O TÍMIDO ESQUELETO
BRANQUINHO
Um conto bem infantil
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Branquinho é um esqueleto muito
especial. Vive sozinho, não tem filhos, não é casado. Recebeu esse nome
justamente porque é, mesmo, muito branquinho. Seu corpo é absolutamente magro,
feito só de ossos, e ele não tem medo de engordar, como as pessoas geralmente
têm, porque não come nada. Nada mesmo. Além de ser branquinho é também
completamente careca, o que o deixa muito engraçado e simpático. É um pouco
tímido, mas está sempre sorrindo, e os seus dentes brilham e se destacam em sua
cabeça redondinha. Com essa aparência tão leve e inofensiva, não entende porque
as pessoas fogem dele apavoradas quando o encontram pelas ruas em seus passeios.
Isso o deixa muito triste, porque parece que ninguém gosta dele.
Para evitar que isso aconteça, sabendo
que as pessoas geralmente têm medo de locais escuros, quando vai passear prefere
sair à noite e andar por ruas menos iluminadas, tentando não cruzar com ninguém.
Mas sempre aparece alguém que se assusta ao vê-lo e sai correndo, em desespero,
deixando-o cada vez mais chateado.
Ele não, não tem medo do escuro. O
que lhe dá medo, de verdade, é encontrar-se com algum cachorro faminto quando
sai para passear. Na verdade, ele gosta de cachorros, e tem muita vontade de
brincar com eles como fazia quando era uma pessoa inteirinha, mas para um
esqueleto esses bichinhos são muito perigosos porque gostam de roer ossos. Sabendo
como os cachorros gostam de roer ossos, Branquinho já imagina o quanto os
cachorros gostariam dele. Mas, que pena! Desse jeito não, não é assim que ele
espera ser querido.
Uma vez ele resolveu se aventurar.
Aproveitou que estava chovendo um pouco, criou coragem e se arriscou a sair em
plena luz do dia, pois estava com muita vontade de passear e não esperou o
anoitecer. Para não ser visto e não espantar ninguém, como sempre, caminhou
pelas ruas que lhe pareceram mais tranquilas, com a esperança de que as pessoas
não estivessem circulando por causa da chuva. Levou um grande guarda-chuva preto,
que serviria para que não se molhasse e também para escondê-lo, caso
encontrasse alguém no caminho. Se surgisse alguém, abaixaria o guarda-chuva e
ficaria atrás dele.
Quase deu certo. Passou uma pessoa,
ele se escondeu atrás do guarda-chuva e não foi visto; depois passou outra,
também não o viu escondido. Foi fácil porque eram poucas pessoas. Porém, com a
atenção voltada para o movimento na calçada, não se lembrou de se esconder de
quem passasse de carro.
E não é que vieram dois carros ao
mesmo tempo, um de cada lado? Quando os dois motoristas viram aquele esqueleto,
caminhando pela rua em plena luz do dia e ainda segurando um guarda-chuva, se
assustaram, perderam o controle da direção e deram uma bela e barulhenta
trombada: BLUUUM!
Percebendo que tinha provocado um
acidente, Branquinho também se assustou, arrependeu-se de ter saído para
passear durante o dia e resolveu correr de volta para casa; mas errou o
caminho, entrou numa rua movimentada, cheia de gente. Naquela corrida maluca os
seus ossos estalavam, fazendo muito barulho − plec, plec, plec − chamando a atenção de todo mundo por onde passava e causando
um grande alvoroço, muita gente fugindo e gritando, assustada com aquele
esqueleto que apareceu de repente correndo por ali.
Era tudo o que Branquinho não queria.
Nesse momento a chuva diminuiu e
agora era apenas uma garoa, mas ele ainda estava longe de casa. Foi quando começou
um vento muito forte, carregando muitas folhas das árvores bem na direção da
sua casa. Então, teve a ideia de levantar o guarda-chuva para que o vento o
carregasse também, pois é levezinho e iria muito mais rápido, sobrevoando
aquela gente toda.
E assim foi.
Logo, ao passar por uma esquina
voando pendurado no guarda-chuva, viu um jacaré verde que estava lambendo um
sorvete de morango. Indignou-se com aquela invasão, mas não conseguiu parar
para discutir, pois a ventania o levava. Porém, não conteve a exclamação:
— Que atrevimento! Esta não é história de jacaré! E ainda mais
de um jacaré tomando sorvete! Será que
eu vi direito? Que absurdo!
Por sorte, justamente aquele jacaré
verde que apareceu de repente na história errada, todo lampeiro, chupando
sorvete de morango sem ligar para a chuva, serviu para apavorar ainda mais as
pessoas, que já estavam assustadas com o esqueleto e agora corriam e gritavam também
com medo de levar uma mordida do jacaré. Bobagem delas, era um jacaré bem mansinho.
Foi a maior confusão!
Pendurado no guarda-chuva e levado
pelo vento, Branquinho foi deixando tudo para trás e finalmente conseguiu chegar
a sua casa, parar segurando-se no galho de uma árvore e aterrissar em seu
quintal. Seu alívio foi tão grande que até achou graça quando se lembrou do
jacaré e nem ficou bravo com a invasão de sua história. Mas desse dia em diante
nunca mais se esqueceu do tremendo susto e das fortes emoções que teve ao sair
à luz do dia. Agora só passeia à noite, mesmo.
Por falar nisso, quem sabe você ainda
se encontra com o Branquinho numa rua escura qualquer noite dessas, hein?