ÍCARO VIRTUTE!
Claudionor Dias da Costa
Lúcia brincou muito naquele dia e se entregou
cansada num sono profundo no sofá.
Sua mãe a deixou à vontade e permitiu que ela
dormisse o tempo que quisesse. E algo começou a acontecer que deixou inquieto
os seus quatorze anos de idade.
De repente a menina lembrou-se de suas aulas de
História sobre a Grécia Antiga. Viajou no tempo e em Atenas descobriu um grupo
de estudiosos sobre magia e poderes e aprendeu
um feitiço que lhe permitia voar.
Assim, sempre que queria pronunciava as palavras mágicas: “Icaro Virtute” e imediatamente era
dotada de forças que através de movimentos de seus braços, e saía do
solo em voos tão altos e velozes quanto fosse sua vontade.
Este poder trouxe alegrias e conhecimentos
fantásticos e foi permitindo que ela conhecesse lugares remotos.
Observando tudo do alto esteve pelo Brasil em todos
os estados, voando sobre as grandes cidades. Na Amazônia com sua densa floresta,
a forma de viver de seus habitantes, os hábitos dos animais predadores, formas
de defesa, características do meio ambiente e acidentes geográficos. Tudo isto,
foi ampliando sua cultura e sentia-se radiante e realizada com as experiências
que voar lhe trazia.
Conheceu as savanas africanas e seus animais,
países asiáticos, o polo Norte com clima extremamente frio e a neve em sua
imponência.
Passou a tomar contato com guerras, pessoas
sofrendo e morrendo devido à fome e doenças. Era um mundo que, para sua pouca
idade, só via pela TV e Internet, como se fossem filmes, fora da realidade.
Esta passou a ser chocante para ela.
Num de seus voos resolveu que poderia, quem sabe
ajudar. Desceu na Síria e andou pelos lugares destruídos pela guerra. Até se
hospedou numa casa de família e observou a vida sofrida das pessoas, em
constante tensão, fugindo de bombas, passando por necessidades e temendo que
não teriam futuro.
Estava caminhando com as crianças onde foi acolhida
num dia de aparente calmaria, quando de repente escutaram gritos, barulho de
bombas e só tiveram tempo de se esconderem numa das casas destruídas.
Muitos tanques, soldados passando, muita correria e
vários tiroteios. O medo tomou conta
deles que ficaram num silêncio absoluto esperando que a situação acalmasse. E o
tempo foi passando... Horas de espera e nada de acalmar.
As crianças estavam muito preocupadas porque os
pais não sabiam onde estavam. Anoiteceu.
A espera parece que compensou, pensaram. Houve um
grande silêncio. Resolveram sair do esconderijo e voltar para casa.
Com cuidado pé ante pé foram descendo a rua escura.
Lúcia nunca poderia imaginar passar por esta situação.
Quando estavam muito próximos da casa ouviram um
grito e vários tiros de metralhadora começaram a ser disparados. Correram
muito. Seus amigos sírios conseguiram correr mais do que ela e por uma viela
cortaram caminho e conseguiram entrar na casa. Ela na escuridão se confundiu e
se perdeu por aqueles becos confusos. Os tiros continuaram e ela correu
apavorada.
Pensou na sua família e na juventude que perderia...
Passou a suar intensamente e a muito custo subiu para se proteger num monte de
escombros.
Viu os soldados se aproximando de forma desenfreada.
Num lampejo de lucidez se lembrou do poder do
feitiço que aprendeu e não teve dúvidas:
− “Icaro Virtute” bradou!
E numa rapidez incrível de braços abertos se lançou
ao alto.
Extenuada, ofegante ainda deu um grande suspiro e
ouviu a voz de sua mãe:
− Querida... acorde.
Sua mãe começou a acalmá-la, pois estava agitada e
balbuciava palavras sem nexo, saindo daquele pesadelo. Ainda confusa misturando
o sonho com a realidade exclamou:
- Mamãe, preciso aprender urgente novos feitiços,
porque só voar não adianta.
Quero
descobrir como poderei salvar pessoas e torná-las felizes sem guerras e que
possam viver em paz.
Sua mãe a abraçou e sorriu enigmática tentando entender
o que se passou com ela.
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