Corda
Bamba
Adelaide
Dittmers
Antonio
recostou-se na espreguiçadeira do hotel.
Os olhos perdidos na imensidão do oceano. Sentia-se cansado. O acúmulo de responsabilidades
do cargo que exercia naquela grande empresa americana, o estava deixando
estressado.
As
críticas veladas de seus pares ao presidente pela cobrança de informações
necessárias ao bom funcionamento de sua área de trabalho chegavam ao seu conhecimento
e o estavam deixando muito incomodado e inconformado por não chegarem
diretamente a ele. Sentia-se traído.
Ocupava
esse cargo importante por sempre ter se dedicado e se esforçado para alcançar
os objetivos da empresa. Não conseguia
entender a displicência dos outros departamentos em lidar com questões
importantes para o sucesso dos negócios.
O
olhar de raiva e desprezo de Maurício, na última reunião, não saía de sua
memória, por ele apontar vários
erros em sua gestão. Cruzou e descruzou
as pernas para livrar-se do incômodo que esse pensamento lhe causou.
A
imensa área sob seu controle funcionava como um relógio suíço. Seus funcionários eram eficientes e
constantemente treinados, incentivados e elogiados pela dedicação aos seus
trabalhos. Era um bom chefe e se sentia
admirado e estimado por eles.
O
problema era a empresa em geral, que tinha muitos problemas a resolver. O
presidente parecia aberto aos seus conselhos, mas sempre muito cauteloso em
aceitá-los. Ultimamente, Antonio estava
impaciente e demonstrava isso com atitudes descontentes, e seu nervoso vinha à
tona com frequência.
Até
que na última reunião, o presidente diz-se estar muito preocupado com ele e que
deveria tirar umas férias para não ter um esgotamento nervoso
Ficou
surpreso com essa sugestão, mas realmente achou que tinha que descansar um
pouco. E, por essa razão, estava ali naquele luxuoso hotel em um lugar
paradisíaco para colocar as ideias no lugar, tentando equilibrar seu estado de
espírito que ultimamente balançava de um lado para outro em um mar de dúvidas
sobre si, sobre aqueles que o cercavam e sobre certas questões administrativas.
Balançou
com vigor a cabeça de um lado para outro para expulsar seus pensamentos,
depositou o copo na mesinha e levantou-se num ímpeto. Respirou fundo. Precisava caminhar. Foi até a beira do mar e
parou por um momento, deixando as ondas lamberem mansamente seus pés. O contato com a água o levou a um delicioso
torpor.
Começou
a andar devagar pela extensa praia de brancas areias. A brisa marinha aliviava
o calor do sol. Uma sensação de paz, há muito não sentida, o invadiu e ele
seguiu pela orla despreocupado, sentindo uma suave energia. O cheiro salgado do
mar entrava pelas suas narinas e sua alma.
De
repente, uma mão o agarrou com força, por trás.
Tentou virar o corpo e se desvencilhar, mas não conseguiu, algo pontudo
perfurou um flanco de seu corpo e, quando se virou com dificuldade, viu um
homem desconhecido correr para fora da praia, embrenhando-se na vegetação
costeira. A dor o contorceu, mas juntando todas as suas forças, foi capengando
e arrastando os pés para alcançar o hotel. Chegou ao jardim, quando então
perdeu os sentidos.
O
alvoroço se espalhou pelo local. Pessoas
correram para socorrê-lo. Gritavam umas
para as outras para que fosse chamada uma ambulância. Um hóspede amarrou uma toalha fina em volta
dele para estancar o sangue e deu ordens para carregá-lo até uma van
pertencente ao hotel. Não havia tempo
para perder. Gritou ele.
Internado
na emergência do pequeno hospital da cidade, teve que ser submetido a uma
cirurgia de urgência. Permaneceu alguns
dias no hospital e logo que estava melhor partiu para São Paulo. Não quis que a
família fosse avisada para não assustá-la.
Quem
teria planejado esse ataque, não foi um assalto. Ele não levava nada para ser roubado, apenas
o celular, que permaneceu em seu bolso. Sua cabeça latejava mais que o
ferimento. Maurício não gostava dele. Não, ele seria incapaz. Esses pensamentos
o atormentavam.
Vários
funcionários da empresa e o presidente foram visitá-lo. O misterioso
acontecimento espalhou-se pela empresa como um rastro de pólvora. Cada um dando
sua versão do que poderia ter acontecido.
Completamente
recuperado, voltou à empresa. Todos o
receberam efusivamente, até os supostos desafetos manifestaram solidariedade
pelo acontecido.
Uma
nuvem negra, porém, pousava sobre ele. Quem fizera aquilo e por quê? O seu
temperamento forte não era motivo, nunca prejudicara ninguém. Se o suposto facão tivesse sido enterrado um
pouco mais fundo, ele não teria se salvado.
Quem teria desejado sua morte?
Chegou
ao seu escritório e sentou-se, estendendo as pernas e os braços para tentar
relaxar. Um envelope pardo, em que se
lia em letras garrafais “Confidencial”, endereçado a ele, estava sobre a
escrivaninha. Pegou-o curioso e o virou.
Quando leu o remetente, jogou o corpo para trás para absorver a
surpresa. A carta vinha da presidência do grupo, cuja sede era nos Estados
Unidos.
‘Por
que eles estavam lhe enviando uma carta confidencial diretamente para ele? ’
Perguntou-se.
Com
muito cuidado, abriu o envelope.
Conforme foi lendo, sua expressão foi ficando alterada. Nela foi avisado que o presidente da empresa
brasileira tinha feito um grande desfalque e perceberam que ele, Antonio,
estava muito perto de descobrir pelos relatórios e documentos enviados a eles.
Por meio dessas informações, fizeram uma grande e secreta investigação e
chegaram ao presidente. Pediam também para se manter discreto e disfarçar o que
estava acontecendo até que o homem fosse indiciado.
Então,
fora essa a causa verdadeira da sugestão de afastá-lo. Lembrou-se que muitas vezes comentou com o
chefe que alguma coisa estava acontecendo com as contas da empresa.
Um
sorriso irônico surgiu no seu rosto crispado pela incredulidade. A empresa precisava
mesmo de gente competente, o homem nem fora capaz de articular um crime
perfeito. E, sem poder se conter, caiu numa gargalhada.