Naquele
universo que vivia onde transcorria a vida rotineira, tudo era previsível. O
que acontecerá com Antônio e seus sonhos?
Sua aventura
foi motivada por eles que não cabiam em sua pequena aldeia?
CORRENDO
ATRÁS DOS SONHOS
Claudionor Dias da Costa
Era um modesto agricultor em sua terra arrendada. Este
era o Antonio, vivendo com muitas dificuldades, se angustiava em ver sua Rosa,
esposa dedicada a ele e aos dois pequeninos, frutos de um amor autêntico acontecido
na simplicidade de sua aldeia, se esforçar por aceitar tudo aquilo como se
fosse predestinada.
Não se continha em contar e contar à sua amada os
sonhos de partir para outros lugares buscando vida melhor para eles. Ela ouvia
olhando para o vazio, sem murmurar uma palavra.
Enquanto vivia nesses pensamentos, eis que aparece
a convocação para ir à guerra. Todo jovem a partir de vinte anos deveria se
apresentar. Era o ano de 1917, em plena Primeira Guerra
Mundial e seu Portugal aderia à Aliança dos países envolvidos.
Com seus parcos conhecimentos de artilharia, lá foi
ele com coragem e ideal para a região de Flandres na França.
Será que Antonio sobreviveria para voltar à sua
Rosa e se alegrar com o nascimento da filha Maria? Era o que a esposa ansiosa,
grávida e preocupada desde que ele foi para lugar tão longe, passou a esperar
junto aos parentes mais próximos.
Esse português sonhador entre tiros de canhões que
disparava e recebia, queria sobreviver e se angustiava por uma juventude inquieta
e preocupante deixando sua terra e seus amores.
Foram tantos os pedidos e orações que Deus ouviu os
apelos e resolveu pôr um fim naquela guerra. E assim foi...
Em 1918, após um período não muito longo de combates,
Antonio regressou à sua querida aldeia a tempo de ver o nascimento da Maria.
Escapou da terrível gripe espanhola que consumia
muitas vidas e amedrontou mais do que a guerra. Foi um período difícil para a
humanidade.
A vida
corria entre tirar a sobrevivência da terra e sonhos de conquistar o mundo, e
assim nasceu o filho Manuel para sua alegria e alívio, pois seriam mais braços
e fortes para ajudar na lavoura.
Com tantos percalços e emoções, após escutar vizinhos
falarem de uma terra de esperança distante, “onde se plantando tudo dá” chamada
Brasil, resolveu entender um pouco melhor do que se tratava esse paraíso que convidava.
Após conversas regadas a vinho, sardinhas assadas e
risadas, a empolgação de se aventurar tomou conta dele novamente com muito mais
força.
E tão empolgado ficou que correu com alguns
vizinhos para se inscrever na lista de candidatos à imigração, assim que ouviu
o chamado daquele sisudo alistador postadoà porta da pequena igreja de sua
aldeia.
A noite empolgado contou tudo à Rosa, e
desconfortado acrescentou que partiria para o Brasil por enquanto sozinho.
Quando conseguisse a tão procurada estabilidade mandaria chamá-la junto os
pequenos para viverem a vida na beleza e prosperidade do novo país.
Rosa no seu amor paciente ouviu...e ouviu...
Se aquietou e fez orações em silêncio. Mas,
acreditou que tudo poderia dar certo.
Nada como a esperança com fé.
E após despedidas, não sem lágrimas da Rosa e dos
filhos, Antonio com a garganta engasgada pela emoção e os vizinhos desejando
boa sorte, ele partiu.
O que o motivou a sair de uma aldeia distante, se
aventurar e chegar a outro país com dificuldades tão grandes?
Naquele universo que vivia onde transcorria a vida
rotineira, tudo era previsível. O que acontecerá com Antônio e seus sonhos?
Sua aventura foi motivada por eles que não cabiam
em sua pequena aldeia?
Ficaram os questionamentos por conta do destino...
A SAGA DE UM SONHADOR
Claudionor Dias da Costa
O que o motivou a sair de uma aldeia distante, se
aventurar e chegar a outro país com dificuldades tão grandes?
Naquele universo que vivia onde transcorria a vida
rotineira, tudo era previsível. O que acontecerá com Antônio e seus sonhos?
Sua aventura foi motivada por eles que não cabiam
em sua pequena aldeia?
Com essas perguntas, Claudio voltou-se a seus dois
filhos Leonardo e Daniella fazendo suspense pelo interesse demonstrado em saber
quem era aquela figura na fotografia antiga, amarelada e meio desbotada.
Aparecia um homem alto, forte, com sorriso sóbrio,
cabelos até que alinhados vestindo camisa branca e calça preta amparada por
suspensórios, acessório até bem curioso para as duas crianças, e segurando um
chapéu que elas não entendiam para que servia. O pai sorria e explicava.
Naquele chão de madeira, sentados frente a frente
pai e filhos se sentiam donos de uma história que começava a empolgá-los cada
vez mais.
Enquanto Claudio continuava com seu ar de mistério
falando de uma terra distante, de pequena aldeia onde morou aquele homem, os
olhos das crianças brilhavam e o interesse aumentava.
E a narrativa continuou.
Seu nome era Antonio. Vivia numa aldeia. Nesse
instante Claudio se deteve para explicar o significado e detalhes desta
palavra, não sem fantasiar e contar curiosidades desse lugar.
Assim, surgiu a pequena igreja, feita com pedras
que eram abundantes na região, com sua única torre com a cruz no topo, até meio
desproporcional que chamava muito a atenção. A porta de madeira imensa e as
janelas pequenas nas laterais. As casinhas no entorno, até bem construídas que
compunham um cenário interessante. As ruas de terra onde carroças passavam
transportando produtos das lavouras e, que serviam aos domingos para os
encontros na igreja. Todos os moradores com os seus “trajes de missa”
compareciam e, após o culto ficavam conversando sobre os acontecimentos e
últimos detalhes das colheitas. Também falavam de política, muito embora as
informações chegassem bem depois dos fatos acontecidos.
Novamente uma parada para explicar que naquela
época não havia os recursos modernos de televisão, celulares e mesmo telefone. Acrescentou
que no máximo chegavam as informações pelo rádio e jornais. Na mente das
crianças tudo soou estranho e muito distante.
Daniella segurava a foto em suas mãozinhas
inquietas e Leonardo espichava o pescoço para ver melhor aquele personagem que
parecia ter saído de um filme.
Contou sua história com a esposa Rosa, descrevendo-a
como moça simpática, de rosto redondo, alegria contida, mas com certa
melancolia, talvez causada pela luta difícil e preocupante de ajudar Antônio na
lavoura e ainda cuidar da casa e dos filhos. Procurou mais fotos naquela caixa
velha de papelão e justificou que não encontrou a foto dela no momento, mas,
procuraria com calma no seu amontoado sótão e com certeza encontraria e
continuaria a história outro dia.
Leonardo não perdeu tempo e exclamou:
— Papai, mas quem é esse homem afinal? Ele é seu
amigo?
Claudio sorriu, ficou pensativo, olhou para a
claridade que entrava da mansarda e com os olhos que começavam a ficar úmidos
disse:
— Sim... Ele era um grande amigo... Era o bisavô de
vocês...