A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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terça-feira, 11 de junho de 2024

Rufo, um gênio ranzinza. - Alberto Landi

 


Rufo, um gênio ranzinza.

Alberto Landi

 

A história se passa numa cidade marroquina, Ouarzazate, localizada ao sul de Marrocos, conhecida por sua impressionante paisagem desértica e sua importância como centro cultural e turística.

É chamada de “A porta do deserto” devido à sua proximidade com o vasto e belo deserto do Saara.

Havia um gênio rabugento chamado Rufo que vivia em uma lâmpada mágica escondida em algum lugar do deserto.

Era conhecido por ser extremamente intolerante e ranzinza.

Passava seus dias reclamando do mundo e de todas as pessoas que ousavam esfregar sua lâmpada para libertá-lo.

Um dia, um jovem aventureiro chamado Nicholas descobriu Rufo durante uma expedição pelo deserto.

Ignorando as advertências sobre o gênio mal-humorado, esfregou a lâmpada e libertou Rufo.

Ao sair da lâmpada, olhou furioso para Nicholas e começou a resmungar sobre como o mundo estava cheio de tolos e como ele não suportava a humanidade. No entanto, Nicholas não se deixou intimidar pelo mau-humor. Em vez disso, ele decidiu tentar mudar o coração do Rufo rabugento. Com paciência e bondade, mostrou a ele que nem todos no mundo eram dignos de seu desprezo. Ele compartilhou histórias de pessoas boas e generosas que fizeram a diferença no mundo. Aos poucos, o coração de Rufo começou a amolecer.

À medida que os dias passavam, Rufo se viu cada vez menos irritado e mais tolerante com o mundo ao seu redor.

Começou a ajudar Nicholas em suas aventuras pelo deserto, usando sua magia para solucionar problemas difíceis que por ventura pudessem surgir.

Com o tempo, o gênio se transformou de um intolerante em um aliado leal e amigo de Nicholas. Viajaram juntos pelo deserto, enfrentando desafios e compartilhando risos. A lâmpada mágica finalmente se tornou um amigo para Nicholas, onde o ranzinza aprendeu a apreciar as maravilhas do mundo e as pessoas que o habitavam.

E assim o gênio encontrou a verdadeira felicidade ao superar sua intolerância e abrir seu coração para o amor e a amizade.

 

Buscas, sempre Buscas - parte 1 - Hirtis Lazarin




Buscas, sempre Buscas

Hirtis Lazarin

 

                                                  (parte I)

                                

Uma nuvem carregada e atrevida, em meio a uma manhã cheia de sol, pegou a todos de surpresa, inclusive Ana Amélia que saía bem apressada da farmácia. Mesmo que corresse, a sua roupa branca e impecável chegaria bem molhada até o carro, estacionado a duas quadras dali, ao lado da pracinha. 

Refugiou-se sob a marquise de uma cafeteria simples e acolhedora. Aproveitou esse tempo para tomar um cafezinho quente, pois achava que a chuva seria passageira. Tomou o segundo café, e nada! Estava impaciente, até chegou a pensar que os ponteiros do relógio caminhavam mais rápido do que sua obrigação exigia.

Infelizmente, a chuva não diminuía e Ana Amélia caminhava de um lado para o outro. Tinha pressa, muito trabalho a aguardava e o dia mal começara. Eram nove horas da manhã.

Ouviu, então, um barulho forte vindo do outro lado da calçada. Era um cesto de lixo enorme que acabava de cair. Esparramou-se uma montanha de papéis, cascas de frutas, restos de comida e tudo o que a nossa mente consegue imaginar…. Uma bola de basquete atirada com muita força e os meninos correndo atrás dela, foram os responsáveis pela desordem toda.  Os dois desapareceram em segundos, na primeira esquina, sem olhar para trás. Ana Amélia, que era toda certinha, irritou-se com esse comportamento irresponsável.  Gritou… gritou, mas os berros foram ao vento. 

Impaciente e irritada… Era assim que começava a sua terça-feira. Ligou para a sua empresa e acalmou os funcionários, já bem preocupados com a demora.        

E para completar o seu dia, do meio daquela sujeira toda, veio um som miúdo e choroso. O ronco barulhento dos carros e o som dos pingos da chuva batendo na fachada de zinco da cafeteria não a confundiram: era, sem dúvida, um latido sufocado.

