Perdão e Pesar
Ana Catarina SantAnna Maues
Levando uma vida comum, assim
estavam Nelson e Dalita. Ele era eletricista e ela ajudante de padeiro. Ambos
com personalidade tranquila, eram bem discretos. A relação entre eles era
marcada pelo respeito e afeto. Exibiam na mão direita o único bem valioso, a
aliança em ouro adquirida com sacrifício. Sem ajuda dos parentes preparavam-se
para casar. Tudo caminhava harmoniosamente entre eles até que a padaria foi
vendida para um jovem bonito e solteiro. Esse fato mexeu bastante com o humor
de Nelson, que passou a buscar Dalita no trabalho. Numa tarde ele ficou
espreitando e viu quando o jovem proprietário acariciou o rosto dela. Mais do
que depressa ele atravessou a avenida e entrou na padaria querendo confirmar o
que vira. Indagando sobre o que ocorrera, Dalita explicou que havia machucado o
dedo, e que o proprietário ao vê-la chorar ofereceu-lhe um lenço, mas sem tocar
no seu rosto. Isto não ficou bem
esclarecido na cabeça de Nelson que passou a desconfiar da fidelidade da noiva.
Quando indagava sobre seu dia no trabalho era com sarcasmo e Dalita reagia indignada iniciando assim mais
uma discussão. As brigas passaram a ser
frequentes pelos motivos mais fúteis, e cada vez mais violentas, com Nelson
dando apertões, beliscões e vez por outra até tapas no rosto de Dalita. Ela
vivia deprimida, amargurada, insegura com o temperamento oscilante do noivo,
mas com muita esperança de que tudo passasse.
Lutava com a arma da paciência e do perdão, não queria desmanchar o
compromisso, pois o amava de todo coração.
No final de
uma tarde, chovia bastante, e Dalita recebera o aviso de que Nelson não viria
buscá-la. Ao sair, dirigiu-se ao ponto de ônibus, e lá estando viu chegar de
carro novo, Cláudio, seu irmão mais velho. Ele a viu na parada e ofereceu
carona, que ela aceitou muito feliz. Chegando em casa qual a surpresa, Nelson a
estava esperando, e a viu sair do carro. Cego de ciúmes não reconheceu o futuro
cunhado ao volante. Imediatamente ali na
rua mesmo, a briga começou. Ela já entrou chorando e gritava que queria acabar
com o noivado. A discussão ficou maior e maior, caminhavam por o espaço da
casa, até que chegaram na cozinha e Nelson enlouquecido lançou mão de uma faca
sobre a mesa e transpassou o corpo dela que caiu imóvel.
Atônito, saiu
dali, correndo e chorando sob a forte chuva. Foi em direção a única ponte da
cidade, conhecido palco de suicídios. Dalita meu amor o que fiz meu Deus perdão
éramos tão felizes como tudo chegou a ficar assim burro burro ciumento egoísta
meu amor perdão a vida sem você não tem nenhum valor meu Deus por favor faz com
que tudo isso seja um pesadelo que acordarei logo mereço o inferno matei o amor
da minha vida Dalita te amo te amo nunca mais te verei meu amor pois você vai
pro céu e eu para o inferno merecido
Nelson chorava muito
equilibrando-se na parte mais alta da ponte, pronto pra saltar a qualquer
momento. Gritava o nome de Dalita forte e bem alto, estava fora de si. Já ia
saltar quando escutou a voz da noiva chamar por ele. Olhou pro lado e a viu
caminhando com dificuldade em sua direção toda ensanguentada. Pensou em milagre
e desceu de onde estava, vindo encontrá-la. Entre beijos e caricias ambos
choravam, ele ajoelhou-se e prometeu diante de muitos que acorreram ali,
acompanhando toda aquela situação, e prometeu jamais repetir aquele ato, pedia
perdão soluçando.
O tempo provou que o
perdão de Dalita e o arrependimento de Nelson foram verdadeiros, e como num
conto de fadas vivem felizes até hoje.