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terça-feira, 21 de maio de 2024

QUE COISA!!! - Helio Fernando Salema

 




 QUE COISA!!!

Helio Fernando Salema

 

 

Numa reunião entre amigos, sempre ocorria nos fins de semana, depois de uma partida de futebol, também conhecida como pelada dos veios. Eles começaram a falar de coisas estranhas que aconteceram. Algumas verídicas e outras, certamente, criadas pelo teor alcoólico e impulsionadas pelo interesse em participar.

 

Houve histórias das mais variadas, alguns mencionaram coisas acontecidas na própria família ou na dos vizinhos. Também de colegas de serviço, amigos e, como não podia faltar, coisas dos inimigos.

 

Depois que quase todos haviam matraqueado, Justino Leal, com a cabeça cheia das coisas ditas pelos companheiros, decidiu falar das coisas de seus parentes. Contou que na sua família todos haviam conseguido ganhar nessas coisas de apostas. Ele era o único que nunca acertou em coisa alguma.

 

Numa noite, seu tio sonhou com um cavalo branco, em disparada. Dias depois foi ao jóquei pela primeira vez. Mesmo sabendo que o cavalo branco, que iria correr naquele dia, era o menos cotado, hesitou por um momento, mas cedeu à voz do sonho e acabou apostando tudo que tinha. Ganhou e trocou o fusca 69 novinho, de cor azul, por outro fusca 69, porém branco… Que coisa! Só porque era o branco da sorte.

 

O irmão, mais velho, várias vezes acertou na coisa da quina. Numa dessas, ganhou tanto que deu uma festa para os amigos e familiares. Foi uma coisa fantástica.

Alguém, então, o interrompeu:

— Você aposta em qual coisa?

— Não, eu não credito nessas coisas!

Todos riram, acabou a reunião e ficaram sem saber se as histórias, eram ou não, coisas verdadeiras.

 


A MULHER DO ANACLETO - LIMA BARRETO - TEXTO PARA LEITURA

 




A MULHER DO ANACLETO

LIMA BARRETO

 

Este caso se passou com um antigo colega meu de repartição.

Ele, em começo, era um excelente amanuense, pontual, com magnífica letra e todos os seus atributos do ofício faziam-no muito estimado dos chefes.

Casou-se bastante moço e tudo fazia crer que o seu casamento fosse dos mais felizes. Entretanto, assim não foi.

No fim de dous ou três anos de matrimônio, Anacleto começou a desandar furiosamente. Além de se entregar à bebida,  deu-se também ao jogo.

A mulher muito naturalmente começou a censurá-lo.

A princípio, ele ouvia as observações da cara metade com resignação; mas, em breve, enfureceu-se com elas e deu em maltratar fisicamente a pobre rapariga.

Ela estava no seu papel, ele, porém, é que não estava no dele.

Motivos secretos e muito íntimos, talvez explicassem a sua transformação; a mulher, porém, é que não queria entrar em indagações psicológicas e reclamava. As respostas a estas acabaram por pancadaria grossa. Suportou-a durante algum tempo. Um dia, porém, não esteve mais pelos autos e abandonou o lar precário. Foi para a casa de um parente e de uma amiga, mas, não suportando a posição inferior de agregada, deixou-se cair na mais relaxada vagabundagem de mulher que se pode imaginar.

Era uma verdadeira "catraia" que perambulava suja e rota pelas praças mais reles deste Rio de Janeiro.

Quando se falava a Anacleto sobre a sorte da mulher, ele se enfurecia doidamente: — Deixe essa vagabunda morrer por aí! Qual minha mulher, qual nada! E dizia cousas piores e injuriosas que não se podem pôr aqui.

Veio a mulher a morrer, na praça pública; e eu que suspeitei, pelas notícias dos jornais, fosse ela, apressei-me em recomendar a Anacleto que fosse reconhecer o cadáver. Ele gritou comigo: — Seja ou não seja! Que morra ou viva, para mim vale pouco! Não insisti, mas tudo me dizia que era a mulher do Anacleto que estava como um cadáver desconhecido no necrotério.

Passam-se anos, o meu amigo Anacleto perde o emprego, devido à desordem de sua vida. Ao fim de algum tempo, graças à interferência de velhas amizades, arranja um outro, num Estado do Norte.

Ao fim de um ano ou dous, recebo uma carta dele, pedindo-me arranjar na polícia certidão de que sua mulher havia morrido na via pública e fora enterrada pelas autoridades públicas, visto ter ele casamento contratado com uma viúva que tinha " alguma cousa", e precisar também provar o seu estado de viuvez.

Dei todos os passos para tal, mas era completamente impossível. Ele não quisera reconhecer o cadáver de sua desgraçada mulher e para todos os efeitos continuava a ser casado.

E foi assim que a esposa do Anacleto vingou-se postumamente. Não se casou rico, como não se casará nunca mais.

 

Neste link você encontrará mais informações do LIMA BARRETO:

https://youtu.be/O7tA6_gtoQ0?si=e5mx0KOR-x3E30EM

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