DESILUSÃO
Hirtis
Lazarin
Aquela
noite estava diferente de todas as outras.
Nuvens negras e volumosas roncavam no céu, escondendo lua e estrelas.
Uma
única janela entreaberta no vilarejo.
Maria Rita, apoiada no parapeito de madeira desbotada, enxugava lágrimas
de saudade que insistiam em brotar.
Cabelos amarrados displicentemente numa fita verde com pontas
desfiadas. Nenhum sintoma de esperança.
Ele
se foi sorrateiro, sem despedida, nem explicação, numa noite de lua cheia.
Perdida
em aflição, ouviu sons agressivos e ásperos de pedras que se soltavam do
asfalto rústico, já bem gasto. Uma
quantidade exagerada. A moça manteve-se
imóvel. Nenhum músculo saiu do lugar, como se nada a abalasse. A dor imensa que a ardia era maior que o medo
de qualquer coisa.
O
vulto de um menino de aproximadamente dez anos, num salto acrobático apareceu
bem ali à sua frente, quase rosto com rosto.
Emitia sons indecifráveis, acompanhados de trejeitos contorcidos e
rápidos.
Uma
alma penada? Ninguém sabe nem nunca
saberá.
Maria
Rita foi encontrada estendida no chão do quarto. E nunca mais pronunciou uma única palavra.