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quarta-feira, 25 de setembro de 2024

HIRTIS LAZARIN - PROJETO MEU ROMANCE - BUSCAS E MAIS BUSCAS

 





PROJETO MEU ROMANCE

 BUSCAS E MAIS BUSCAS

(Parte II)

HIRTIS LAZARIN

 

Como fazia todas as tardes, Homero caminhava pela ruazinha que adormeceu sossegada, bem antes da hora.

Essa tranquilidade contrastava-se com seus pensamentos rebuliçados que não se esqueciam do Valentim, seu gato de estimação. Fazia dois dias que Valentim saiu para o passeio habitual e não voltou. Procurou-o apenas no quarteirão que rodeava sua casa, pois sabia que o bichano costumava ir bem longe… Ele já tinha sete anos e conhecia tudo e todos.

 

Homero alterou o trajeto costumeiro e dobrou a segunda esquina da rua. Sentiu vontade de entrar na capela de Santa Rita. Sua mãe era devota de Santa Rita. Tinha um pequeno altar em casa, onde não faltavam uma vela perfumada sempre acesa e uma rosa fresca. Ela acreditava piamente que, através de orações à santa das causas impossíveis, conseguiria a graça da cura da irmã, desenganada pelos médicos. A moça sarou e a família creditava a cura ao milagre da santa. Homero tinha, então, seis anos e aprendeu tudo sobre a Santa Rita. A mãe obrigava-o a rezar todas as noites diante do altar. O hábito permanece até hoje. Se tenta dormir sem orar, o pensamento não lhe deixa sossegado.

 

Homero aumentou os passos e entrou na igrejinha. Estava deserta e levemente perfumada de lírio-branco, ambiente de paz e propício à meditação. Era a capela mais acolhedora que ele conhecia. O padre responsável e as obreiras cuidavam dela como se cuida de uma obra rara. 

Mal acabara de se ajoelhar na terceira fileira de bancos, ouviu palavras sufocadas de socorro misturadas a gritos estridentes e desconexos. 

 

Como bom e experiente investigador, o homem ligou seu sistema de alerta. Correu em direção à sacristia. Era lá que acontecia a cena que descreverei: o padre Juliano estava esparramado no chão perto da porta, provavelmente na tentativa de fuga. O corpo com excesso de gordura, com certeza, amorteceu-lhe a queda. Sangue escorria de sua cabeça, percorria o pescoço e manchava a vestimenta sacerdotal de cor clara. O padre era das antigas e, no local sagrado, usava batina.  Respirava com dificuldade e balbuciava algumas sílabas. Tinha sido agredido fortemente na cabeça por objeto contundente. O mais importante: estava vivo. Sem perder segundos, pois em segundos pode-se perder uma vida, Homero chamou a ambulância. Por sorte, uma delas estava de prontidão e levaria não mais que quinze minutos para chegar. Fez travesseiro de um casaco pendurado atrás da porta e acomodou a cabeça do padre.

 

Só então ele se preocupou com o criminoso.  Não viu ninguém fugir e se tivesse tentado, seria impedido. Homero era um homem fisicamente forte e forte nas decisões. A postura imponente e um metro e noventa de músculos impunha-lhe muito respeito.

 

Nem foi preciso procurar. De trás de um armário forte e largo, apareceu uma mulher ostentando uma faca. Uma faca de açougueiro. Ao se deparar com o intruso, começa a movimentar os braços descontroladamente para cima e para baixo. Parecia um robô programado. O investigador de sobrancelhas grossas, arqueadas e testa franzida, veste-se de olhar frio e ameaçador. Assume postura altiva e se fixa num ponto próximo à mulher.  Ela não se intimida, ao contrário, ignora-o e grita. Grita muito, grunhidos de um animal furioso com vontade de atacar.

 

As vestes rasgadas mal cobriam o corpo magro de costelas saltadas. Os cabelos compridos, um amontoado de teias de aranha, cobriam parte do rosto. Uma fita vermelha prendia-se ali numa cena de enforcamento. Chamava a atenção as unhas compridas, dos pés e das mãos, pintadas de vermelho escarlate. Vaidade que não combinava com aquela aparência de total abandono. 

 

Homero manteve-se imóvel e calado.  Compaixão e dó foram os primeiros sentimentos que a mulher lhe provocou. Um ser humano que sofria e precisava de ajuda. E, ao mesmo tempo, criminoso.