Não pensou na roupa branca que vestia, nem no cabelo bem penteado. Correu ao encontro do animalzinho e agarrou-o com força. Ele latiu assustado, esperneou, tentou mordê-la, mas não conseguiu se soltar. Era frágil demais diante daquelas mãos fortes de dedos compridos e ágeis.

Ana olhou cuidadosamente para todos os lados… procurou E não identificou ninguém que fosse o dono do cãozinho. Um pedestre se aproximou e garantiu que ele vivia na rua.  Ela apressou os passos até o carro, mas o chão molhado e escorregadio atrapalhou a caminhada. E apesar de a chuva já ter diminuído bastante, dois seres ensopados e tremendo de frio encontraram abrigo no interior quentinho do veículo.

Um homem observava Ana Amélia, desde que ela deixou a farmácia. Discreto e sem chamar a atenção. Vestia calça jeans, camisa polo branca e suéter vermelho amarrado às costas: roupa do cotidiano, mas impecável e bem passada. Dava para ver o vinco na calça. Não sei se é ultrapassado ou não, mas... Ele tirou um bloquinho do bolso da camisa e anotou a placa do carro que saía lentamente da pracinha.

Depois de acender um cigarro e fumar sem nenhuma pressa, James entrou no prédio ali ao lado e, já no elevador, acionou o oitavo andar. Chegou às dependências da agência de publicidade, seu local de trabalho. Um funcionário compenetrado e atencioso, que soube vestir a camisa da empresa “Insight”. Joga um bombom na mesa da recepcionista que lhe agradece com um sorriso gordo e guloso. Apressa os passos, pois é avisado de que um cliente aguarda-o em sua sala.

 

Depois de vinte minutos, Ana Amélia chegou ao Pet Shop “Patas de Ouro”, onde era proprietária e veterinária. A atenção de todos, então, foi para a cachorrinha “shih tzu” que acabara de ser resgatada. 

Analisada cuidadosamente, verificou-se que não tinha nenhum ferimento externo; estava maltratada e faminta. Depois de um banho caprichado e alimentação farta, foi colocada junto aos outros cães do mesmo porte. O shih tzu é uma raça pequena, delicada e muito carinhosa. De origem chinesa, diz-se que dormia aos pés dos nobres.

Faltava-lhe um nome. A veterinária permitiu que fosse escolhido pelos três funcionários da casa. Depois de acertos e desacertos, aprovou- se o nome Lisy. 

A Lisy acabava de ser adotada. 

Ana trancou-se no banheiro para um banho demorado e roupas limpinhas.

Ana Amélia é filha adotiva de um casal sem filhos. Mal conheceu o seu pai.  Foi criada por Dona Ruth e com muito sacrifício. A morte do marido aconteceu de um jeito inesperado. Era um homem jovem, forte e foi vítima de um A.V.C fulminante. A menina cresceu, se tornou uma linda mulher e veterinária por vocação.   

Quando criança, interagia com os cachorros, não só numa brincadeira fofa. Era muito mais que um momento de entretenimento e prazer. Eram momentos de preocupação e cuidado. Trazia para casa animais abandonados que encontrava pelas ruas da cidade. Dona Ruth vivia com os cabelos em pé para acomodar e alimentar tantos bichos.

A jovem de vinte e três anos era feliz, amava sua família, mas vivia atormentada por uma pergunta que nunca lhe foi respondida: qual era sua origem e por que foi adotada. Sempre que questionava, a mãe ficava nervosa, irritada e fugia do assunto. A jovem usou todos os argumentos possíveis, mas nunca conseguiu ir além.

Por que esse mistério?



James trabalhava com prazer, mas tinha um hobby que preenchia seu tempo livre. Era uma pessoa ansiosa e não conseguia viver “sem ter nada pra fazer”. Por acaso, descobriu algo que o fascinou. 

Seu gato angorá, como sempre, saiu para o passeio de todos os dias. Saía e voltava, mas naquele domingo, Chico não voltou. Os dois viviam juntos há vários anos e nunca ficaram separados. Juntos viajavam, e juntos curtiam a vida.

