Que segredos são
esses?
Hitis Lazarin
A lua, o brilho que encanta até crianças...
E com a gente não foi diferente.
Ainda molecas, mas bem curiosas, assim que o sol ia
embora, deitávamos na grama verdinha do quintal lá em casa. Ansiosas
esperávamos a lua chegar.
E lá vinha ela cheia, cheia de graça, cheia de
surpresas. E cada vez que vinha era como se fosse a primeira vez.
Contemplar e ver seus reflexos lustrando os telhados vizinhos,
velhos e encardidos, era pura magia.
Ali deitadas, brincávamos de descobrir o que ela
escondia dentro de si. E a cada dia, nossa cabecinha criativa via coisas
diferentes. Eram montanhas, pássaros voando, ETs, cavalo galopando, às
vezes com cavaleiros, outras vezes não. Ouvimos dizer que era São
Jorge armado de lança indo para a guerra. Mas, santo vai à guerra?
Não ousávamos discordar.
Nossa tristeza era saber que, em poucos dias, ela ia
diminuindo...diminuindo...até desaparecer por inteiro. Onde será que a
lua se escondia? Asas à nossa imaginação.
Ah! E ela tinha fases, fases como os adultos
têm, de alegria e de tristeza. E, na tristeza, preferia se
esconder. Acho que ela não queria chorar na nossa frente.
Respeitava a ingenuidade infantil.
Nós crescemos um pouco e a compreensão do mundo
cresceu junto, não tanto quanto deveria ser.
E, então, veio a triste notícia: a lua cheia é
sorrateira. Aproveita-se da luz do sol e brilha como se o brilho fosse só
seu. E que aquele luar perolado é a luz do sol que está sonhando. Não
gostei disso não. Lua malandrinha. Assemelha-se à minha amiga Joana
que copia do meu caderno as lições de matemática. Eu finjo que não
sei. Não gosto de brigar.
E mais outra novidade: a lua cheia é
tão cheia de mistérios que encanta e inspira poetas, músicos, pintores...
Dizem até que o lobo se apaixonou por ela. E
todo mês, cheio de saudade, sobe ao ponto mais alto da montanha e uiva
solitário por um amor que nunca irá tocar. E nas noites em que ela
desaparece, o lobo silencia e ela uiva para ele não chorar. Esse
lobo é muito ingênuo. Com tantas lobas desamparadas a vagar por essas
matas de Deus...
Leiam mais esta novidade: Até os rios são
enfeitiçados por ela. Deslizam chorando por não poder carregar a imagem
dela projetada em suas águas. Eu jamais acreditaria nessas
historinhas.
Chegou a vez dos amantes, amores
proibidos. Aqueles que se encontram às escondidas. Fazem juras de
amor, quase nunca verdadeiras, impossíveis de realizar. Quando
pensam que estão sós e que não há testemunhas, lá fora, bem no alto do
céu, está ela, a lua cheia a bisbilhotar, pela fresta quase
imperceptível do remendo do telhado.
Afinal, que mistério, que segredos são esses
que a lua cheia tem? Ela aparece quando quer, brinca, bisbilhota, mexe
com os sentimentos da gente, enfeitiça e desaparece?