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segunda-feira, 7 de outubro de 2024

PEDRO HENRIQUE - PROJETO MEU ROMANCE 2024

 



Episódio 1

Taça, e mais vinho

Pedro Henrique

    


O vento levantava os cabelos ruivos de Beatriz fazendo-os beijar o nada. Estava frio do lado de fora do restaurante, entretanto o que de fato a incomodava era o que residia dentro.

     Havia ceifado com êxito de sua memória o que vivera com Fred (seu parceiro de trabalho), contudo não se pode fugir da fúria da paixão, ela vai te consumir de qualquer jeito.

     Ela está lá, em cada toque hesitante, em cada olhar apreensivo, em cada pensamento intrusivo.

     Fred a encara percebendo que está muito quieta. Ele tenta puxar conversa, porém Beatriz não abre mão de manter intacta a muralha que a cerca, a coisa que a segrega do mundo, do sofrimento.

     — Até quando você vai ficar me evitando? Questiona o rapaz.

     — Eu não estou te evitando.

     — Beatriz, desde que chegamos você não prestou atenção em nada do que eu disse.

     — Isso é mentira.

     — Ah, é? Então, o que eu estava falando neste exato momento?

     Beatriz o observa percebendo que ele jamais compreenderá. Irritada, levanta e sai do estabelecimento.

     Quando chega em casa nada passa por sua mente a não ser o desejo avassalador que ruge dentro dela por uma taça de vinho.

     Na primeira taça, pensa em Fred; no seu cabelo, no seu rosto, na forma engraçada com que fala, no seu jeito de andar, na sua boca.

     Na segunda taça, lembra de seu pai, da noite em que o matara, no gosto suculento que escorria do prato da vingança que sentiu ao passar a lâmina de um estilete em sua garganta.

     Na terceira taça pensava em Patrick e no lixo de ser humano que, infelizmente, descobriu que ele era.

     Taça e mais vinho, taça e mais vinho, taça e mais vinho! Mais, mais e mais! É preciso adormecer o que vive e que merece a morte. É preciso cortar a nódoa explícita que uma madrugada deixou. É preciso manter a barreira e a segregação.

     Taça e mais vinho. Sim, mais, pois a vida brada e quando ela brada há de se ter coragem para bater de frente, no entanto, Beatriz não tem coragem, falta-lhe e muito, é perigoso demais voltar lá e ela sabe disso, pena que Fred não.

     Caberá somente ao destino decidir qual será o próximo passo desta história.


Episódio 2

A RAIVA PARA MATAR

O caráter do homem é o seu demônio

— Heráclito

 


Beatriz entra no local e logo se depara com os rastros de sangue. Olha para o corpo mórbido à sua frente e não consegue acreditar que se trata de Margarete, diretora da CSB, sua agência de segurança.

Ela se aproxima mais um pouco e avalia a bala que penetrou a cabeça de sua ex-chefe, notando tratar-se do tiro de uma 45 ACP. Ágil, averígua o lugar e cada membro da CSB que está presente na biblioteca.

— Quem poderia ter feito isso? — questiona Fred, seu colega de campo.

— Não sei. Já assistiu às filmagens das câmeras de segurança?

— Sim, mas foram apagadas no momento em que a mataram. Estamos lidando com profissionais, Bella.

— Já te disse para não me chamar assim.

— Perdão, é que desde aquela noite não...

— Não aconteceu nada naquela noite — afirma Beatriz, não permitindo que o rapaz diga nem mais uma palavra.

Ela se abaixa, passa a mão no corpo de Margarete e beija o buraco permeado de sangue aberto em sua cabeça, prometendo a ela que descobrirá quem fez isso.

— Sabe quem vai ocupar a cadeira?

— Provavelmente Patrick. Três dos membros do Conselho afirmaram que vão indicá-lo. E...

Beatriz, querem te colocar para dirigir o reformatório.

— Claro que não — protesta Beatriz, se levantando. — Só trabalho em campo. E não vou ficar lidando com um bando de adolescentes problemáticos e domá-los para se tornarem um de nós.

Fred olha para ela de maneira irônica, como quem diz: “mas nós éramos adolescentes problemáticos e difíceis de domar e hoje somos um deles”. Porém, Beatriz o ignora e vai embora.

Entretanto, antes de sair pela porta, vira-se para Fred e diz:

— Avise o Conselho que a tarefa é minha e que enviem outro para o reformatório.

No dia seguinte, Beatriz vai até a reunião de posse do novo diretor da CSB, Patrick. Ele se sente vitorioso, pois batalhou a vida inteira para ocupar tal posição.

Assim que a cerimônia se encerra, ela vai cumprimentá-lo.

— Olha só, quem diria.

— É, agora sou eu quem manda em tudo.

— Parabéns.

— Obrigado. E como você está? Sei o quanto ela era importante para você.