O rapaz esperou mais um dia e o gato não apareceu. Comprou um livro sobre investigação, colheu informações e começou um trabalho minucioso. Examinando as câmeras da rua, acompanhou o percurso do bichano, desde o momento em que ele pulou o muro de casa e caminhou até a praça da cidade. No caminho, parou próximo a um cesto de lixo, saltou várias vezes tentando alcançá-lo, mas desistiu quando um vira-lata se aproximou rosnando. Dois garotos que subiam a rua brincaram com ele. Acho até que se conheciam. Chico continuou seu caminho na maior calma, chegou à praça, atravessou um canteiro de rosas, esgueirando-se dos espinhos, espreguiçou-se e, sem nenhuma pressa, desapareceu no interior do jardim.  Eram dez horas da manhã e nenhuma outra câmera, nenhuma outra pista foi encontrada. O angorá é um animal dócil, inteligente e brincalhão. Quem sabe alguma criança se encantou e o levou pra casa?

Passaram-se dez dias, James conversou com muita gente, visitou casas e mais casas. Já estava bem desanimado quando recebeu uma informação de que o levou até outro bairro da cidade. Era uma casa espaçosa e rodeada de árvores. Tocou a campainha várias vezes, sabia que não estava vazia. Um som alto de música clássica vinha lá de dentro. Depois de dez minutos, uma senhora idosa abriu, cautelosamente, a porta.  Atrás dela veio um menino carregando o Chico. O gato nem se mexeu quando viu seu verdadeiro dono. James ficou felicíssimo e triste, simultaneamente. Estava morrendo de saudade. Só depois de uma negociação cansativa, o angorá foi devolvido e trocado por outro igualzinho.

Ele agarrou o bichinho, entrou no carro e saiu cantando pneus. Estavam salvos.

Será que gato não se apega ao dono? Só se interessa por comida e um lugar quente pra dormir?


Eugênio, o gênio rabugento - Vanessa Proteu

 






Eugênio, o gênio rabugento

Vanessa Proteu

 

 Pedro, Sofia e Ester estavam brincando nos arredores do acampamento quando de repente: UAU!!! Avistaram algo extremamente brilhante no interior de uma gruta, eles olharam com carinhas assustadas, porém tendo em seus olhos um fio de curiosidade e esse fio teceu um sussurro vindo de Sofia, a mais corajosa entre eles:

— Vamos até lá!

Pedro recusou, Ester assentiu com a cabeça. Eram dois contra um, e assim não restou outra alternativa a não ser entrar na caverna e descobrir o que seria aquele objeto estranho. E lá foram eles contando os passos bem devagar, até verem que aquilo era uma lâmpada, mas não uma lâmpada comum com a qual eles estavam acostumados.  Era algo mágico, brilhante, esférico e com alças.  Sofia pegou o objeto e seus amigos gritaram:

— Sofia, não faz isso!

— Mas ela não se importou, pegou a lâmpada, esfregou-a com a borda de sua roupa e o objeto brilhou ainda mais, de modo que todos cobriram os olhos. E, quando abriram se depararam com ser magricelo com barbas e bigodes espichados.

— Quem é você? - Disse Pedro e a criatura respondeu com voz firme:

 — Eu sou Eugênio, moro nessa lâmpada.  Por que me incomodam, crianças levadas? Se pensam que vou ajudá-las a encontrar o caminho de casa, estão muito enganadas. — Esbravejou enquanto alongava os seus braços finos e limpava a garganta.

A mais falante do grupo respondeu:

 — Nós nem estamos perdidos, apenas ficamos curiosos!

— Pois saibam que curiosidade matou o gato. - Completou o gênio.

— Mas a gente te libertou. - Pedro disse, com as palmas das mãos voltadas para cima.

Eugênio retruca alegando não ter pedido nenhuma ajuda, mas as crianças insistem:

— Poderia ao menos agradecer, está todo amassado. Aposto que está melhor aqui fora. Hahahaha - riram.

— Crianças petulantes!!! Era para eu ter sido encontrado por adultos, pelo menos esses sabem o que querem, assim eu poderia realizar-lhes três desejos.

As crianças cochicharam:

— Ele falou desejo?

— Sim, eu ouvi...

Elas se voltaram para Eugênio e falaram quase que em couro:

— Por favor, realize nossos desejos!!!

 Eugênio, rabugento que só, disse em tom de superioridade:

— Por que eu faria isso?

— Porque nós queremos ser seus amigos, argumentou Pedro. O gênio pensou por um instante e ainda cheio de si virou-se para eles e disse que tudo bem, apesar de ele achar que não precisava de amigos.

 — Acho que vai ser divertido, mas vou conceder apenas três desejos. Decidam quem os receberá.

