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segunda-feira, 17 de outubro de 2016

PARCERIA QUE DEU CERTO! - (Amora – 2016)


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PARCERIA QUE DEU CERTO!
(Amora – 2016)

Ademir passava todas as manhãs, pela minha rua, com sua carroça desgastada, mal equilibrada, fazendo barulho, pelo excesso de uso. Pedia jornais velhos, garrafas, roupas usadas, tudo que pudesse levar e rendesse algum dinheiro, nos mercados de troca ou reciclagem.

Sua aparência também não era das melhores. Meio sujo, suado, roupas rotas e desbotadas, revelavam o lugar que morava. A rua, talvez.

Acostumamo-nos com ele, com sua freqüência diária. Preparávamos sempre algo em bom estado que ele pudesse vender. Quando as crianças iam jogar fora brinquedos velhos, caixas, papéis de presentes, lembrava--os de Ademir e deixavam separado.

Aprenderam também a gostar dele. Vivia cantando e brincando, contando histórias engraçadas, fazendo-os rirem muito. Era esperado no bairro.

Um dia, conheceu Isaura, uma mulher também pobre, de aparência sofrida e rude, mas bastante esperta e mais inteligente que ele. Começaram a trabalhar juntos.

Isaura, bem mais moça, transformou a aparência de Ademir. Começou a usar roupas melhores, mais limpas, mudando também a visão da carroça velha. Surgiu pintada, enfeitada com flores de papel, rodas novas, rangendo menos e atraindo melhor freguesia. Acompanhava-o em seu trabalho diário, bem trajada, colorida, portando um radinho a tiracolo, com músicas alegres e altas, dançando muitas vezes à frente da carroça para chamar clientela.

Em pouco tempo, Ademir prosperou. Ao invés de pedir coisas velhas, passou a vender as que ainda estavam em bom estado ou, fazer trocas. Sua vida foi mudando, até que comprou uma carroça nova, guiada por um cavalo, fazendo parte das outras chiques, que trabalhavam no parque central da cidade. Levava crianças e turistas, a conhecerem os lugares mais bonitos da região. Virou trabalhador de turismo.

De morador de rua, logo mudou para pequeno barraco de dois cômodos, com boas perspectivas de melhorar ainda mais, convivendo com Isaura.


Sentimos um pouco sua falta, mas desejamos que todo carroceiro encontre uma Isaura na vida, levando-o à prosperidade.

Ajuste - Jany Patricio

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Ajuste
Jany Patricio

            Tudo começou quando certa rede de cinemas ligada a um grande banco fez uma reforma em duas de suas salas na Rua Augusta. As cadeiras ficaram maiores, não me permitindo apoiar as costas nem por os pés no chão. Felizmente, na reforma das outras três salas na mesma rua, os bancos ficaram como eram antes.

            Uma sala de outra rede de cinema também foi reformada, bem como o teatro, ambos no Conjunto Nacional, na Avenida Paulista. Os bancos ficaram grandes. Tive que riscar os dois da minha lista.

            Eu adoro cinema e teatro e ter estas quatro salas cortadas das minhas possibilidades me deixou limitada.

            Num sábado, eu e algumas amigas marcamos de ir ao cinema depois sair para jantar. Fomos ao Reserva Cultural. As cadeiras eram grandes. Lembrei que em alguns cinemas têm uma banqueta e fui procurar. Que maravilha! Lá havia o apoio de pés e pude me divertir tranquila assistindo Maryl Streep em Florence, Quem é essa mulher? Ela está hilária neste papel. Passamos momentos agradáveis, saboreando comida árabe, bebendo chopes ou sucos, conversando e rindo.

            Outro dia eu e uma amiga compramos ingressos no cine Belas Artes para assistir Julieta, um filme de Almodóvar. Eu já estava com dor nas costas por esforços no final de semana e ao deparar com os assentos grandes do cinema não tive coragem de sair deixando minha amiga desapontada. Por sorte o filme era bom e me deixou envolvida por duas horas. No dia seguinte minha coluna estava travada. Tive que parar de ir a academia, de caminhar no parque, ia começar aulas de dança e não pude. Até hoje me trato com fisioterapia e acupuntura.

            Passando em frente a um dos cinemas resolvi verificar se haviam colocado à disposição do público os tais aparelhos. Não haviam. Falei com a pessoa da bilheteria que me deu o telefone da administração. Liguei. Fui atendida cordialmente. Expliquei o meu caso. De início ela me aconselhou a carregar um banquinho. Eu retruquei dizendo que o volume é grande e que às vezes a decisão de assistir a um filme é momentânea. Disse também que no Reserva Cultural tem o banquinho e me parece que lá não há filmes infantis na programação. Cheguei a falar que é uma questão de acessibilidade. Ela, gentil e atenciosa disse que levaria o meu caso para os administradores. Ainda não fui lá conferir nem liguei para o cine Belas Artes, mas vou ligar!

            Acredito que outras pessoas de baixa estatura devam passar pela mesma situação, porém, não reclamam. Aliás, foi assim que falou a moça da bilheteria. – Nunca ninguém falou nada.

            Como a altura da população vem aumentando, não acho incorreto que os assentos fiquem maiores. Porém pode-se ser feito o ajuste para as pessoas de menor estatura disponibilizando as banquetas em todos os cinemas.

            Acho que vou carregar esta bandeira...


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