— Vou ficar bem.

— Eu sei. Fred me contou que você não quer dirigir o reformatório e... Bella, acho melhor...

— Beatriz.

— Beatriz, perdão. Acho melhor não. Sabe que emoção e serviço de campo não terminam bem.

— Patrick, eu vou fazer isso. Eu devo isso a ela. Eu faria o mesmo por você. Você sabe.

— Eu sei, mas a CSB já está cuidando disso, Bella.

— Já falei para não me chamar assim.

— Perdão.

— Patrick, eu vou, com ou sem a sua permissão, ou a do Conselho — diz ela, se retirando do local.

Quando chega em casa, recebe todos os autos do caso. Não sabe ao certo por onde começar.

Não era a primeira vez que investigava um assassinato dessa natureza, mas esse lhe perturbava a cabeça.

Beatriz repousa seus olhos sobre uma imagem das câmeras de segurança, mas não nota nada.

Uma hora se passa, ela já tentou todos os ângulos, mas nada. Duas, três, sete horas e nada de um suspeito sequer, até que... Ela observa a foto de uma feira. Margarete gostava de ir a feiras; descobriu isso quando ela a convidou para ir a uma. Beatriz sempre achou estranho, afinal, não é todo dia que descobrimos que uma das melhores agentes da CSB, e agora sua diretora, frequentava uma feira como uma pessoa normal. Todavia, quem poderia compreender

Margarete? Ela era imprevisível.

Na filmagem da feira, que fica a poucos metros da biblioteca, Beatriz percebe um homem encarando Margarete. Ele está de boné preto, com uma jaqueta da mesma cor. Ela passa alguns minutos da filmagem e para no momento exato em que Margarete se afasta para ir à biblioteca e vê que o rapaz a segue.

Tenta buscar em outras câmeras e só encontra a de uma rua em que consegue ver apenas Margarete atravessando a calçada. Quando o homem aparece, a luz de sua casa apaga.

Beatriz sente algo atingir em cheio sua cabeça. Rola para frente, passando a mão na nuca, e quando olha, contempla o vermelho vivo do sangue permeando seus dedos.

Visualiza a figura que agora voa em sua direção, e ambos travam uma intensa luta. Beatriz consegue, em alguns momentos, imobilizar o que parece ser um rapaz, porém as habilidades dele assemelham-se às suas, o que gera certa dificuldade.

Quando o olhar de ambos se cruza, Beatriz nota que ele possui olhos pretos como a sombra de um beco.

Ele a atinge com um murro que a faz cair no chão, e quando ganha fôlego para continuar a luta, percebe que está sozinha. Olha para a mesinha de centro da sala e não encontra seu computador. Corre para a janela e não vê nada, vai até o quarto e o analisa, investiga o banheiro, lavabo, cozinha, guarda-roupa, olha em cada centímetro da casa, mas nem um sinal do rapaz.

Volta para a sala e se senta no sofá, passando as mãos no rosto, irada por ter deixado o homem escapar.

A campainha toca. Beatriz se levanta, vai até a porta, olha pelo olho mágico e vê Fred, então abre a porta, deixando-o entrar. Assim que avalia o apartamento, ele percebe que um ringue se instaurou ali.

— Alguém invadiu — diz Beatriz.

— Invadiu? — questiona Fred, preocupado.

— Sim, eu estava analisando as filmagens das câmeras de segurança quando alguém bateu com alguma coisa na minha cabeça.

— Deixa eu ver — pede Fred. Ele averígua minuciosamente o machucado, tocando de leve no sangue que o cobre. — Você precisa de um médico.

— Não, eu mesma cuido disso.

 

DOIS DIAS DEPOIS

 

Beatriz vai até a rua onde ocorre a feira. Tentou refazer o mesmo caminho que Margarete, na esperança de descobrir algo, porém não obteve sucesso.

Segue seu caminho em direção à biblioteca, que ainda estava fechada por determinação da CSB. Pensou em voltar para casa, mas achou melhor ir para a agência. Chegando lá, foi imediatamente para sua sala averiguar novamente as filmagens.

Ficou horas colada a elas, analisando com cautela cada uma. Na décima quarta tentativa, percebeu algo que até então não notara. Fechou o computador e foi para a sala de Patrick.

— Tenho algo para te mostrar — disse, colocando o computador sobre a mesa. — Olhe o jeito de andar dele. Patrick flexionou os olhos, compreendendo onde Beatriz queria chegar.

— Você acha que...

— Sim. Agora vamos.

Patrick se levanta, seguindo Beatriz, e ambos vão em direção à sala de Fred. Assim que entram, ela saca a arma e a aponta para o rapaz.

— Ou, ou, calma aí. O que está havendo?

— Cala a boca, seu infeliz.