As crianças se entreolharam e decidiram que cada uma faria um pedido ao gênio.

A primeira, como já era de se esperar devido à personalidade impulsiva, foi Sofia. Ela pediu ao gênio que ela e seus amigos nunca se separassem. Eugênio imaginou que a menina fosse pedir algo material e ficou surpreso com o pedido. Assim, girou em volta dos três e eles foram envolvidos por uma luz forte e essa luz foi se transformando em um arco-íris e o gênio disse que o desejo da menina tinha sido realizado.

A segunda a pedir foi Ester, pois Pedro era um cavalheiro, e deixou que as meninas pedissem em sua frente. Ester pediu ao seu novo amigo que todas as crianças pudessem ter brinquedos iguais a ela. Então, Eugênio rodopiou em torno deles e mais uma vez a luz os envolveu e gotículas douradas caíram sobre eles e o gênio disse:

— Seu desejo se realizou.

Por último, Pedro... Todos estavam ansiosos para saber o que o garoto ia pedir. Havia tantas coisas se passando na mente das meninas e de Eugênio. O que será que Pedro vai pedir? Tentavam adivinhar em seus pensamentos.

— Então, criança, faça logo seu pedido. Diga o que você quer e me deixem em paz.

Então Pedro deu um sorrisinho sarcástico deixando à mostra a covinha de amor em sua face e disse:

— Eu quero que o gênio se torne criança e seja nosso amigo!

E as meninas gritaram e comemoraram o pedido de Pedro, e o gênio ranzinza teve que atender o pedido do menino. Abandonar a lâmpada onde passou a vida inteira espremido e ser uma criança. Mais uma vez, a luz tomou conta deles, era como se um imenso raio de sol os contornasse, mas a temperatura estava agradável. Todos fecharam os olhos e, quando abriram, o gênio rabugento havia sumido com sua lâmpada mágica.

As crianças saíram dali e, na segunda-feira, foram para a escola. Estavam empolgadas para contar aos amigos o que havia acontecido. Então, em meio ao zum-zum-zum, a professora pediu silêncio:

— Shhh! Crianças, fiquem quietas! Quero apresentar a vocês seu novo colega de classe.

Para a surpresa de Pedro, Ester e Sofia, o nome do seu novo colega era Eugênio. Mas agora ele não possuía uma lâmpada e não era mais tão rabugento.




O Gênio da Caverna Perdida - Adelaide Dittmers

 

 

 


O Gênio da Caverna Perdida

Adelaide Dittmers

 

Mishu, o gênio, estava encolhido na lâmpada e olhava através do vidro para a escura caverna.  Irritado e cansado, esfregava o grande nariz na lâmpada. Estava preso ali há muito, muito tempo.  Não aguentava mais.  Queria ser livre, mas ninguém entrava ali naquela caverna perdida no alto de uma montanha.

De repente, ouviu gritos, risadas e passos, que ecoavam pelo lugar.  Ficou alerta.  Sentiu uma luz ofuscar seus olhos.

— Vejam o que achei! Uma lâmpada linda! Deve ser muito antiga! Exclamou excitada uma menina de uns onze anos.

O gênio saiu da lâmpada, furioso.  Uma nuvem luminosa o envolvia e clareou tudo à sua volta.  As quatro crianças assustadas saltaram para trás, encostando-se na parede úmida.  Apontando o dedo magro para a menina, gritou:

— Como você ousou jogar essa luz forte em meus olhos?

As mãos da menina tremeram e mal conseguiam segurar o farolete. Com muito medo, perguntou:

— Quem é você? O que faz nessa lâmpada?

— Sou o gênio da lâmpada. Nunca ouviu falar de mim?  Respondeu com uma voz cheia de raiva.

— Você é o gênio da lâmpada maravilhosa? Gaguejou.

— Sou. E olhou ao seu redor.  Um menino e mais duas meninas estavam imóveis. Olhos arregalados e bocas abertas.

— Sou Marina e eles são meus primos: Nicolas, Marie e Stella.

— O que estão fazendo aqui?

— Ficamos curiosos para ver o que tinha nessa caverna.  Gostamos de aventuras. Mas, e você, por que está nessa lâmpada?

O gênio ergueu os braços compridos e magros e se contorceu para sair um pouco mais da lâmpada.

— Estou preso há muito tempo.  Quero sair daqui!

— E por que não sai? Perguntou o menino de cabelos cacheados.

