Chapeuzinho
Vermelho travessa
Adelaide Dittmers
Era
uma tarde fria de inverno. Em uma bela
casinha pintada de branco com janelas vermelhas, rodeada por um charmoso
jardim, onde cresciam várias flores multicoloridas, que se entremeavam com os
vários tons de verde da vegetação, morava um casal e sua filha, que era chamada
de Chapeuzinho Vermelho, porque adorava uma capinha com capuz em um tom bem
vivo dessa cor.
A
menina era a única filha e talvez por isso era muito mimada. Todas as suas vontades eram prontamente
atendidas. Em consequência disso, era
birrenta, autoritária, malcriada e muito desobediente.
Nesta
tarde, a mãe de Chapeuzinho estava na cozinha arrumando uma cesta com bolo,
pães, geleia, frutas e outras guloseimas, pois sua mãe estava doente e não
podia se levantar da cama para se alimentar.
Enquanto
isso, a travessa menina se divertia correndo pela casa, atrás de Pipoca, um
gatinho adotado por elas, que era carinhoso e alegre. Em suas correrias procurava atormentar o pobre
bichinho, puxando-lhe o rabo. Pipoca
tentava fugir e miava pedindo ajuda, até que conseguiu se esconder e ela
finalmente desistiu da perseguição.
A
mãe começou a chamá-la, mas só depois de algum tempo, Chapeuzinho apareceu na
cozinha para saber o que ela queria.
—
O que você quer? Estou brincando! Reclamou
a menina.
—Sua
avó está adoentada. Quero que você leve
essa cesta com lanche para ela.
—
Não quero ir. Estou brincando! Gritou
meio chorosa a menina. Por que você não vai? É a filha dela!
—
Infelizmente você vai ter que ir, sim.
Estou cheia de trabalho e não posso ir agora. E além do mais, vou
preparar um jantar para a vovó, que seu pai e eu vamos levar para ela ao
anoitecer. A mãe falou com uma voz firme, que era raro usar para a menina.
—
Você é muito chata, mamãe! Não gosto
mais de você! Mas pegou a cesta com má vontade e foi em direção à porta.
—
Vá depressa e não se distraia no caminho! Gritou a mãe.
A
avó vivia do outro lado de uma floresta, que ficava entre as duas casas.
Chapeuzinho
entrou na floresta, cantando e dançando. Parava muitas vezes na tentativa de
alcançar uma borboleta. A certa altura
um esquilo saiu de sua toca e a menina rapidamente atirou uma pedra no pequeno
animal, que fugiu assustado. Ela soltou
uma sonora risada e continuou o seu caminho sem pressa nenhuma. Sentou-se embaixo
de uma árvore, abriu a cesta e deliciou-se com um pedaço de bolo. Depois seguiu o seu caminho, arrancando as
flores que encontrava e as jogando no chão.
De
repente, um enorme lobo apareceu em sua frente. Ela se assustou e encolheu-se
toda.
—
Não precisa ficar com medo. Disse o
lobo. Não faço mal a ninguém. Aonde você
está indo?
A
menina desconfiada falou:
—
À casa da minha avó. Ela está doente. Vou levar essa cesta de comida para ela.
—
Posso ir com você? Perguntou o lobo.
Conheço o caminho mais curto.
—
Não. Vamos fazer outra coisa. Vamos apostar uma corrida. Eu vou pelo
caminho mais curto, que você vai me ensinar e você pelo outro caminho porque
corre muito mais do que eu.
O
lobo gostou da brincadeira e aceitou o desafio.
Separaram-se
e cada um seguiu o seu caminho.
Chapeuzinho começou a andar muito depressa e
conseguiu chegar antes do lobo na casa de sua avó.
Bateu
à porta e gritou:
—
Vovó, sou eu
—
Entre minha querida, falou a avó com voz
rouca.
Chapeuzinho
entrou e aproximou-se da cama da avó.
—
Oi, vovó, está melhor?
—
Estou um pouco melhor, sim, minha querida.
A gripe me pegou de jeito.
—
Trouxe esta cesta para você. Tem uma
porção de coisas gostosas.
—
Então vá ao armário, pegue pratinhos e sente-se ao meu lado para comer comigo.
Mais
que depressa, a menina correu e trouxe os pratinhos para desfrutarem do lanche.
—
Vovó, ainda tem aquela armadilha para pegar os bichos maus da floresta.
—
Tem sim, porque às vezes aparecem aqui uns animais perigosos e assim fico
segura.