 

Lá fora, uma sirene em som alto e distinto avisava que a ambulância acabava de chegar. Homero deixa a sala e tranca a porta à chave. A igreja, em segundos, estava cheia de burburinhos e de gente curiosa. Dona Hermelinda, vizinha da capela e muito amiga do padre, responsabiliza-se por acompanhá-lo até o hospital. Homero tinha outra missão.  Durante a remoção, Juliano recobrou os sentidos e abriu os olhos. Não se lembrava de nada, mas gemia de dor.

 

O investigador volta à sacristia na expectativa de encontrar a mulher, ainda mais furiosa e revoltada. A cena é inusitada. Ela está sentada no chão ao lado do facão. Com os cabelos afastados do rosto, podia-se ver que seus traços eram finos e a pele delicada. E que, talvez, um dia, já foi bem cuidada.  

 

Alheia à presença de Homero, ela começa a cantarolar.  Canções dos contos de fada.  

Tira um caderninho da sacola, põe-se em pé e declama. A voz era clara e compassada:

 

      “Se não puder voar, corra.

       Se não puder correr, ande.

       Se não puder andar, rasteje”.

 

Temendo que Homero a interrompesse, pergunta:

— Posso ler mais um? 

Agora a voz era doce e aveludada:

 

        “Não tenho garantia e nem certeza de nada.

         Vivo tentando”.

 

Olhou fixamente para o homem atônito e desarmado de intenções: 

—” O que você faz quando te tratam mal”?

 

Esperou alguns segundos e, diante do silêncio, deu alguns passos à sua frente. Chegou bem próximo a ele e falou com ênfase:

— ”Eu me trato bem e vou embora”.

     

A moça sem nome guardou a agenda no saco, pendurou-o nos ombros e andou até a porta. Olhou para trás certificando-se de que não estava sendo seguida e jogou-lhe um beijo:

— Sou Isabely.

Desapareceu na noite cheia de estrelas.

 

Homero permaneceu sentado, sem reação; era a única múmia viva que ele conhecia.

Lembrou-se, então, do seu gato Valentim que desaparecera no dia anterior.

Sentiu saudade e chorou.

 

 


VANESSA PROTEU - PROJETO MEU ROMANCE - UMA HERANÇA INESPERADA

 





PROJETO MEU ROMANCE 

UMA HERANÇA INESPERADA

Vanessa Proteu

 

 

Em uma tarde nublada, Charles Alvim estava em casa, rodeado por livros e algumas garrafas de vinho que ele adorava degustar em momentos de reflexão. Com 35 anos, ele era um homem reservado, que preferia a companhia de seu gato Simão a se misturar com as pessoas. Apesar de ser um investigador excepcional, sua vida pessoal era marcada pela solidão e por traumas do passado que ele tentava curar em sessões de terapia.

 

Enquanto Charles organizava suas anotações sobre um caso recente, ouviu a campainha tocar. Era sua vizinha. Flávia, aparecia frequentemente com alguma desculpa para conversar. Ela sempre demonstrava interesse por ele, mas Charles mantinha a guarda alta. “Oi, Charles! Eu trouxe algumas tortinhas que fiz. Posso entrar?”, disse ela com um sorriso caloroso.

 

Claro, Flávia”, respondeu ele, tentando ser educado enquanto pensava em como poderia voltar rapidamente ao seu trabalho. Ao passo que ela falava sobre as últimas novidades do bairro, Charles não pôde deixar de notar como ela olhava para ele, uma mistura de admiração e preocupação. Era ela uma mulher de beleza natural, usava roupas cuja estampa destacava sua meiguice e sensibilidade. Uma mulher agradável e dedicada aos estudos. Gostava de ler, em especial, poesias.

 

A conversa foi interrompida por uma notificação no celular de Charles. Era uma mensagem inesperada: “Você recebeu uma herança da tia Sônia Alvim. Venha ao cartório amanhã para mais informações.” Ele ficou surpreso; não via sua tia há anos e sempre soubera que a relação entre ela e seu pai era complicada.

 

Após a visita de Flávia, Charles não conseguiu se concentrar mais no trabalho. As memórias da infância começaram a ressurgir: os encontros raros com a tia, seus sorrisos calorosos e o jeito especial que tinha de contar histórias. Ele também se lembrava do clima tenso entre ela e o pai, que sempre o fazia sentir-se dividido.

 

No dia seguinte, Charles foi ao cartório. A funcionária o recebeu com simpatia e entregou-lhe os documentos da herança: uma pequena casa no interior e uma coleção de objetos antigos que pertenciam à falecida. A casa parecia um refúgio tranquilo, longe da agitação da cidade.