O gênio fez uma careta

— Não consigo sair sozinho.

A menina de cabelos louros e encaracolados estendeu a mãozinha para ele.

— Vou puxar você daí.

— Não, não é assim! Primeiro vocês pedem o que mais querem e eu dou para vocês.

As crianças olharam umas para as outras com olhos brilhando de felicidade.

A menorzinha de olhinhos puxados fez uma careta divertida, começou a dançar.

— Eu quero um unicórnio de verdade.

E um pequeno unicórnio colorido surgiu nos braços dela.

Os outros se olharam espantados e maravilhados. Mais do que depressa, a loirinha exclamou:

— Eu quero uma boneca, que converse e brinque comigo.

Uma linda boneca apareceu em seus braços.

O menino de cabelos cacheados gritou, enquanto pulava de alegria:

— Eu quero a bola de futebol da copa do mundo.

O gênio jogou a bola para ele.

Falta você, menina do farolete.  Ela olhou para ele e sorriu:

— Eu quero que você saia dessa lâmpada e seja livre. 

O gênio passou a mão magra pelo rosto pálido para esconder uma lágrima e disse com voz emocionada:

— Pois você vai ganhar este anel e poderá fazer o pedido que quiser. E estendeu um belo anel com uma pedra rosa para ela.

O gênio foi saindo de sua pequena prisão e parou em frente deles.  Eles miraram com alegria aquele senhor alto, de barbas grisalhas, que sorria para eles.  Batendo palmas, gritaram:

— Agora temos um amigo mágico! Agora temos um amigo mágico!

O gênio olhou para eles e disse que seriam sempre muito amigos.

Saíram da caverna. O velho piscou, quando a luz do sol da tarde o atingiu e parou para apreciar a paisagem à sua volta.

— Onde você vai morar? Perguntou uma das crianças. E as outras concordaram.

— Não esqueçam que sou mágico e vou arranjar uma bela casa para mim e quero que vocês vão sempre lá brincar comigo.

— Ebaa! Gritaram as crianças:

— Vai ter uma piscina com um escorregador bem grande? Perguntou a loirinha.

— Um pula-pula!  Disse a menorzinha careteira.

— Um campo de futebol.  Gritou o menino de cabelos encaracolados.

— Pois eu gostaria de jogar xadrez com você. Disse a menina maior.

O velho deu uma gargalhada:

— Vamos nos divertir muito!

E seguiram pelo caminho rindo e brincando.

 

 

MAS, QUE COISA! - lberto Landi

 




Mas, que coisa!

Alberto Landi

 

Catarina era natural de uma pequena cidade do interior do Paraná, Arapongas.

Todos os habitantes tinham o costume de dizer, “Mas, que coisa! ¨, para expressar surpresa, alegria, indignação ou qualquer outra emoção intensa.  Era como se isso fizesse parte do DNA daquela comunidade.

Certo dia, um estranho, procedente de Minas Gerais, chegou à cidade. Ele era um escultor, conhecido naquele Estado por suas obras de arte incomuns e surpreendentes. Ao ouvir as pessoas locais repetindo constantemente a expressão, “mas, que coisa!”, teve uma ideia simplesmente brilhante.

Decidiu criar uma gigantesca escultura utilizando materiais reciclados e muita criatividade, deu vida a uma obra única que retratava a diversidade de emoções e significados por trás da famosa expressão.

A escultura foi colocada na praça central e, quando inaugurada, havia até uma pequena banda homenageando o escultor. Todos ficaram boquiabertos, pois as cores vibrantes, as formas abstratas e a energia pulsante da obra deixaram todos os habitantes sem palavras. Era como se a expressão, “mas que coisa! ”, tivesse sido transformada em algo tangível.

A escultura se tornou orgulho da cidade, atraindo visitantes de todas as partes.  As pessoas passavam horas admirando os detalhes, tentando decifrar os significados ocultos por trás dessa obra de arte.

E assim ganhou um novo significado naquela cidade. Deixou de ser apenas uma frase comum e se transformou em um símbolo de criatividade, surpresa e celebração.

Com o decorrer dos anos, Catarina mudou-se para São Paulo, se instalando próximo ao Horto Florestal.

Diariamente saía com o seu cão Rex, para passear no horto, e devido às traquinagens que fazia, ela com frequência usava essa expressão, lembrando-se dos tempos vividos em Arapongas e principalmente da incrível escultura que tornara aquela pequena cidade conhecida em todo o país.

