A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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quarta-feira, 1 de maio de 2024

A última carta. - Adelaide Dittmers

 



A última carta.

Adelaide Dittmers

 

Suzana segurou o envelope meio amassado, como se tivesse passado por diversas mãos. Um frêmito sacudiu seu corpo.  Há muito tempo não recebia notícias dele. O trabalho humanitário que realizava como médico, em lugares longínquos da África, dificultava o envio de correspondência.

A promessa de voltar ainda não fora cumprida e a dor da separação e o medo de que algo imprevisível e mau acontecesse com ele naquelas terras traiçoeiras a angustiavam.

Com cuidado, rasgou o envelope. Desdobrou a carta muito devagar. Notou a letra trêmula do namorado e sentou-se para ler.  Havia manchas no papel, como se tivesse sido escrita em um lugar improvisado.  Ansiosa e preocupada, iniciou a leitura, mal conseguindo segurar a folha, que parecia estar sendo sacudida por um forte vento.

“ Minha querida,

A saudade que tenho de você é intensa, muito maior do que qualquer dor física, mas o árduo trabalho de tentar ajudar os pobres habitantes deste lugar esquecido sempre me tomou a maioria do tempo. Como você sabe, a fome mata crianças e, quando não é a fome, as epidemias dizimam grande parte da população.  Estamos sempre no centro de um furacão devastador, que consome nossa energia e nos faz, cada vez mais, desacreditar da humanidade dos homens.

Recentemente, comecei a me sentir fraco e febril, sem forças para realizar meu trabalho e esse mal-estar foi aumentando de maneira assustadora, até descobrirmos que fui atingido por uma virose muito perigosa chamada febre de Lassa, que está se espalhando por aqui e matando muita gente.  Minhas chances de recuperação são mínimas. Querem me levar para a capital, mas sei que meu fim está próximo e não tenho forças para enfrentar a viagem, mesmo transportado por um helicóptero.

Apesar de tudo, não me arrependo de ter optado por esta experiência. Tenho consciência de que não poderia salvar o mundo, mas poderia contribuir para aliviar o sofrimento de muita gente. ”

Nesse momento, Suzana levantou a cabeça e trouxe a carta junto ao peito.  Lágrimas molharam o papel. Esse sempre foi o seu pavor, de perdê-lo para o seu idealismo.  Admiração e revolta misturaram-se no seu interior. A interrupção da correspondência tinha acendido um sinal amarelo em sua mente e agora a constatação dos seus temores chegou de maneira abrupta e definitiva.

Com esforço, fixou os olhos no papel, mas as letras dançavam sob suas lágrimas, embaçando sua visão.  Com um gesto brusco, enxugou os olhos:

“Quero lhe dizer que nunca deixei de a amar, mas teria traído a mim mesmo, se não tivesse dedicado uma pequena parcela da minha vida a esta missão. Você sempre esteve presente nos meus pensamentos.

Não chore pela minha partida.  Os bons momentos que dividimos é que têm de ser lembrados. Siga com sua vida". 

Amo você,

Gilberto.

Suzana levantou-se.  Soluços sacudiam seu peito. Não iria mais ver aquele homem corajoso e generoso.  Sentia-se devastada. Foi até a escrivaninha, abriu uma gaveta e retirou um maço de cartas e as apertou no peito, como se quisesse abraçar Gilberto. Colocou-as novamente na escrivaninha.  Pegou novamente a última carta e a colocou dentro da blusa.  Queria estar com ele nos últimos dias de sua vida, mesmo que milhares de quilômetros os separassem.

 

 

Incorrespondência. - Vanessa Proteu.

 




Incorrespondência.

Vanessa Proteu.

 

 

Clara já estava acostumada a receber cartas de William, afinal já fazia um ano que ele havia se divorciado e eles começaram a se aproximar bastante.

Sempre que possível, o rapaz alto, atraente, galante e muito bem-vestido se oferecia para levar Clara em sua casa. Ele, com 40 anos e uma experiência de um casamento frustrado de quase duas décadas. Ela, solteira aos 25 e à espera de um príncipe encantado.