 

Ao retornar para casa, Charles ponderou sobre o que fazer com essa herança. A ideia de ter um espaço onde pudesse se isolar ainda mais o atraía, mas também havia algo dentro dele que desejava explorar esse legado familiar.

 

Nos dias seguintes, enquanto investigava os objetos deixados por sua tia — cartas antigas e fotos desbotadas — começou a sentir uma conexão renovada com ela. As cartas revelavam um lado da história familiar que ele nunca conhecera: as lutas de sua tia contra os fantasmas do passado e como ela havia encontrado consolo na arte e na escrita.

 

Inspirado por essas descobertas, Alvim decidiu visitar a casa deixada por Sônia no fim de semana seguinte. Ao chegar lá, encontrou um lugar cheio de história e personalidade; cada quarto contava uma parte da vida dela. Ele sentiu uma onda de emoções: tristeza pela perda dela e alegria pela chance de redescobrir suas raízes.

 

Enquanto explorava o lugar, ouviu um suave miado vindo do jardim. Um gato preto apareceu entre as flores; era como se estivesse esperando por ele. Charles sorriu ao perceber que ali também poderia encontrar um novo começo.

 

Nos dias seguintes, ele começou a passar mais tempo na casa que havia herdado, organizando os pertences e refletindo sobre sua própria vida. A presença do gato se tornou reconfortante; foi ali que Charles percebeu que não precisava viver sozinho ou carregar seus traumas sem ajuda.

 

E assim, com Flávia sempre presente para oferecer apoio e amizade nas tardes solitárias e o novo amigo felino ao seu lado na casa da tia, Charles Alvim começou a entender que se abrir para os outros poderia ser tão gratificante quanto desvendar os mistérios do mundo exterior.

 

Ele ainda era o detetive observador e organizado que todos admiravam — mas agora também estava aprendendo a ser mais vulnerável e acolhedor consigo mesmo e com aqueles ao seu redor. E essa nova fase em sua vida prometia ser tão intrigante quanto qualquer caso que já tivesse resolvido.

 

A FORÇA DO DESTINO

 

Charles Alvim sempre se considerou um homem de ação. Alguém que moldava seu próprio destino por meio de trabalho árduo e determinação. Sim, ainda havia nele um pouco de fé, mas ele a guardava para si, mostrando-se cético diante dos outros. Como investigador, precisava ser frio em suas análises e por isso sempre acreditou no poder das escolhas.

 

Parece, no entanto, que a vida nem sempre nos dá a chance de escolher bem e, de fato, há coisas que estão além da nossa compreensão.

 

No período da escola, o futuro investigador, era só um garoto franzino, pouco popular e de temperamento passivo-agressivo. Ele sabia revidar usando argumentos. Ninguém mexia com o Charlesim. Logo, conquistou amigos que dividiam o mesmo interesse por livros e filmes de investigação e, por estes, era chamado de Zim.

 

Nessa fase de sua vida, acabou se apaixonando por uma garota um tanto quanto esnobe. Sara era o nome dela. Eles tiveram um relacionamento efêmero, onde Sara o traiu com seu melhor amigo, Lucas. Na época, os dois brigaram e Lucas levou uma surra de Zim. O “amigo” não ousou revidar por julgar merecido.

 

O tempo passou e Charles não havia tirado Sara dos seus pensamentos. Ele se fechou para o amor como uma planta dormideira se fecha ao toque do vento.

 

Agora, longe da cidade onde tudo aconteceu, o destino trouxe de volta à lembrança o inevitável.

 

Zim recebe a indecente proposta de investigar um suposto caso de adultério. Trata-se de uma investigação particular. Ele fora indicado por um conhecido e foi até o local ver se valeria a pena aceitar ou não o caso.

 

Chegando lá, um cara alto, bem-vestido e cheio de si, se apresentou:

 

— Olá, meu nome é Lucas Vicente. Preciso de um detetive para investigar se minha esposa Sara realmente está me traindo.

 

Perplexo com as reviravoltas da vida, Charles se apresenta e diz com voz firme:

 

— Acaso não sabe quem eu sou? Fui seu melhor amigo no passado. E hoje a vida me trouxe aqui para dizer que talvez tenha sido um livramento.

 

Lucas ficou atônito, gaguejou e meio que desconfortável, sorriu dizendo:

 

— É você mesmo, Zim? Como o tempo passa. Sei que no passado tivemos nossas desavenças, mas estou desesperado. Nós nos mudamos para cá, pois precisei vir a trabalho. Um colega me indicou dizendo ser um dos melhores, quiçá o melhor dessa cidade. Não imaginei que seria você.

