chega, ainda
mais assustada, pega a mão da mãe e olha para ele, com um olhar cheio de
ternura. Ele se curva em direção à menina, olha no fundo dos olhos dela e, carinhosamente,
toca em seu rosto:
— Filhinha… Qual é o seu nome?
— Margarida!
José Antônio pega a outra mão da menina e os três saem caminhando,
lentamente, de mãos dadas para o futuro.