Suspense
Dinah R Amorim
Naquela noite não estava ventando,
mas a porta dos fundos bateu com força; o ruído estremeceu os vidros, causando
grande impacto por todo o apartamento. Dona Alice se dobrou sobre si mesma,
paralisada pelo medo que já lhe era familiar.
Ah! Como ela ansiava por uma manhã iluminada!
Tentava dissolver seu nervosismo arrumando os livros na estante do quarto. Mas
eis que outros sons estridentes encheram o ambiente de maus presságios.
De repente, algo se fez forte em seu
coração e ela, sem hesitar, saiu do quarto e disse em altos brados: “Quem
está aí?” Nenhuma resposta. Então,
caminhou decidida até a entrada e certificou-se de cerrar as portas e janelas.
Já voltando para o quarto, escutou novamente o ranger enferrujado das grades da
área de serviço. Agora tinha certeza:
havia, sim, alguém entrando em seu apartamento.
Dona Alice sabia que aquele seu
vizinho esquisito era uma ameaça constante. Ele tinha o olhar opaco de um ente
quase sobrenatural, ameaçador como só os assassinos, os neuróticos conseguem
ter. E, além do mais, ele já aprisionara e matara o cãozinho de estimação de que
Dona Alice tanto gostava.
No meio do claro-escuro opiju0qiytritj
das salas, ela pode ouvir estilhaços de vidros caindo no chão. Eram como
pequenas facadas em seu corpo gelado. Dona Alice se trancou no quarto. Espiou
pelo buraco da fechadura. Viu o homem sentado em frente à porta brandindo uma
faca como se fosse um samurai enraivecido.
E então se fez silêncio.
Ela quis acreditar que ele poderia
ter adormecido. Abriu uma fresta da porta do quarto. Estava tudo quieto. Mas
havia um cheiro estranho, esgueirou-se até a cozinha e percebeu o cheiro de
gás. Quando se voltou viu o homem se aproximar com sua faca; ela entrou no banheiro,
se trancou, e com mãos trêmulas quebrou o espelho para fazer uma arma com os
cacos.
A ferida em suas mãos sangrava muito.
Os chutes do infeliz iam esburacando a porta até quase pô-la abaixo. Dona Alice
ainda conseguiu cortar-lhe a veia das pernas. Saiu aos pulos sobre o corpo
caído do homem, banhado no sangue misturado dos ferimentos deles dois, que fez
um rio vermelho e tingiu o piso frio, o taco quente, o tapete persa do hall...