— “Eu tenho nome de príncipe”, disse ele, com tom apaixonado, em uma de suas conversas.

Ele a elogiava com palavras tão doces que ela se sentia especial e, quando se viam, era como se o céu tocasse o chão. Por outro lado, quando estavam distantes, ansiavam pelas cartas um do outro.

Clara queria receber de William uma declaração. A jovem vivia imaginando o dia em que ele a escrevesse dizendo sentir o mesmo que ela. Ele era tímido e talvez tivesse medo de olhar em seus olhos e dizer o que sentia.

O fato é que as conversas eram profundas, as cartas eram frequentes e estavam cada vez mais próximas. Ela sabia tudo sobre ele: que sua cor preferida era o azul, seu prato predileto era camarão, o que o angustiava, a profissão que ele teria feito se não fosse contador, sua vontade de morar na praia e o quanto ela o fazia bem...

Era sexta-feira e Clara estava esperando notícias de seu amado. Ele tinha viajado e ficaria fora por pouco mais de um mês. Ela estava ofegante, ansiosa, pois sempre que ele viajava, escrevia para ela descrevendo, com riqueza de detalhes, as belezas do lugar. No entanto, nenhuma carta foi entregue e ela estranhou. “Deve estar com muito trabalho”, pensou, sem dar muito espaço à intuição.

Na segunda-feira, à tarde, Clara saiu do trabalho e foi verificar se havia chegado alguma correspondência. Pegou na caixinha um bolo de cartas e começou a olhar atentamente o remetente de cada uma. À medida que ia verificando, suas mãos suavam, seu coração disparava e suas pernas ficavam trêmulas, como se William estivesse em sua frente. — "Envelope do Banco, cartão postal da tia Dulce, folheto de propaganda de restaurante, santinho de candidato político, folheto de testemunha de Jeová...” o suor começa a escorrer em seu belo rosto e finalmente, no fundo da caixinha, a tão esperada carta intitulada: À minha querida amiga.

Ao ler, o brilho dos olhos foi se apagando, o sorriso sumindo, dando lugar às lágrimas. Clara correu para o quarto onde ela sempre ficava desde que se deixou levar por esse amor platônico e se pôs a escrever: “ Divergência, eu sei. Nossos olhos não se encontram. Carência, talvez. Não consigo enxergar. Minhas mãos gélidas conversam com as suas que não têm nada a falar. Incompetência, eu falhei! Não sei conquistar. Minha voz a te seguir e a sua a fugir procurando quietude. Paciência, eu clamei! Exigindo atitude. Sob os pés, não há chão, há um tapete de nuvens. Chegará ao coração? Procuro na ausência um porquê, pena não ser a minha vocação. Se eu soubesse tocar, tocaria em você, não um toque de pele, mas um toque do ser; te encontraria nas ondas que agitam o mar. Se não fosse imprudência, eu te abraçaria e te arrancaria do seu singular.”

No entanto, Clara resolveu rasgar a carta e não se comunicou mais com seu príncipe William, pois na correspondência, dentre outras coisas, ele dizia ter boas notícias, pois havia conhecido alguém.

“Hum, boas notícias, pra quem?”

O ESCRITOR QUE VISITOU O PASSADO - HELIO SALEMA - POR VANESSA PROTEU

 

Helio Salema 
visita sua escola em Paraíba do Sul - RJ





Uma legenda perfeita para esta foto é: Reencontro. O Hélio se reencontrou ao visitar sua escola na qual estudou há 66 anos. A Iracema Pereira (foto) reencontrou, na leitura, uma motivação e ambos puderam se encontrar no momento exato para expressar a emoção que só a arte da escrita pode transmitir. A Escola Municipal Andrade Figueira ficou muito feliz em receber este ex-aluno e junto com ele, receber todos os que participaram da escrita desse livro o qual a Iracema segura com tanto orgulho. "Contos para sempre" que ficará para sempre na memória e na história dessa aluna.


Os alunos ficaram honrados com a presença do Hélio Salema. Fizeram perguntas, pediram autógrafos, tiraram fotos e isso não tem preço.

Atitudes simples podem mudar o dia difícil de alguém.


Por: Vanessa Proteu



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