Beatriz pega o cabo do carregador de celular de Fred, que está em cima da mesa, e o usa como uma algema para não permitir que ele fuja. Depois, leva-o para a sala de interrogatório.

Ela abre o computador e mostra a filmagem para ele.

— O que tem isso? — pergunta.

— Olhe, não percebeu nada familiar?

— Não.

— Então, deixe-me refrescar sua memória — afirma Beatriz, desferindo sem medo um murro no rosto do rapaz, levando Patrick a intervir.

— Beatriz, pare. Fred, vou perguntar só uma vez e é bom que você me responda com sinceridade. Você sabe muito bem que nós temos formas bem convincentes de fazer com que conte a verdade.

Patrick olha de soslaio para os objetos pontiagudos repousados sobre uma mesa no lado esquerdo da sala, na tentativa de elucidar melhor sua argumentação. — Você matou Margarete?

— Quê? Não. Óbvio que não. Vocês estão ficando doidos? Por que eu faria isso?

— Então, por que o jeito de andar do homem que seguia Margarete é igual ao seu? Por que, logo após um bandido entrar na minha casa, você apareceu? Você está escondendo algo. Fale a verdade.

— Beatriz, não fui eu. Eu juro. E seus argumentos não têm fundamento. Você quer me acusar só por um jeito de andar?

Beatriz olha para Patrick em busca de apoio, entretanto ele fica do lado de Fred. Sabe que não podem acusar alguém sem provas mais eficazes e consistentes.

— Deixe ele detido temporariamente, até eu descobrir mais alguma coisa.

— Beatriz, sabe que eu não posso.

— Não é você que manda em tudo agora?

Ela recolhe o computador e retorna para sua sala.

Lá, decide analisar os registros de Margarete, todavia não encontra nada útil. Nasceu há sessenta anos, não é casada, não teve filhos, foi recolhida pelo reformatório por venda ilegal de drogas. Beatriz continua a leitura do arquivo e se depara com um nome inesperado: Anastácia.

— Quem é essa? — Pergunta para si mesma.

Sem perder tempo, vai até o setor de arquivamento, solicitando que investiguem quem é Anastácia. Duas semanas depois, recebe um e-mail informando que encontraram poucas informações, apenas que o nome está vinculado ao arquivo de Margarete com a instrução de contatá-la caso algo acontecesse.

Junto ao corpo do e-mail, havia um endereço associado a esse nome. Horas depois, Beatriz se encontrava em frente a um sítio antigo no interior do Estado de São Paulo. Ao chegar, é recebida pelo caseiro, um homem velho e barbudo. Ela pede para falar com o proprietário, mentindo que se trata de uma velha amiga.

Pouco depois, Beatriz é recebida por Antônio Vilela e algo a incomoda, pois Vilela é o mesmo sobrenome de Margarete.

— Você sabe quem é esta moça? — Pergunta Beatriz, mostrando uma foto de Margarete, assim que se sentam no sofá para conversar.

O rapaz arregala os olhos ao ver a imagem.

— Não posso te ajudar. Você deve estar enganada.

— Talvez você saiba quem é. Qual é a relação dela com você?

— Já falei que não sei quem é! — Grita ele. — Acho melhor você ir embora.

Beatriz obedece às orientações do rapaz, contudo, mais tarde, quando a única coisa que se ouve é o cantar dos grilos, decide invadir a casa por uma janela aberta.

No cômodo, não há nada além de alguns sacos de ração. Ela segue pelo corredor, procurando algo que possa lhe ajudar, até que encontra uma porta aberta. Ao entrar, vê um escritório e começa a vasculhar o local, como um cão à procura de um osso, mas não encontra nada de útil.

De repente, escuta vozes se aproximando. Sem encontrar onde se esconder, saca sua arma pronta para o que vier. Quando a porta se abre, seus olhos se arregalam, sua pele gela e seu coração é tomado por um pavor que jamais imaginou sentir.

— Margarete?

— Beatriz?

Margarete se aproxima, abaixando a arma a da garota.

— O que faz aqui?

— O que você faz aqui?

Margarete reflete por um momento e se senta em um sofá à esquerda, juntamente com o homem que recebeu Beatriz.

— Não vai se sentar?

Atordoada, Beatriz se aproxima e se junta a eles.

— Como foi que me descobriu?

— Seu arquivo.

— Ah, sim, eu sabia que aquilo me traria dor de cabeça algum dia.

— Mas o que diabos está acontecendo aqui?

— Bom, sabe, é até engraçado. Sempre pensei que, se houvesse alguém no mundo capaz de me descobrir, seria você. Eu te treinei muito bem. Agora, escute o que vou lhe dizer e não me interrompa, ok?

— Ok.

— Ótimo! Então vamos lá. A CSB sempre foi emancipada das mãos do Estado por um motivo: queríamos operar seguindo nossas próprias políticas e não toleramos certas condutas.