 

— Nem nos meus maiores pesadelos pensei em te ver novamente. — Bradou Alvim, batendo o punho sobre a mesa de modo a chamar a atenção dos outros clientes do bistrô no qual estavam.

 

Levantou-se rapidamente, dando as costas a Lucas e a tudo o que aquele amigo representara. Seus olhos ficaram marejados e um nó desenvolveu-se em sua garganta.

 

Quando finalmente chegou à casa, tirou os sapatos, jogando-os num canto. Era impossível não abrir a garrafa de vinho que recebera de presente de um de seus clientes. Na caixinha de som, a música do artista de quem era fã, Alexandre Pires, cuja letra trazia: “isso é coisa do destino. Eu sofri, mas estou indo. Hoje vou resistindo, essa dor me consumindo…” Acariciou seu gato Simão bem como o Noturno, gato herdado de sua tia Sônia e refletiu sobre tudo o que havia vivido. Mas em poças de lágrimas, sorriu, deixando uma gotícula de vinho escapar de sua boca e manchar mais uma de suas camisas preferidas. Desta vez, no entanto, nem se importou. Queria, de fato, saborear o tinto sabor da vingança concedida a ele pelo destino.

 

DEVANEIOS E MISTÉRIO

A noite se arrastava e cada minuto parecia uma eternidade. O som incessante de batidas e murmúrios vinha de baixo da janela como se uma figura enigmática estivesse determinada a me manter acordado. Olhei para o relógio na cabeceira da cama. Já passava das 2h da manhã e a escuridão do quarto parecia engolir qualquer vestígio de clareza que eu ainda tinha. Minha mente fervilhava com tudo o que acontecera durante o dia.

 

Isso sem falar nos acontecimentos estranhos na cidade e dos casos ainda inexplicáveis de desaparecimentos. E agora aquela mulher lá fora.

 

Levantei-me devagar e fui até a janela. A lua cheia iluminava o cenário com uma luz prateada revelando uma figura magra e agitada. Seus cabelos desgrenhados balançavam com o vento e ela murmurava palavras incompreensíveis.

 

— Ei, você está bem? — Chamei-a hesitante.

 

Ela respondeu com semblante angustiado:

— Eles estão vindo; eles não são o que parecem!

 

Fiquei intrigado, apesar de não dar muita ideia a uma louca.

— Senhora, vá dormir e me deixe dormir também! — E ela repetia com constância as mesmas palavras.

 

Não consegui voltar para a cama e sentei-me à mesa na penumbra da cozinha. Abri outra garrafa de vinho para acalmar meus pensamentos. Fui para o escritório, acendi a velha luminária que pouco iluminava as minhas ideias, busquei minhas anotações sobre o caso em questão, ao passo que as palavras desconexas daquela mulher pairavam sobre minha cabeça. O que ela queria dizer com aquilo?

 

Mais uma taça até as coisas fazerem sentido e quando me dei conta, já era dia. Liguei a TV para acompanhar os noticiários e a manchete me chamou a atenção: “Eles estão chegando em nossa cidade. O deputado César Azevedo e sua família se mudarão para uma fazenda na região.”

 

Ao ler a manchete, balbuciei, involuntariamente, as palavras daquela senhora: “eles estão vindo; eles não são o que parecem.”

 

A adrenalina correu em minhas veias enquanto eu tentava juntar as peças do quebra-cabeça. O deputado César Azevedo não era um nome qualquer; ele trazia consigo uma história de controvérsias, promessas não cumpridas e um passado que muitos preferiam esquecer. As palavras da mulher ecoavam em minha mente, e eu sabia que precisava agir.

 

Decidi sair e investigar mais sobre a fazenda que ele havia adquirido. O dia estava ensolarado, mas uma sensação de inquietude pairava no ar. Peguei meu carro e dirigi até a propriedade. Ao chegar, percebi haver uma movimentação estranha. Carros de luxo estacionados, pessoas em trajes formais conversando em grupos, mas o que mais me chamou a atenção foi um grupo de homens que pareciam estar monitorando tudo com olhares desconfiados.

 

Aproximando-me discretamente, ouvi fragmentos de conversas sobre “negócios” e “o plano”. Meu coração acelerou. O que estava acontecendo ali? A imagem da mulher do dia anterior voltou à minha mente; ela poderia ter razão.

 

Resolvi me infiltrar na festa disfarçando-me como um dos convidados. Com um copo na mão e um sorriso no rosto, comecei a circular pelo local. Consegui ouvir mais sobre as intenções do deputado: ele estava planejando transformar a fazenda em um centro de eventos para atrair turistas e investidores, mas havia algo mais sinistro por trás disso — uma proposta para desviar recursos públicos para seus próprios interesses.

