UM VELÓRIO INTRIGANTE
Helio Fernando Salema
Antonio estava no velório do
amigo, quase irmão, Lauro. A surpresa estava estampada nos rostos dos
presentes, pois Lauro sempre gozou de boa saúde. Recentemente, fez check
up e, muito contente, detalhou para todos os bons resultados dos
exames.
Segundo familiares, na noite
anterior, ele estava muito bem-disposto, inclusive fazendo planos para no dia
seguinte quando consertaria o velho Jipe, já que pretendia participar de um
churrasco na fazenda do Alberto no fim de semana.
Após o enterro, os amigos se
despediram e partiram cada um para sua casa. Durante a viagem de retorno,
Antonio demonstrava preocupação, sua esposa, também aflita, comentou:
— Segundo a cunhada do Lauro,
o médico confidenciou, para alguns familiares, que, possivelmente, Lauro
faleceu por volta das 6 horas da manhã, pois no celular havia uma resposta
dele, às 5:48, para uma mensagem recebida na madrugada. Mas, o enterro
aconteceu às 16 horas, ou seja, antes de completar 12 horas do possível momento
do falecimento.
Após ouvir o que sua esposa
acabara de falar, Antonio levou um susto, ainda bem que o carro já estava
parado em frente a sua residência. Assim que entrou em casa, uma voz interna
lhe martelava os pensamentos… “Ele foi enterrado vivo”.
Como não era ligado às coisas
espirituais, não deu muita atenção. No entanto, aquela voz continuava e, cada
vez mais, mexia com suas convicções. Foi até a cozinha, bebeu água, procurou
alguma coisa para comer na geladeira, mas na realidade desejava mesmo era
afastar aquele pensamento da sua cabeça. Várias vezes repetia. “Não acredito
nessas coisas”.
Foi ver o cachorro que estava
no quintal e se surpreendeu quando o animal olhou para ele de uma maneira
estranha. Parecia querer dizer alguma coisa. Não brincou, como era habitual,
permaneceu olhando para o dono com um olhar de súplica.
Lembrou que seus avós sempre
mencionavam que o enterro deveria ser no dia seguinte, ou seja, depois de 24
horas. Subitamente um desespero tomou conta de Antonio. Saiu de casa, sem falar
para a esposa, que estava no banho, entrou no carro e o mais rápido que podia
chegou ao cemitério.
Os funcionários já estavam
saindo. Antonio, muito aflito, pediu para que eles fossem abrir o túmulo, pois
tinha certeza de que o amigo estava vivo. Os funcionários ficaram parados e
surpresos, então Antonio explicou que o enterro aconteceu antes de 12 horas
após o falecimento. Assim convenceu todos a acompanhá-lo até o túmulo.
Ao começarem o processo de
abertura do túmulo, todos estavam assustados porque estava nítido um som de
batidas. Antonio insistiu para abrirem rapidamente, pois o som das batidas era
semelhante ao que ouvira em sua casa.
Conseguiram retirar o caixão,
mas não tinham as ferramentas necessárias para abri-lo. Alguém pegou um martelo
e começou a bater na tampa do caixão. Cada batida era seguida de outra
semelhante. O pânico tomou conta de todos, e no desespero passaram a pisotear a
tampa em uma tentativa desesperada de abrir o caixão. Finalmente conseguiram
abri-lo.
Para alívio de todos, viram
que não havia nada de anormal dentro do caixão. Sem saber o que fazer, ficaram
em silêncio. Mas muito assustados, pois ainda ouviam as batidas. Por alguns
segundos mais temerosos foram ficando. Até perceberem que as batidas vinham de
uma obra próxima ao cemitério.