Entretanto, com o tempo, o governo atual começou a seguir um caminho sombrio. Eles sequestram crianças e acho que você pode imaginar o que fazem com elas.

De repente, Beatriz se lembra de seu pai e das malditas noites em que ele entrava em seu quarto, dizendo:

— Bella, minha querida, o papai está com saudade. Você não brinca mais com o papai.

— Beatriz, Beatriz! — A garota volta para a realidade. — Está tudo bem?

— Ah, sim, está... é que... ignore.

Margarete olha para ela, e, assim como no passado, vê a garotinha assustada que ainda vive dentro de Beatriz. Portanto, aperta sua mão e diz:

— Ele morreu, meu bem.

— Eu sei.

Elas continuam a conversa, e Margarete confessa que o presidente queria intervir na diretoria da agência para facilitar seus negócios ilegais, sem enfrentar contradições. Margarete soube que planejavam matá-la para que Patrick assumisse e fosse manipulado pelo presidente.

— Foi o Fred, não foi? Nós o prendemos. Vamos matá-lo agora mesmo.

Margarete ri da ingenuidade de Beatriz.

— Como chegou a essa conclusão?

— Eu vi as câmeras de segurança momentos antes de você ir à biblioteca. Você estava na feira, lembra?

— Ah, sim. Minha querida, deixe-me esclarecer algo. Fred não tentou me matar. De fato, era ele nas filmagens, mas ele estava me protegendo. Tenho muitas pessoas leais a mim na CSB.

Assim que soube da conspiração, pedi o apoio dele, e, como sempre, ele foi leal.

— Quando fui à biblioteca, era... Bom, deixe-me mostrar algo.

Margarete se levanta, vai até a escrivaninha e retira um envelope de uma gaveta. Ela pega uma foto e se aproxima.

— Tome.

Quando Beatriz olha para a imagem, não percebe de imediato o que Margarete quer mostrar e ao ler o nome “Anastácia”, fica ainda mais perturbada.

— Anastácia é minha irmã gêmea — confessa Margarete. — Anos atrás, ela trabalhou para nós, mas optou por seguir outros caminhos não tão bons. Contudo, ela era minha irmã. Nós sempre marcávamos de nos encontrar uma vez por ano na biblioteca municipal e...

Margarete encara o chão, como se não acreditasse no que estava prestes a dizer.

— Mandaram ela para me matar. Sabiam que nenhum agente deles conseguiria um contato tão próximo comigo, exceto ela. Mas Fred foi mais rápido ao apertar o gatilho.

— Então, quer dizer que o corpo na biblioteca...

— Não era meu. Escute, Beatriz, você não está segura na CSB. Eles vão atrás de você.

— Já vieram.

— Como assim?

— Alguns dias após o crime, eu estava observando as imagens quando alguém invadiu minha casa e me atacou, enfim. Mas, Margarete, se eles querem nos matar, o que vamos fazer?

— O que eu deveria ter feito há muito tempo.

— E o que é?

— Matar o presidente.

— O quê? Isso é impossível!

— Não, não é. Venho pensando nisso há algum tempo. A guarda dele passou por algumas alterações. Eles queriam os melhores homens em termos de segurança, e onde acha que os encontraram? — Nossa agência forneceu os melhores que temos, entre eles…

— Fred.

— Exato.

— Mas, e quanto a mim? Por que não me contou nada?

— Não é pessoal, meu bem. Você é a melhor que eu treinei, não tenha dúvidas. Mas você é muito impulsiva, não saberia se conter. Poderia acabar estragando o plano.

Margarete instrui Beatriz a conversar com Patrick e explicar que Fred é inocente. Agora que ela sabe a verdade, eles poderão trabalhar juntos. Margarete revela que o presidente participará de um jantar no Palácio da Alvorada na semana seguinte, com investidores dos negócios ilegais.

Ela orienta Beatriz a se voluntariar para a guarda com Fred e a fazer o que sabe fazer de melhor: matar.

— Depois, contarei toda a verdade ao conselho. Como estou viva, a cadeira voltará para mim, pois no documento de transferência não consta minha assinatura. Seria contra a política da agência se não me devolvessem o meu lugar. Entendeu bem, Beatriz?

A garota assente.

— Ótimo. Você sabe o que deve fazer.

 

UMA SEMANA DEPOIS

 

Beatriz patrulha os corredores do Palácio da Alvorada, sem perceber nada estranho. O plano está saindo conforme o previsto. Ela retorna à sua posição na sala de jantar, observando cautelosamente a mesa. Seu estômago se revira ao ver todos aqueles senhores milionários rindo e se deleitando com a desgraça de milhares de crianças.