Certo dia, Rex avistou um coelho e saiu correndo atrás dele, arrastando Catarina pela coleira. ¨Mas, que coisa", exclamou, tentando segurar o cão. Depois de muita confusão, conseguiram continuar o passeio em paz para aproveitar o restante da tarde!

 

 

UMA ESTRANHA AVENTURA! - Dinah Ribeiro de Amorim

 



UMA ESTRANHA AVENTURA!

Dinah Ribeiro de Amorim

 

Joãozinho e Cláudia, dois irmãos em idade escolar, estão ansiosos com a chegada das férias. Costumam passar alguns dias no sítio de vovô Alberico, um vovô alegre, cheio de novidades, é quando conhecem muitas histórias e aventuras.

Chega o mês de janeiro e, após os feriados de final de ano, os pais decidem levá-los ao sítio do avô, um lugar afastado, fora da cidade de Ourinhos, onde o velho Alberico, cansado da cidade grande, refugiou-se e acumula livros de histórias e suas tralhas, como ele próprio diz.

As crianças o amam, sendo esse idoso o melhor divertimento, no momento, em suas vidas.

Assim que chegam, após as arrumações costumeiras, já perguntam quais serão as novidades do dia.

Vovô Alberico, com seus olhinhos curiosos e olhar matreiro, senta-se com eles ao redor de uma mesa de tronco, a escrivaninha, e abre um livro de capa dura, cheio de desenhos, mapas e letras.

Curiosos, Joãozinho e Cláudia, já interessados, perguntam o que ele procura.

— Estava esperando vocês chegarem para mostrar um desenho estranho, diferente, que achei por essas bandas, feito há muitos anos, por antigos habitantes dessas terras. Perguntei na cidade se alguém sabia sobre ele, mas ninguém respondeu. Ninguém sabe, ninguém viu.

— Nossa, vovô! O que é? Nas suas terras? Perguntam os meninos.

— Sim, responde vovô, olhem só! Uma enorme caverna, com desenhos feitos de água, tão bem feitos, que parecem esculturas com mãos de homens, atrás da montanha, algumas léguas daqui.

Os meninos observam o desenho e se encantam. “Precisamos conhecer! Quando iremos até lá? ”

Vovô coça um pouco o resto de barba do queixo e responde:

— Talvez amanhã, se acordarem bem cedo. Pode ser.

À noite, as crianças mal dormem, já curiosas e aflitas, ansiosas para conhecerem o tal lugar.

Saem no escuro, com o frio da madrugada e veem os primeiros raios de sol surgirem, aos poucos, durante a caminhada.

Andam por horas e, um pouco cansado, Joãozinho pergunta ao avô se estão no caminho certo.

Vovô Alberico responde que já avista a montanha, agora é subi-la e descerem o lado oposto.

O menino olha a irmã meio admirado, sem falar nada, mas com um olhar que dizia tudo. Será que iriam aguentar?

Cláudia responde logo: “Se vovô aguenta, nós também! ”

Começam a subir a montanha com o Sol já alto, param lá em cima para descansar, tomam a água do cantil, e mais dispostos, iniciam a descida.

Chegam ao sopé da montanha, uma hora depois, quando descansam novamente, para olharem o mapa e andarem na direção certa. Parece uma mistura de caminhos, meio difícil de localizar. Mas, vovô, experiente e hábil, escolhe o provável. Uma terra meio batida, quase sem grama ou plantação, parecendo antiga passagem de humanos ou bichos.

As crianças, mesmo cansadas, se sentem como os antigos exploradores, entusiasmadas em descobrir algo.  Percorrem matos, vegetação alta, vegetação baixa, atravessam riachos, pulam pedras, até chegarem numa região plana, com pequenos arbustos cheios de flores, cobertos por bromélias coloridas.

Param, extasiados e vovô exclama:

— Estamos perto.

Andam um pouco mais e chegam à entrada de uma grande caverna, incrustada numa rocha. Parecia outra montanha, só que não de terra.

Vovô Alberico entra primeiro e chama os netos para o seguirem. Caminham vagarosos, não sabem o que irão encontrar.

