O DESCASO
Um exemplo de serenidade e sangue-frio.
Leon Alfonsin Vagliengo
Um homem vinha por uma rua tranquila, acompanhado de dois cães policiais. Era uma rua curta e estreita, com apenas dois quarteirões, e àquela hora da noite nunca tinha movimento nenhum.
Os animais deviam ser bem treinados, pois andavam à solta, sem guia, e vinham cheirando tudo o que encontravam pelos cantos, atravessando a via em zigue-zague, indo e voltando de calçada para calçada, ainda sem perceber que no outro extremo da rua, um gato, deitado confortavelmente bem no meio de seu leito, os observava, impávido, imóvel, inexpressivo, mas atento, revelando sua absoluta tranquilidade e autoconfiança.
Enquanto o perigo se aproximava, em certo momento o gato apenas moveu sua cabeça para um lado, calmamente, certamente para avaliar sua rota de fuga, voltando-a de novo para a posição inicial, e seguiu mantendo-se naquele aparente estado de nirvana e absoluta paz interior, sem mostrar amofino com o movimento dos cães, que vinham, aos poucos, chegando.
Quando já estavam a alguns metros e, finalmente, o viram, estes dispararam em sua direção numa desabalada e feroz carreira, evidentemente alimentando péssimos propósitos em relação à saúde do felino.
Porém, o gato, num triz, saltou para a calçada e dali para um muro bem alto, onde encarapitou-se, e de lá voltou a observar os cães, agora com aquele inexpressivo olhar de descaso, próprio da espécie.
Isso tudo eu vi de longe, sem poder interferir. Confesso que me “deu nos nervos”.
Moral da história: Numa disputa, nunca se deixe
surpreender pelo pulo do gato.