Ela olha para Patrick, e a incredulidade percorre suas entranhas. Não consegue acreditar que aquele é o homem que a tirou de sua antiga vida. Quando se voluntariou, teve uma dificuldade colossal para manter a atuação e convencer Patrick de que sabia do que ocorria entre a agência e o presidente. Patrick não se convenceu de imediato.

— Acho melhor não — disse a princípio, mas não conseguiu resistir a Beatriz. Na verdade, ninguém conseguiria.

— Está quase na hora. Você está pronta?

— Eu nasci pronta — responde ela a Fred, através do comunicador no ouvido.

— Ok.

Cinco minutos depois, Beatriz ouve um “agora” em seu ouvido, saca a arma da cintura e dispara na cabeça do presidente. Os guardas presentes pegam suas armas e avançam com força total contra ela, mas se esquecem de que seu ódio é nutrido, por já ser uma daquelas crianças.

Beatriz executa com precisão cada manobra que lhe foi ensinada. Ceifa todos os agentes e guardas presentes deixando Patrick por último. Ele sabe qual será seu destino e tenta pegar sua arma, mas uma faca chega primeiro em sua mão e, em seguida, na outra.

Beatriz se aproxima com uma fúria que faz ferver as lembranças do passado, ressuscitando cada gotícula daquela garotinha que ela foi um dia. Lembra-se da noite em que fez o estilete encontrar a garganta de seu pai e sente novamente o gosto odioso da vingança em sua boca.

— Sabe, Patrick, uma vez você me disse que o caráter define o homem. Eu te admirava tanto.

Você, justo você, de todas as pessoas neste mundo.

— Vai à merda.

— Ah, acho que não.

Bang!



Episódio 3

A MORTE É O PREÇO


 

A garota abre os olhos quando se depara com o rosto formidável de uma senhora a encarando. Ela olha por alguns segundos para os olhos um tanto curiosos da velhinha, contudo a ignora quando o ônibus para e sua mente também. Não quer pensar em trabalho, por esse motivo optou por esta viagem; todavia, já está se arrependendo.

Beatriz até que gosta da sua vida no trabalho. Bom, lidar com mortes e crimes que arrepiam os cabelos, não é lá o emprego que toda garota queria ter, mas Beatriz não é qualquer garota.

     Todos descem do veículo, inclusive a senhora que observava minuciosamente Beatriz. Patrícia, a guia turística, diz a todos para fazerem o check-in e se acomodarem em seus respectivos quartos, visto que a viagem foi longa e que amanhã o dia será recheado de aventuras.

     Beatriz se vê a passos curtos de mergulhar nessa aventura, porém algo nela a incomoda; sabe que, quando sente essa fisgada no peito, alguma coisa está prestes a acontecer, mas ignora essa súbita e um tanto silenciosa sensação.

     Ao chegar ao quarto, não pensa duas vezes em fazer com que seu corpo saboreie com pressa o conforto da cama, e não demora muito para o sono bater à sua porta. A garota se sente morta, por esse motivo a abre e o convida a entrar. O sono começa a vir e se instaura por completo em poucos minutos.

     Beatriz se deleita nesta coisa boa que é dormir. No entanto, quando sua mente está prestes a contemplar o ponto mais alto e profundo de se estar no vácuo do mundo, um grito corta os corredores, fazendo-a em um pulo levantar e correr em direção ao som.

     Ela segue aquela voz grave e potente que se alastra pelos corredores e, quando percebe, chega a um quarto. A vida ri de Beatriz naquele momento, como sempre a vozinha conhecida e odiada, legítima, a qual é a mais segura das que há na mente da garota. Beatriz, incrédula, aproxima-se do corpo da criança que se encontra no centro de uma poça de sangue, tornando aquelas poucas horas de maravilha um verdadeiro filme de terror.

     Terror por vezes é o sentimento que ela queria sentir, pois o que reside dentro de seu peito é um ódio colossal. Só havia pedido uns dias em paz, longe de tudo que representa seu cotidiano, e a vida lhe dera isso?

     Ela sai do quarto atormentada e, sem perceber, esbarra em Kamila, sua conhecida do serviço. Kamila é delegada e, pelo que se pode inferir a partir do cenário posto, é quem cuidará do caso.

     Ambas vão para um lugar afastado, e a delegada situa Beatriz sobre o ocorrido e pede sua ajuda. Diz a ela que se trata de algo desconhecido, que não há sequer imagens de câmeras de segurança que ajudem a chegar ao culpado, e que, portanto, todos são suspeitos, inclusive Beatriz.

     A delegada afirma que sabe de sua especialidade para cuidar de casos assim e insiste para que ela tope ajudá-la. A garota não vislumbra outra saída, então aceita. E assim suas belas férias vão morte abaixo.

No dia seguinte, Beatriz pega os autos que a polícia tem para dar início a seu trabalho. E, como Kamila havia lhe dito, a polícia não tem nada, sendo assim, Beatriz vai onde tudo começou: o quarto. Chegando lá, se depara com a senhorinha que lhe encarava no ônibus.

