UM
ÓTIMO NEGÓCIO
Helio Fernando Salema
Um casal de meia idade, Roberto e Cacilda, depois que seu
único filho se formou em medicina e foi trabalhar em outro estado, resolveu aproveitar
a vida viajando pelo imenso litoral deste Brasil. Eles que sempre viveram no
interior, sonhando um dia desfrutar das maravilhas do litoral. Assistiam a
filmes sobre festas e passeios na praia. Gostavam de ouvir pessoas relatando experiências
à beira-mar.
Escolheram um capital do Nordeste onde ficariam por uma
semana. Depois viajariam para conhecer outras capitais. Encantaram um povo
muito amigável, com sotaque próprio e com vocabulário distinto. Estranharam os nomes de coisas que lhes eram
familiares, mas que os habitantes davam nomes bastantes estranhos. Depois de uma semana com muitas surpresas
agradáveis, resolveram aventurar-se, pelo litoral, para conhecer algumas
pequenas localidades.
Em cada cidade, depararam com uma experiência totalmente nova.
Do café da manhã até outras refeições. Novamente se relacionaram com pessoas simpáticas
que sempre queriam agradar aos visitantes.
Numa dessas localidades, bem menor do que a capital, encontraram
um ambiente agradável e muita tranquilidade. Em poucas horas, admirando as
belezas das paisagens, sentiram que viver ali poderia ser uma boa opção, mesmo
não sendo este o objetivo deles ao sairem da sua terra natal, onde nasceram,
cresceram e viveram por mais de 50 anos.
O que mais chamou a atenção do casal foram os pequenos e
belos prédios com vista para a mar. Hospedaram-se num dos hotéis que ficava de
frente para a praia em um andar bastante alto. Acordar pela manhã e desfrutar
do nascimento do sol, sentir a brisa ao chegar à janela, era um verdadeiro
sonho.
À noite, telefonaram para o filho comunicando que iriam
procurar um apartamento para alugar, e estavam dispostos a permanecer ali
durante todo o verão, que começaria a um mês. O filho deu o maior apoio à ideia dos pais de
desfrutar o verão em um lugar diferente.
Assim, eles foram à praia cedo e depois do almoço saíram a
procura de um apartamento que pudesse agradá-los. Parece que a sorte estava com
eles. Na primeira imobiliária em que entraram havia vários apartamentos para
alugar. O funcionário, Norival, embora
novato no ramo imobiliário, imediatamente percebeu a aparência do casal, que claramente
demonstrava serem de classe abastada. Os recepcionou de uma maneira cordial e
muito simpática.
Na certeza de que poderia atendê-los, pegou várias chaves.
Assim que começou a mostrar os apartamentos percebeu o entusiasmo,
principalmente da senhora, que não escondia a euforia.
No momento em que ela demonstrou interesse imoderado por um,
ele imediatamente:
— Desculpa, mas este não está para alugar.
Olha para ela que demonstrava tristeza:
— Perdoa-me, eu confundi…. Este está à venda. O
proprietário avisou-me hoje pela manhã.
O casal demonstra claramente a desilusão. Imediatamente, o
funcionário pergunta se eles não têm interesse na aquisição do imóvel, já que o
proprietário disse que precisava vendê-lo com urgência:
— Quem sabe, ele poderá dar um bom desconto?
— Qual é o preço que o proprietário está pedindo?
Sem saber o que responder:
— Ele ainda não disse, mas posso consultá-lo.
A mulher olha para o marido com ar de muita esperança. O
funcionário diz que vai entrar em contato com o proprietário e que espera dar a
eles uma resposta em poucas horas. Foram os três até à imobiliária. Norival fez
várias ligações, e sempre falava que ninguém atendeu.
Assim, se despediram, depois de deixarem nome e endereço de
onde estavam hospedados. Norival entra em contato com alguns amigos íntimos.
Logo após, telefona para o casal e solicita que eles venham até a imobiliária.
Enquanto a esposa está cada vez mais entusiasmada, o marido
mantém-se cauteloso. Alegou que por precaução pediria desconto, qualquer que
fosse o preço. Acrescentou que daria um sinal e o restante só depois de pelo
menos um mês residindo no apartamento.
Ao chegaram à imobiliária, o funcionário contou uma longa
história elogiando o imóvel e ao dar o preço, viu como os pretendentes se empolgaram. O marido disse
que poderia dar a metade e só depois de um mês o restante.
Na presença do casal, Norival faz uma ligação para um dos amigos,
já contactado, como se fosse o proprietário. Relata a proposta do interessado. Em
seguida, vira-se para o casal e diz que o proprietário aceita, desde que o pagamento
seja em dinheiro. Alegria do casal foi tanta que imediatamente concordaram.
Combinaram que se encontrariam no banco. Assim, no horário previamente
acertado lá estavam todos, inclusive aquele amigo do Norival, que foi
apresentado como sendo o proprietário. O gerente do banco ligou para a agência
da cidade onde residiam os compradores. Minutos depois, disse que estava tudo
certo, e assim foi liberado o dinheiro.
Norival, que já estava com o recibo pronto, pediu ao amigo
que assinasse, e este em seguida recebeu o dinheiro referente a entrada. Norival entrega ao casal as chaves e o recibo.
Assim todos satisfeitos se despediram.
Emocionados, Roberto e Cacilda foram direto ao apartamento,
mas a chave não abria a porta. Retornaram à imobiliária. Também estava fechada
e assim permaneceu por vários dias. Na delegacia, onde foram registrar queixa, ficaram
sabendo que o proprietário da imobiliária estava viajando de férias, e o
funcionário Norival, desaparecido.