 

Com isso em mente, decidi que precisava de provas. Encontrei um acesso aos fundos da propriedade e, ao entrar na sala dos arquivos, encontrei documentos que confirmavam minhas suspeitas: contratos fraudulentos, pagamentos em dinheiro vivo e até mesmo referências a pessoas desaparecidas que poderiam estar ligadas a esse esquema.

 

Enquanto examinava os papéis, ouvi passos se aproximando. Meu coração disparou. Precisava sair dali antes que fosse pego. Com os documentos escondidos sob a roupa, corri para a saída e consegui escapar por pouco.

 

De volta à cidade, fui direto à delegacia local. Relatei tudo o que descobri ao chefe da polícia. Ele inicialmente hesitou, mas quando mostrei os documentos, seu semblante mudou. Ele sabia que precisava agir rapidamente.

 

Nas semanas seguintes, o caso tomou proporções maiores do que eu esperava. A polícia realizou uma operação na fazenda e prendeu o deputado com seus cúmplices. Os desaparecimentos foram investigados e alguns dos indivíduos foram encontrados — vítimas de um esquema cruel que explorava pessoas vulneráveis.

 

No final das contas, aquela noite sem sono me levou a descobrir uma verdade sombria escondida sob a superfície da cidade. A mulher da janela? Eu nunca soube seu nome ou se ela era realmente louca, mas sua advertência me salvou de um destino muito pior.

 

Enquanto observava o sol nascer após dias de caos, percebi que às vezes é preciso ouvir as vozes ignoradas ao nosso redor; elas podem ser as chaves para abrir portas sombrias que muitos preferem manter fechadas. E assim, a cidade começou a se curar lentamente das feridas profundas causadas pela ambição desmedida de alguns — tudo graças ao impulso de uma noite insone.

 

UM CRIME NA BIBLIOTECA

 

O detetive Charles Alvim estava tomando seu café em um pequeno bistrô quando recebeu uma ligação urgente. O corpo de uma mulher havia sido encontrado na Biblioteca Municipal, e a cena do crime precisava de sua atenção imediata.

 

Assim que chegou ao local, Charles notou a agitação dos bibliotecários e o murmúrio dos visitantes que tentavam entender o que estava acontecendo. Ele se dirigiu à sala de leitura, onde o corpo da vítima, uma bibliotecária chamada Elisabete, estava deitado entre as estantes repletas de livros. A expressão em seu rosto era de terror.

 

Charles começou a examinar a cena e, ao chegar mais perto, percebeu que já tinha visto aquela mulher antes. Não se lembrava muito bem de onde, mas tinha a sensação de já a ter visto.

 

Não havia sinais de luta, mas uma pilha de livros ao lado do corpo chamou sua atenção. Eram todos títulos sobre mistérios e crimes não resolvidos. Ele se perguntou se Elisabete estava lendo algo que poderia ter levado à sua morte.

 

Conversando com os funcionários da biblioteca, Charles descobriu que a senhora tinha um interesse especial por enigmas e frequentemente organizava grupos de leitura sobre literatura policial. Um dos participantes, um homem chamado Ricardo, parecia particularmente perturbado pela notícia. Ele mencionou que a bibliotecária havia encontrado um livro raro que poderia conter pistas sobre um crime antigo.

 

Intrigado, Charles decidiu investigar o livro mencionado. Ele procurou na seção de raridades da biblioteca e encontrou um volume empoeirado com anotações à margem. As anotações eram trechos de cartas escritas por um famoso criminoso do passado, e algumas faziam referência a um local secreto na cidade.

 

Com essa nova pista em mãos, Charles seguiu para o endereço indicado nas cartas. Ao chegar lá, encontrou uma pequena caverna escondida sob um parque. Dentro, havia objetos antigos e documentos que revelavam a conexão entre o criminoso e uma série de crimes não resolvidos que assombravam a cidade há décadas.

 

Enquanto analisava as evidências, Charles percebeu que Elisabete não havia apenas encontrado o livro; ela estava prestes a desvendar um mistério muito maior. Mas alguém não queria que isso acontecesse.

 

De volta à biblioteca, ele confrontou Ricardo. Após um intenso interrogatório, ficou claro que Ricardo estava tentando proteger seu próprio segredo: ele era descendente do criminoso mencionado nas cartas e não queria que a vítima revelasse a verdade sobre seu passado familiar. Cruzando informações, ele percebeu que Ricardo tinha negócios com o deputado César Azevedo e assim ele se lembrou de onde conhecia a vítima. Elisabete era a mulher que o incomodara debaixo da janela. Infelizmente, Charles não conseguiu ajudá-la. Mas, usando suas habilidades, fez todo o possível para desvendar esse terrível crime.