     A senhora, por sua vez, quando olha para Beatriz, fica encantada, abre um sorriso meigo e se aproxima. Ela pergunta se Beatriz é da polícia, e Beatriz se vê coagida a dizer que sim, pois tem ciência de que não pode sair por aí dizendo sua identidade aos quatro ventos.

     A senhora responde que já suspeitava que Beatriz fosse policial e atribui tal tese ao fato de ela ser muito séria. As duas permanecem conversando, e a senhora, que até então permanecia em anonimato, diz se chamar Vilma e fala que, para qualquer coisa, Beatriz pode contar com ela.

Porém, antes de ir embora, Beatriz a questiona sobre o motivo de estar ali. Vilma responde que ficou curiosa, confessou que só viu um crime em sua vida, e foi quando seu filho morreu; contudo, não quis tocar no assunto, afirmou que doía falar da perda e, de fato, deveria doer.

     E Beatriz compreendeu, pois, ainda que não fosse mãe, podia sentir a profunda e intangível ferida que se projetava nos olhos daquela mulher.

     Vilma foi embora, e Beatriz começou o que veio fazer. Antes, olhou cada centímetro do lugar e, agora, procurava pelo corredor, mas nada encontrava. Decidiu que era hora de parar e continuar no dia seguinte.

Optou por ir a um restaurante perto do hotel porque ouviu dizer que lá a comida era divina.

     Quando chegou, foi muito bem recebida. Queria comer lagosta, e assim se fez. Após o banquete divino, pediu a conta e foi ao caixa pagar. Assim que deu seu cartão, algo chamou sua atenção. Não era algo grandioso, porém curioso.

     Havia uma foto de Vilma atrás do balcão com a seguinte frase: bruxa. Beatriz, a princípio, achou estranho e perguntou à balconista sobre a foto. A balconista, por sua vez, respondeu que aquela era uma antiga velhinha daquela pequena cidade. Revelou que rondavam boatos de que ela falava com o próprio diabo e que fez uma promessa a ele de matar quantas crianças pudesse.

     — Dizem que ela matou o próprio filho e deu pro demônio comer.

     — Meu Deus! Mas por quê?

     — Para pagar uma dívida.

     — Dívida?

     — Sim.

     — Essa moça tinha um câncer terminal, e para não morrer, fez um trato com o diabo para poder viver e, em troca, ela mataria crianças.

     — E nunca prenderam ela?

     — Prender, prenderam, porém, não tinham provas contra ela, então tiveram que soltar.

     — E onde ela está agora?

     — Ah, minha filha, ninguém sabe.

Beatriz começou a se sentir enjoada, sentia seu estômago revirar sempre que ouvia algo relacionado a crianças. Soube na própria pele o que é ser ferida na infância. Portanto, saiu o mais rápido que pôde para a pousada, pois se lembrou da filha de Patrícia, que estava com a mãe no passeio, e temeu pela vida da pequena.

     No entanto, o mal, como sempre, chega prévio e faz um estrago em tudo que toca. As lágrimas no rosto de Patrícia já denunciavam tudo. Eram 00:26 e estava feito. Beatriz aproximou-se de Patrícia e, junto àquela mãe, ofereceu a sua sincera empatia. As lágrimas das duas fundiram-se em um louvor ao morto que nascia para a outra vida.

     Contudo, o ódio que nocauteava suas vísceras foi maior. Beatriz se levantou e foi em direção ao alvo. Quando encontrou Vilma, não esperou duas vezes, desferiu, sem piedade, as costas de sua mão no rosto da idosa.

     De repente, um tapa virou dois, dois viraram três, três viraram sete, e sete viraram uma surra. Vilma ficou sem entender o porquê de estar apanhando daquela forma, apenas gritava e rogava a Beatriz que parasse.

     — Para de farsa, sua maldita, eu sei que foi você.

     — Eu o quê? — Perguntou Vilma com a boca cuspindo sangue.

     — Eu sei de tudo. Sei que você mata crianças para pagar uma promessa que fez ao diabo. Sei que foi você que matou a garotinha na noite de ontem, e sei que foi você que matou a filha de Patrícia. Outro tapa, outro soco, outro chute e mais uma surra.

      Quando Beatriz percebeu que já estava quase matando Vilma, apenas a jogou como um saco sem uso na parede esquerda de seu quarto e a imprensou com o antebraço.

     — Confessa. Confessa, sua maldita.

Vilma a encarou com os olhos fixos e, de repente, aquela senhorinha meiga e formidável desapareceu, abrindo espaço para outra, perversa e, sobretudo, cruel.

     — A morte é o preço, minha cara.

