AQUELE NAVIO
Claudionor Dias da Costa
Olhando o mar, voltou à minha mente a história
ocorrida há mais de dez anos, quando eu e minha namorada, na época em férias,
avistamos, encalhado junto às pedras e não muito longe da praia, aquele navio,
partido ao meio, muito velho e enferrujado. Provavelmente acidente ocorrido a
muito tempo.
Ficamos fixando o olhar nos detalhes daquela embarcação,
quando naquela tarde quente e silenciosa escutamos vozes e gritos que vinham de
dentro daqueles escombros.
Aquilo nos intrigou e nos deixou amedrontados.
Voltando à nossa pousada, comentamos o fato com o
Sr. Petrônio que pensativo e cuidadoso disse:
— Aquele navio afundou nos anos trinta e realmente
muitas histórias são contadas sobre acontecimentos estranhos com ele. Também já
falaram dessas vozes ...
O que nos contou só nos deixou mais pensativos. Como
dono da pousada é residente há muito tempo na vila, e experiente com turistas,
só aguçou nossa curiosidade com seu comentário curto e cuidadoso.
No dia seguinte voltamos ao local.
A nossa curiosidade era grande e aliada à coragem
dos jovens que acreditam que nada lhes acontece por serem destemidos e corajosos,
resolvemos ir até o navio.
Como estava partido ao meio, fomos na parte das
cabines dos passageiros.
Caminhando por aqueles corredores escuros, úmidos, malcheirosos,
nos assustamos quando surgiu uma figura estranha. Era um ser de estatura baixa,
com asas, rosto parecendo de morcego, cor próximo do marrom.
Aquilo provocou a imediata reação de minha namorada
que se agarrou fortemente em mim. Eu também recuei e nos encostamos na lateral
do corredor tentando nos proteger.
O maior impacto veio quando ele se dirigiu a nós dizendo:
— Fiquem tranquilos. Sabemos quem vocês são e
estamos aqui porque viemos para protegê-los.
Gaguejando e tentando manter a calma balbuciei:
— Para nos proteger?
— Sim. Eu e meus companheiros somos do planeta Bemfix
que é de outra galáxia. Nossa civilização tem mais de quinhentos mil anos. Como
observamos e exploramos o universo, vimos que na Terra, vocês estavam
precisando de ajuda.
— Ajuda?
— Claro. Os habitantes de Endland, planeta que vive
em conflito com muitos outros, e quer dominar, resolveu partir para cá e tentar
escravizá-los. Procurariam estabelecer bases na Terra. Se alimentam de cápsulas
que fabricam a partir de algas e alguns microrganismos marinhos e no planeta
deles ficaram escassas porque os mares começaram a secar.
Conseguimos explodir a nave deles que afundou no
mar. Se refugiaram neste navio e estão aguardando salvamento com grandes
dificuldades de comunicação por enquanto. Com muita luta, aos poucos vamos
eliminando estes Endlanders. Hoje, devem restar uns dez que se refugiam principalmente
na outra metade deste navio que se encontra à frente.
Sem conseguir terminar o que dizia, ouvimos gritos
ensurdecedores no convés e espreitando cuidadosamente vimos um horrendo ser também
alado, assustador, grande, parecendo com um dragão.
Imediatamente o nosso novo amigo emitiu um estranho
e sibilante som. Apareceram mais cinco iguais a ele e atacaram o dragão. Após uma
luta intensa em que demonstraram muita agilidade desferiram um facho de luz com
uma espécie de pistola, um pouco maior que consumiu o dragão numa nuvem de
fumaça que cheirava a enxofre.
Vendo aquela cena dramática, escondidos e não acreditando,
só nos acalmamos um pouco quando o Bemfixer chegou e disse:
— Podem ir sossegados. Acredito que nossa batalha
estará ganha em pouco tempo. Aquele que vocês viram desaparecer é o líder.
Logo, o grupo confuso tentará alguma medida extrema e conseguiremos nosso
objetivo.
Mais que depressa nos despedimos porque já era
noite e agradecendo muito a ele corremos para a pousada.
Mal conseguimos dormir naquela noite.
E no dia seguinte, pouco antes do almoço, alguns
garotos vieram correndo da praia e ofegantes contaram que escutaram um grande
estrondo e uma nuvem grande de fumaça subiu daquele navio com cheiro muito
forte.
Várias pessoas foram, rapidamente, ver do que se
tratava porque realmente haviam escutado o barulho. Quando chegaram só viram ao
longe no céu uma nuvem escura. Pensaram que os garotos estavam fantasiando.
Eu e minha namorada sorrimos. Mais tranquilos e
inspirados, voltamos à noitinha e fomos olhar aquele navio.
O silêncio era total. Só escutávamos o assobio do
vento. A lua trazia uma agradável cor prateada sobre aqueles escombros.
Apaixonados e aproveitando aquele momento nos
deparamos, num repente, com uma forte luz que surgia na montanha e se movia em
nossa direção. Com muita velocidade uma grande nave parou ao alto sobre o navio.
Eu e minha namorada, sentados na areia só tivemos tempo de olhar para cima
porque um facho luminoso ficou sobre nós e ouvimos uma voz conhecida:
— Meus amigos, fiquem em paz. Agora nada temam.
Tudo foi resolvido. Vocês ainda evoluirão muito. A Terra ainda surpreenderá o
Universo. Ainda nos encontraremos um dia... Até breve.
Em segundos aquela visão desapareceu.
Até hoje esta história provoca olhares desconfiados
quando conto.
Mas, eu me considero um privilegiado por ter vivido
no presente um futuro promissor.