—
Espera só um pouquinho. Vou lá fora ver se está armada. E saiu correndo.
Logo
achou o grande buraco, onde os animais caiam quando se aproximavam da casa.
Estava descoberto e a menina cuidadosamente o cobriu com várias folhas. Sorriu
satisfeita e entrou para lanchar com a avó.
Alguns
minutos depois, chegou o lobo, que vinha num passo lento, porque era tão
bonzinho, que quis deixar a menina ganhar a corrida.
No
entanto, quando se aproximou da casa, ¨zapt¨, caiu na armadilha. Muito
assustado, chamou pela menina.
—
Chapeuzinho, o que está acontecendo lá fora?
Perguntou a velha senhora, preocupada.
—
Acho que um bicho caiu na armadilha.
Ainda bem, não é?
—
Essa voz eu conheço. É do Peludo, um lobo, que é mais manso do que um cachorro.
—
Não, não deve ser não. E continuou a avançar no lanche, que foi feito para a
avó doente, indiferente aos pedidos de ajuda do pobre animal.
Nesse
momento, um guarda florestal, que sempre passava por lá e muitas vezes entrava
na casa para visitar a velhinha, ouviu os chamados do lobo.
—
O que está acontecendo aqui? Gritou.
—
Estou preso na armadilha. Me ajude!
O
homem se aproximou. Retirou as folhas que encobriam a armadilha.
—
Peludo, como aconteceu isso?
—
Não sei. Apostei uma corrida com
Chapeuzinho Vermelho e de repente caí aqui.
O
guarda coçou a cabeça e disse:
—
Ah! Essa menina é endiabrada. Vive
maltratando os animais da floresta. Só tem medo daquele enorme lobo, que anda
circulando por aí.
—
Verdade. Ela me confundiu com ele,
quando nos encontramos na floresta.
—
Tudo bem. Vou tirá-lo daí. Arranjou uma madeira larga e forte e a
colocou dentro do buraco, como uma rampa.
Jogou uma corda para o lobo, que, na ponta tinha um laço e com destreza
enlaçou o pescoço do animal e com muita delicadeza foi puxando-o para fora do
buraco.
O
lobo lembre-lhe as mãos, agradecido. E o guarda falou. Agora vamos dar uma lição nessa menina
danada.
Bateu
à porta da casa e Chapeuzinho veio atender.
Sua boca estava toda lambuzada de doces. Levou um susto quando viu o
homem.
—
O que você está fazendo aqui? Perguntou zombeteira, tentando demonstrar calma.
—
Por favor, Chapeuzinho Vermelho, venha até aqui.
E
levou-a até a borda da armadilha.
—
Sente-se na borda desse buraco. Quero lhe mostrar uma coisa.
A
menina assustada obedeceu.
—
Onde está o lobo? Perguntou ela.
—
Ah! Então você confessa! Empurrou o
pobre coitado aí para dentro.
—
Eu só queria brincar!!
—
Pois então, vamos continuar a brincadeira. O guarda a empurrou e ela deslizou
pela rampa de madeira. Ele retirou a rampa.
—
Agora você vai ficar aí para aprender a não maltratar os animais.
A
menina começou a chorar desesperadamente.
—
Me tire daqui! Me tire daqui!
Não,
você vai ficar aí por um tempo para nunca mais fazer mal a nenhum animal.
O
lobo estava escondido atrás de uma moita com muita pena da garota.
O
guarda chamou-o e os dois entraram na casa da velhinha, que, muito ansiosa,
queria saber o que estava acontecendo.
O
homem contou-lhe o que aconteceu. A
senhora passou a mão na cabeça de Peludo.
—
Pobrezinho! Disse ela com tristeza.
Minha netinha é muito levada. Ela
merece o castigo. Mas não a deixem muito tempo presa. Apesar de tudo é uma criança e eu a amo
muito.
—
Não vamos deixá-la muito tempo lá, mas ela precisa aprender a lição. E começou a conversar com a avó de Chapeuzinho.
Lá
fora, a menina chorava e falava:
—
Me tirem daqui. Prometo ser boazinha
daqui por diante.
A
avó, com os olhos, implorava para o homem tirar a menina do buraco.
Ele
sorriu para ela. E concordou.
Está
bem! Estou vendo que a senhora está
aflita. Acho que o castigo já foi
suficiente.
E
saiu com o lobo para resgatar Chapeuzinho Vermelho.