 

Episódio 4

O PESO DA MÃO DA VIDA


 

     Quanto sofrimento um ser humano suporta? Quantas lágrimas a alma precisa derramar? Quantas perdas há de se ter para chegar ao fim? Lembro de tudo. Lembro-me de como era doce e amável. E quando lembro, me questiono o porquê de a vida ter feito o que fez.

     Era apenas uma garota. Era apenas uma criança. Beatriz rola de um lado para o outro na cama e sua mente é tomada por porções grandes de um passado que deixara para trás, mas que a persegue. Como hiena correndo atrás de sua presa para provar o gosto suculento de carne.

     Os pensamentos são os mais diversos possíveis, todavia a lembrança busca em seu âmago o fragmento único e guardado dos dias em que a genuinidade a abraçava. Trata-se de sua mãe. A projeção é clara: praia. Castelos de areia e o abraço consolador da mulher que lhe dera a vida.

     Beatriz chega a sorrir quando se recorda desse singelo momento. Sua mente a apresenta novamente à luz da existência. Pode sentir o cheiro acalorado do mar em seu nariz. Há nos olhos de sua mãe uma tranquilidade que era de seu costume passar. A garota sente em seu peito, aqui no presente, a nobre sensação de se sentir segura, amada, especial.

     Lembra-se de correr de um lado para o outro, gritando:

— Mamãe, mamãe. Olha o castelo de areia que eu fiz. É o castelo mais lindo do mundo.

E a voz de sua mãe vem tão audível em seus ouvidos:

— Que lindo, minha princesa.

     E assim a vida se fazia para Beatriz, não tinha nada a pedir, nada a condenar; apenas queria um balde e uma pá de brinquedo, para castelos de areia montar. E sobre o olhar fraterno de sua mãe, o universo e a Via Láctea eram seus, todinhos seus. Tinha em suas mãos a alegria e ela lhe divertia de forma simples, pois a vida deveria ser simples. Mas… enfim.

     É, leitores, há de se ter coragem para mergulhar na lembrança, pois, como Beatriz nesse momento, o peso da lágrima pode massagear seu rosto, revelando-lhe o poder da efemeridade do tempo e de como o soco da vida pode doer.

     Soco esse que tira a alegria e a ingenuidade, soco esse que apaga quase que de forma plena uma memória do que é, de fato, viver. Saibam que na vida há de se defrontar com o maligno, isso é inerente à construção da persona forte e inabalável, no entanto, o injusto reside no excessivo. E a dor te acompanha para sempre, impedindo-te de olhar o que é bom e agradável.

     Beatriz se levanta e vai até a sacada, olha para o horizonte que se apresenta diante de seus olhos e enxuga outra lágrima que corre por sua bochecha, sentindo, como desde o dia em que sentira pela primeira vez, o peso da mão da vida.



Episódio 5

UMA AMIZADE VERDADEIRA

 

Beatriz está mais uma vez em uma nova jornada. Sua chefe, Margarete, decidiu enviá-la para um curso de hackers. A garota, apesar de ser filha da geração do eletrônico, nunca foi uma especialista no assunto.

 

Sabia fazer o básico e nada mais, e como os tempos estão mudando, agora precisa se aprofundar. Ela até que gostou da ideia, tinha ciência de que, depois desse intensivo, aprendendo mais e mais sobre o mundo virtual, ninguém seria páreo para ela.

 

Porém, o que não esperava era que, além de fazer a aquisição de novas habilidades, também adquiriria uma nova amizade. Seu nome? Ah, sim, Vanessa.

 

Ambas se conheceram assim que chegaram. Bastaram três taças de vinho e uma conversa muito agradável, e pronto: o destino as selou. Beatriz vislumbrou muito de si na garota. Vanessa também conseguiu visualizar-se na nova amiga.

 

E assim, seguiu esse rio de águas turvas que eram, pois, apesar de ocultar aquilo que temiam dizer ao mundo, puderam projetar-se uma na outra, dando-as o precioso ombro amigo que tanto ansiavam, para que no momento cuja lágrima estivesse a postos, pudessem correr uma a outra e dizer: amiga, me ajuda.

 

A colega chegou a revelar, certa feita, que estava naquele curso, pois queria trabalhar um dia na NASA, como seu avô. Falou que ele foi um dos cientistas de computação de lá e que ambicionava trilhar o mesmo caminho.

 

Beatriz ficou impressionada com Vanessa, e confirmou sua tese de que a nova companheira era verdadeiramente um gênio. As duas viviam assim, conversando sobre os mais diversos assuntos. Vanessa não hesitava em contar suas aventuras, e Beatriz ficava admirada com seus relatos, sempre ficando perplexa com a entrega da amiga à vida.