 

Com as provas em mãos e a motivação clara, conseguiu resolver o caso. Ricardo foi preso, e a memória de Elisabete foi honrada com uma nova seção na biblioteca dedicada aos mistérios não resolvidos intitulada: Devaneios e mistério

 

Charles Alvim saiu da biblioteca com a sensação de dever cumprido, mas também com uma reflexão profunda sobre como o conhecimento pode ser tanto uma bênção quanto uma maldição. E assim, mais um caso foi desvendado nas páginas da história da cidade.

 

REVIRAVOLTAS NUM CRIME PASSIONAL

 

Em uma manhã ensolarada Lara decidiu que seria o dia perfeito para fazer uma surpresa para seu marido Rafael. Após alguns anos de rotina ela sentia que a paixão deles precisava de um toque especial. Com isso em mente, ela dirigiu-se ao salão de beleza e transformou seus longos cabelos castanhos em um corte curto e ousado, tingindo-os de um ruivo vibrante. Para completar o visual, escolheu um vestido justo que acentuava ainda mais suas belas curvas, algo que raramente usava no dia a dia.

 

Com o coração acelerado, Lara chegou ao escritório de Rafael. Ao entrar no prédio sua confiança crescia, no entanto, ao avistar seu marido, a expressão dele mudou drasticamente. Ele paralisou com os olhos arregalados e a boca aberta em sinal de incredulidade, mas antes que pudesse reagir, uma mulher alta, elegante, bem vestida aproximou-se de Rafael com um sorriso sedutor, colocou as mãos levemente sobre seus ombros acariciando até o pescoço e falando bem próximo à sua boca.

 

Lara percebeu a conexão instantânea entre os dois. Desconcertada e ferida, decidiu se afastar discretamente e enquanto caminhava pelo corredor sua mente fervilhava com pensamentos confusos e emoções conflitantes. Afinal, o que deveria ser um momento especial havia se transformado em um pesadelo.

 

Todavia, o pior ainda estava por vir. Naquela mesma tarde Lara recebeu uma ligação preocupante.  Alguém foi encontrado morto no estacionamento do seu marido.

 

 O corpo era de Estela, a mulher que estava com Rafael horas antes. O detetive Charles Alvim foi chamado para investigar o crime, afinal ele era conhecido por sua astúcia e habilidade para desvendar mistérios complexos.

 

Ele começou a interrogar testemunhas e coletar evidências. Rafael, bem como os outros funcionários da empresa, alegaram não saber de nenhuma rivalidade entre a colega de trabalho e outrem, mas ao verificar algumas imagens das câmeras, Charles percebeu a visita de Lara no local e acabou por envolvê-la na investigação.

 

Lara relatou suas suspeitas e as coisas mudaram de rumo. Deste modo, após uma análise minuciosa, alguém percebeu que ela havia flertado com outros homens na empresa e tinha uma reputação bastante duvidosa. A tensão aumentava à medida que Charles seguia as pistas que levavam a Rafael como possível suspeito.

 

Conforme a investigação avançava, Lara se viu cada vez mais presa em um emaranhado de emoções e incertezas. O detetive Charles Alvim, determinado a esclarecer o caso, começou a reunir evidências que apontavam para um possível esquema de extorsão envolvendo Estela. A mulher, conhecida por suas manipulações, havia se envolvido com vários homens da empresa, inclusive Rafael, mas nada parecia sugerir que ele tivesse motivos para matá-la.

 

Certa noite, enquanto analisava as provas em seu escritório, Charles recebeu uma informação crucial: a vítima havia deixado um diário secreto que continha detalhes sobre seus relacionamentos e ameaças que havia feito a algumas pessoas. Ao investigar mais a fundo, Charles descobriu que a jovem estava prestes a revelar um escândalo envolvendo um alto executivo da empresa — alguém que poderia ter muito a perder com essa revelação.

 

Com isso em mente, Charles convocou Rafael para uma conversa. Durante o interrogatório, ele revelou haver terminado seu relacionamento com Estela meses antes do crime e que ela estava obcecada por ele desde então. Ele também mencionou uma conversa estranha que teve com ela dias antes de sua morte, onde ela insinuou saber segredos comprometedores sobre outras pessoas.

