O VIOLINISTA NO TELHADO
Henrique
Schnaider
Conde Wlad, possuía vários castelos na região da
Valáquia, atual República da Moldávia. Era um homem poderoso, muito cruel, com fama de empalar seus inimigos. Era um guerreiro que só conhecia vitórias, percorria
suas terras, visitando seus domínios, demonstrando poderio.
Seus aldeões, sentiam o cheiro do sangue pestilento
da morte, quando de sua passagem. Se algo lhe desagradasse, os castigos eram severos, terríveis. Havia um sentimento muito grande de medo por parte do povo. Era um misto de temor, respeito e admiração pelo Conde Wlad, dicotomia
entre sentir-se protegido pelo seu Grão-senhor, e temor pelas atrocidades de que era capaz.
Suas façanhas eram muitas, a fama corria com a força
do vento dentro e fora de seus territórios. Era admirado e temido.
Certa feita, o Conde atravessava a região da antiga Bessarábia, próxima da Aldeia de British One, região da Transilvânia, e chamou-lhe atenção um violinista no telhado. O músico tocava uma melodia judaica tão leve que parecia plainar ao vento. As notas encantaram os ouvidos do guerreiro.
Wlad ordenou que trouxessem aquele mago do violino
para ter com ele. O dom da música, Deus dera a um homem simples que ao tocar o
violino, imediatamente seduzia quem ouvisse.
Wlad perguntou ao violinista qual era seu nome, ao
que ele respondeu, coçando a espessa barba ruiva, numa simplicidade de olhar
altivo incomum a uma pessoa do campo: — Moisés, senhor.
Contou que aprendera a tocar com seu pai, que por
sua vez, aprendeu com seu avô, e assim, este dom vem através de muitas
gerações.
O Conde ordenou que ele tocasse algo, para que apreciasse. Moisés não era apenas um músico, era inteligente e esperto. Então, tocou uma antiga melodia judaica, que justamente falava das crueldades dos senhores feudais, e do Conde Wlad. Tocou, mas não cantou a melodia, e Wlad que não conhecia a letra, não tinha conhecimento do significado da história que havia por trás daquela música. E, na verdade, o som do violino de Moisés era de uma beleza tão grande que impressionava a todos, que a letra era quase desnecessária.
O Conde Wlad ficou tão maravilhado, que o convidou
para seguir com ele sua viagem, e depois, quando voltassem, Moisés poderia morar
no castelo onde o Conde fixava residência, na Aldeia de Brina, na região da
Transilvânia.
Lá a fama que corria entre os lavradores, era de que
o castelo era mal-assombrado, o Conde praticava crueldades contra os inimigos
prisioneiros, e os empalava da forma mais cruel possível.
Foi neste ambiente que Moisés foi acolhido por Wlad.
Foi lá que passou a morar. Num ambiente com fama de possuir almas penadas, onde
a lenda o Conde Wlad que dormia num caixão podia ser verdadeira. Onde,
diziam, que às noites, o Conde rondava o castelo matando os prisioneiros e
sugando-lhes o sangue, se transformando, em seguida, em um tipo de um morcego Vampiro.
Embalado pela suavidade da música vindo das cordas
do violino, o Conde Wlad seguia com muita sede de sangue, o que o levou a
atacar a cidade de Corneja, onde uma grande batalha o esperava.
O encontro dos exércitos, foi terrível, sanguinário.
Wlad e seus soldados eram implacáveis, não haveria prisioneiros, apenas mortos.
Foram dois meses de atrocidades, até que o Conde tomou
de vez a cidade de Corneja, que passou a fazer parte dos territórios do
Guerreiro.
Os homens de Corneja sentiram a mão-de-ferro, o amargo sabor da derrota, a terra arrasada, muitos mortos, muitas perdas. O chão de onde brotavam alimentos, agora não nascia sequer o pasto.
Luta ganha, e o Conde voltou para o castelo
na Transilvânia, trazendo com ele centenas de prisioneiros, fonte de abastecimento
de sangue.
No trajeto de volta, passou pela Aldeia de British One,
onde morava Moisés. Desta vez, Moisés dedilhou uma música de sua autoria. A
melodia transcendia o tempo tocando o coração dos ouvintes. A emoção foi
tamanha, que o Conde deixou-se chorar, os olhos duros amoleceram.
Novamente, Moisés não cantou a letra, pois,
certamente, se o Conde a conhecesse, mandaria matar o violinista.
O músico nem poderia imaginar no sucesso que a letra
da música ganhou, foi imortalizada, através dos tempos. E, essa música, cuja
Wlad tanto gostara, atravessou séculos e chegou até nosso tempo. Revelava a letra a história do Conde Drácula,
que se transformava em vampiro, que era imortal, voava como morcego, sugava o
sangue das pessoas transformando-as em novos vampiros. Drácula só morreria
junto com sua maldição, com uma estaca em cruz cravada no peito.
Dizem as várias lendas que a melodia do violino que
Moisés tocava, era tão pura que foi traçando novas emoções nos corações duros.
A música foi provocando sentimentos bons, de tal forma que o Conde Wlad e seus
vampiros mudaram de vida e pararam de praticar tanto mal. O castelo do Conde
Wlad passou a receber as pessoas necessitadas, acolhê-las, e ajudá-las.
E, Moisés viveu ali até seus últimos dias, sempre tocando o violino para manter a paz no coração do Conde Wlad e de seus
vampiros. E, o castelo, assim, se viu
livre do mal.
* Veja aqui parte do filme O Violinista no Telhado:
https://www.youtube.com/watch?v=RBHZFYpQ6nc&t=65s
* Veja aqui algumas curiosidades do Conde: https://segredosdomundo.r7.com/vlad-o-empalador/