 

A menina invejava o modo como a colega vivia. Ela não tinha medo de nada, era ousada, astuta e sempre disposta a se jogar no improvável. Diferente de Beatriz, que era azeda, reservada e ai daquele que ousasse questionar sobre o seu passado. E, por graça da vida ou por alguma outra coisa cuja nomenclatura não me vem no momento, sua nova amiga resolveu lhe questionar sobre sua família, já que Beatriz nunca falava a respeito. Beatriz ficou um pouco irritada, porém, vinha se preparando para esse momento, pois tinha a convicção de que esse dia chegaria.

Portanto, a agente manteve sua postura e tentou se acalmar, resolveu dizer o que dizia para todos aqueles cuja verdade não podia ser revelada: disse que os pais faleceram em um acidente de carro, tendo sido criada por uma tia cristã, irmã de sua mãe, e era isso, fim da história.

 

No entanto, a verdade sempre submerge, sendo encontrada por quem menos se espera. Numa noite, após voltarem de um restaurante, Beatriz convidou Vanessa para ir ao seu quarto. A garota aceitou e as duas tiveram uma conversa profunda sobre a vida e o que ainda queriam dela, acompanhadas por um delicioso chá de hortelã.

 

Em certo momento, Vanessa falou de seu namorado, que morava em outra cidade e cursava medicina veterinária, e, curiosamente, disse a Beatriz se ela também tinha namorado. A moça elevou seu imaginário a Fred, mas ignorou por completo aquele pensamento intrusivo.

 

Sabia que entre os dois não poderia haver nada. Na verdade, não só entre os dois: Beatriz era uma alma que divagava pelo mundo e fazia isso sozinha. Sem companheiros.

 

Vanessa percebeu que a amiga não queria tocar no assunto, portanto, não a forçou. Entretanto, a ferida havia sido encostada e Beatriz precisava esvaziar a cabeça, para que assim seus pensamentos intrusivos não dominassem sua mente.

 

Portanto, educadamente, levantou-se da cama e foi ao banheiro lavar o rosto. E, ao lavá-lo com água corrente, ansiava que o líquido levasse também tudo o que ela era, tudo o que nunca foi, toda aquela angústia que a perseguia e mordia sua carne, como um cão saboreando o santo alimento.

 

Vanessa, astuta como era, aproveitou a oportunidade de ausência da amiga para buscar mais sobre ela. Tinha um desejo vindo do profundo em saber mais, sentia que Beatriz escondia algo sempre. Como se só se atrevesse a mostrar apenas uma parcela de seu ser, e a amiga o queria completo, com todas as cicatrizes e lepras. Com tudo que é ruim e bom, queria a companheira por inteiro e não só uma simples casca. Queria saber, sentia que precisava saber, então decidiu averiguar sua bolsa e lá, dentre os diversos pertences, encontrou a carteirinha de agente de Beatriz.

 

Quando Beatriz retornou do banheiro e viu o que considerava ser sua amiga, mexendo no que não lhe pertencia, correu até ela e lhe deu um mata-leão.

Vanessa sentiu-se temerosa e, quando questionada do porquê estava olhando o que não era seu, respondeu que foi movida por um desejo incontrolável de curiosidade.

 

Afirmou que não era nada demais, e que não imaginava que Beatriz fosse quem acabara de descobrir quem ela era. Disse que não contaria para ninguém, que ela poderia confiar nela, afinal, eram amigas. “Não somos? ”

 

Beatriz não se convenceu a princípio, mas quando sentiu as lágrimas escorrerem dos olhos da pobre coitada, de tão assustada que estava, constatou  que poderia depositar nela confiança.

 

A garota revelou detalhes e contou quem ela era de fato. Falou que trabalha em uma agência secreta e compartilhou também o porquê de ter se sentido mal ao ser provocada sobre se tinha um relacionamento.

 

Vanessa a abraçou e, para quem parecia não ter segredos, também revelou suas verdades. Confessou a Beatriz que seu avô não trabalhou na NASA coisa alguma. Afirmou que só disse aquilo, para dar-se um pouco de dignidade. Não era ninguém no mundo, não passava de uma garota de TI que nunca teve oportunidade de ir além e que só estava ali para aperfeiçoar seu currículo.

 

Ambas se acolheram e sentiram a dor uma da outra, vislumbraram nos comportamentos de suas almas a pureza de uma amizade e a ânsia por mais da vida. E como o destino não dá ponto sem nó, Beatriz disse que talvez pudesse falar com sua chefe a respeito da nova amiga, e quem sabe ambas poderiam trabalhar juntas na agência.

 

Vanessa se animou com a ideia, então, dois meses depois, ingressou na CSB. E o que parecia apenas alguns míseros dias aprendendo a hackear o computador alheio, se tornou um encaixe coeso de almas.

 

 

A ÚLTIMA QUARTA - LEON A. VAGLIENGO

  A ÚLTIMA QUARTA Dizer o quê? As coisas vão, mesmo, acontecendo...                                                                     ...