 

Com essas novas informações em mãos, Charles conseguiu identificar um suspeito: um colega de trabalho que havia sido visto discutindo acaloradamente com ela na véspera do crime. Após uma investigação minuciosa, o detetive descobriu que esse homem tinha um histórico de violência e um motivo claro para silenciar Estela.

 

Quando as evidências foram apresentadas à polícia, o verdadeiro culpado foi preso. Lara e Rafael puderam finalmente respirar aliviados. A revelação do escândalo na empresa trouxe à tona uma série de mudanças e demissões, mas Lara percebeu que o mais importante era reconstruir a confiança e o amor entre eles.

 

Com o peso das suspeitas afastado, Lara decidiu surpreender Rafael novamente — não apenas com sua nova aparência ousada, mas também com uma viagem romântica para reavivar a paixão entre eles. O casal partiu para um destino paradisíaco, onde podiam deixar as sombras do passado para trás e recomeçar sua história juntos, mais fortes e unidos do que nunca.

 

 

HELIO SALEMA - PROJETO MEU ROMANCE - O DESTINO DE CRISTIANO FONSECA JR.

 





PROJETO MEU ROMANCE 

O destino de Cristiano Fonseca Jr.

Helio Salema

 

Cristiano, no início da adolescência, teve uma surpresa enorme que balançou seu jovem e virgem coração. Quando no primeiro dia de aula, do novo ano letivo, surgiu na sua sala a deslumbrante ISADORA. Filha única do médico recém-chegado na cidade. Durante os três anos seguintes eles formaram um par constante, não só nas aulas como também fora do colégio. Até o dia em que o médico fora convidado, e aceitou, trabalhar num hospital na capital, a convite de um professor que se tornou diretor daquele hospital. Por muitos meses, Cristiano e Isadora se correspondiam por cartas.  Até que Isadora parou de escrever.  

 

 

SOLIDÃO E TRISTEZA

 

A tristeza de Cristiano era percebida por todos ao longe. Inclusive por Ângela que era de outra turma, dois anos mais nova. Simpática, astuta e interesseira. Foi cuidadosamente, conquistando as atenções do jovem Cristiano, e também da família dele.  Ambas as famílias viram com bons olhos o entrosamento dos filhos.

 

CRISTIANO NA CAPITAL

 

Após a conclusão do segundo grau, Cristiano foi morar com seu tio na capital e trabalhar no escritório de contabilidade que pertencia ao tio. Nos fins de semana retornava a sua cidade natal.

 

NOIVADO

 

No dia em que Ângela completou dezoito anos, Cristiano surpreendeu a todos ao anunciar o noivado. A partir daí as famílias começaram a sonhar com o casamento.

Ângela aprendeu a dirigir com o pai, há muito tempo, não teve dificuldade em ser aprovada no exame para obter a habilitação.

 

 

DETETIVE FONSECA Jr

 

Cristiano consegue ser aprovado, em primeiro lugar, em um concurso para detetive de polícia. No fim de semana seguinte vai se encontrar com sua noiva, muito empolgado, comunicar a grande novidade.

No sábado à tarde, ela contente com a notícia e também muito estimulada, resolve mostra suas habilidades ao volante do fusca. Os dois vão passear pela cidade. Ângela resolve ir até um lago que é o preferido pelos pescadores e também pelos namorados. Ficam conversando dentro do carro e apreciando os pescadores e a bela paisagem.

Quando começa a escurecer, os pescadores vão embora e resta, somente, os dois namorados naquele pedaço. Assim, podem ficar mais à vontade e aos poucos com mais intimidades.

Ângela sugere saírem do carro e tomar a fresca sentados no gramado, inteiramente a sós. Com os desejos estimulados pela bela e suave noite, finalmente, acontece o inevitável.

 

A GRAVIDEZ DE ÂNGELA

 

Quando os pais de Ângela ficaram sabendo da gravidez da filha, foi um misto de surpresa, alegria e preocupação. A preocupação foi a mais forte e que abalou os princípios da família, que desejavam ver a filha casar-se de vestido branco com véu e grinalda. Alegria por sentir que o desejo de serem avós, certamente, aconteceria. Surpresa pois não esperavam para este momento.

 

Os pais de Cristiano logo pensaram nas possíveis reações da outra familia. O pai olhou para o filho, sem dizer uma só palavra, externando sua preocupação e decepção.

Durante a gestação, Ângela teve vários problemas, inclusive necessitando de repouso. O nascimento ocorreu sem transtorno. Nasceu um belo e saudável menino.

Ângela continuou morando com os pais, pois temia ficar sozinha na capital com um bebezinho. Recebia a visita de Cristiano nos fins de semana.