Percebem que do teto caem formas delicadas e coloridas, parecem de vidro, e formam desenhos ou pingos formosos, que impedem a passagem. “São as estalactites, explica vovô, uma maravilha da natureza, existente em algumas cavernas de rocha, quando a água se infiltra e desce formando desenhos que se congelam no ar. Quando sobem do chão, chamamos de estalagmites e vão em direção ao teto. ”

— Que coisa mais linda! Exclamam os netos. Já acham que valeu a pena a viagem. Nunca haviam visto isso, tão de perto. O avô era mesmo uma pessoa extraordinária...

Joãozinho caminha mais um pouco e exclama:

— Olha vovô, uma luz vem lá do fundo! Deve ter uma saída.

— Não sei não, filho. Essas cavernas são geralmente fechadas, mas vamos seguir a luz, responde vovô, também curioso.

Percorrem os três a comprida caverna e percebem que a luz vem de uma lâmpada dourada, tampada, semelhante às lâmpadas das histórias de duendes e fadas.

— Que bonita, exclama Cláudia e corre a pegá-la, acariciando-a levemente.

A lâmpada, num repente, dá um salto e cai ao chão, deixando-os assustados.

Abre-se com estrondo, e salta de dentro dela um ser muito estranho, meio esverdeado, rodeado de fumaça, comprido e magro, com barba e bigodes pretos. Suas orelhas finas e altas, assemelham-se aos coelhos enjaulados.

Um grande cone vermelho sobre a cabeça, esconde o cabelo e a testa, como pontudo chapéu. O olhar preguiçoso e sonolento, dirige-se a eles em interrogação.

Vovô Alberico e os netos, diante dessa visão estupenda, caem ao chão, de boca aberta. Não conseguem emitir nenhum som.

A figura estranha, de voz rouca e língua fina, que sai de uma boca estreita, dirige-se a eles e pergunta o que desejam.

O vovô, refazendo-se do susto, acostumado aos mistérios da vida, pergunta quem é ele? Há quanto tempo está preso naquela lâmpada?

Ele responde, com dificuldades para controlar a língua:

— Sou um ser mágico, habitante de outra galáxia, caí nestas terras e seus habitantes, com medo dos meus poderes, prenderam-me dentro dessa lâmpada. Só seria solto quando alguém, com carinho, viesse me soltar. Isso há mais de mil anos. Aconteceu hoje, nas mãos da menina linda que se agradou da lâmpada.

Aos poucos, foram vencendo o medo e Joãozinho, ainda trêmulo, pergunta o seu nome.

— Chamo-me Docimedor, o gênio fantástico, e fui incumbido de distribuir favores a todo aquele que me procurasse. Esse era o meu trabalho, no meu mundo, e seria também aqui, onde caí. Faz tanto tempo que fiquei preso que nem sei se ainda tenho poderes.

E continuou dirigindo-se a eles:

— O que gostariam que eu fizesse?

As crianças se entreolharam, admiradas, e vovô coçou novamente a curta barba, espantado e pensativo.

Cláudia e Joãozinho gostariam de voar, percorrer o sítio do vovô com asas, como se fossem pássaros. Vovô Alberico, após algumas hesitações, queria seu terreno todo plantado, muitos pés de café.

Docimedor matutou, matutou e, após grandes esforços, desculpou-se com eles. Achou que perdeu seus poderes, estava muito velho e o melhor seria dormir de novo, dentro da lâmpada.

Cláudia, compadecida, mesmo achando-o repelente, não deixou que fizesse isso. Abraçou-o e o encaminhou para fora da caverna e ele, ao olhar para o céu, num impulso, foi subindo, subindo, até que sumiu entre as nuvens.

Vovô Alberico, Cláudia e Joãozinho, boquiabertos ainda, sem fala, não acreditaram no que tinham visto. Se contassem para alguém, seriam tidos como loucos.

Cabisbaixos, encaminharam para a volta. Sem comentários. Não conseguiam falar.

De repente, as crianças, ao subirem novamente a montanha, abriram os braços e deram, muito espantadas e maravilhadas, um grande voo até chegarem ao sítio.

Vovô Alberico, rápido em caminhadas, ao contornar o pico da montanha, avista suas terras, ao longe, repletas de pés de café, carregados, prontos para a colheita. Avermelhados, os frutos maduros brilham ao sol.

Anoitece, cansados pelo passeio e pela emoção da aventura, encontram-se os três em casa, ao redor da mesa de tronco, com vovô pegando um lápis e dando-lhes uma folha de papel.

— Escrevam, meus netos. Escrevam e contem tudo o que viram e fizeram. É preciso que todos saibam essa história!

 

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