 

 

NA CAPITAL

 

Isadora casou-se com um médico, recém-formado, há mais de dois anos tentava engravidar-se, mas não obtinha êxito. Recentemente, começou a fazer tratamento.  Ansiosa por ter um filho; sofria e se sentia culpada.

E para piorar sua situação, seu marido foi assassinado na rua por um desconhecido. O caso foi parar nas mãos do detetive Fonseca Jr.

Dias depois, Isadora ficou sabendo que a pessoa destinada a solucionar a morte de seu marido foi o seu primeiro namorado.

 

 

EM OUTRA CIDADE

 

Durante alguns meses tudo transcorria, calmamente e sem novidades. Até que numa manhã chuvosa, Ângela saiu de carro para ir à casa de uma amiga que estava doente e precisava de ajuda. Num cruzamento, seu fusca foi alvejado por um caminhão desgovernado que acertou, justamente, na porta do motorista. Foi imediatamente, socorrida e levada para o hospital. Horas depois veio a falecer.

A mãe de Ângela ficou traumatizada, e em razão de não poder continuar cuidando do neto, Cristiano, a família o entregou para os avós paternos.

 

NA CAPITAL

 

Por alguns meses, o detetive Fonseca Jr trabalhou no caso do assassinato do esposo de Isadora. Neste período os dois se encontraram inúmeros vezes.

 

 

 

TIREM ESSA LOUCA DA CENA DO CRIME

 

A sirene do carro da polícia soava estridentemente, mas o veículo não se movia. Era um engarrafamento absurdo.  O detetive decide sair do carro e caminhar, em passos largos, porém sem chamar a atenção das outras pessoas. De cabeça baixa, serpenteando entre os transeuntes e de ouvidos atentos:

— Foi um tiro certeiro.

— Não! Foram 2 ou mais.

— O atirador saiu correndo e entrou num carro que o aguardava.

Ao chegar ao local, a vítima ainda estava caída. Um bando de curiosos cercava o corpo. Uma mulher louca gritando:

— Cadê a polícia? Nessa hora eles somem. Também não tem dinheiro para eles. Só aparecem para multar.

Um soldado se aproxima, olha para a mulher e a reconhece:

— Tirem!!! Essa louca da cena do crime!!!

Imediatamente, ela é levada pelos policiais que acabaram de chegar. O detetive ouve o que as pessoas próximas da cena, extremamente exaltadas, falavam do que ouviram, mas não viram.

 

 

Um policial se aproxima do detetive e comenta:

— Aquela mulher louca viu tudo ou quase tudo.

— Sei. Depois eu falo com ela em outro lugar e a sós.

 

 

UM CASO PASSIONAL?

 

Maria resolveu fazer uma surpresa para o seu marido. Depois de muito esmerar-se na produção do seu visual, de maneira que ele não a reconhecesse, foi pela primeira vez até a porta do prédio onde ele trabalhava.

A espera foi longa. Maria olhou, atentamente, para cada um que saía; parecia que todos já tinham deixado o prédio e nenhum era o Antonio, seu marido.

Resolveu subir até o escritório, ela sabia qual era o andar, mas não tinha certeza da sala. Enquanto subia pelo elevador, o marido descia pelas escadas. Como encontrou todas as portas trancadas, Maria pegou o primeiro elevador que descia.  Ao entrar percebeu uma única pessoa, era um homem que a olhou com os olhos arregalados e assustador. Passados poucos segundos tentou agarrá-la. Foi-se esquivando até que a porta se abriu e então pode sair correndo em direção à rua.

Ao entrar num bar para beber água e se acalmar, encontrou uma cadeira e não perdeu tempo. Após sentar-se repara que era alvo da atenção dos frequentadores, que a olhavam espantados, inclusive seu marido que estava acompanhado de uma bela jovem e não a reconheceu.

Em seguida chega o agressor que ao ver MARIA se dirige até onde ela estava. Mesmo no meio de tantos homens e também do seu marido, não foi suficiente para se sentir protegida.

Todos percebem o destempero de Maria, olham para o malígno e alguns vão naquela direção para resguardar aquela senhora que entrou só e estava indefesa.

O estranho sentiu-se acuado, e levando a mão direita até às costas, pega um revólver. O temor era geral. Aquela cena surpreendeu a todos. Em seguida o malígno vira-se em direção ao Antonio e dispara duas vezes. Antonio cai e uma gritaria geral toma conta daquele local, que há poucos minutos, era um ambiente de confraternização.

Mais um caso para o detetive Fonseca Jr.

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