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quarta-feira, 25 de setembro de 2024

HIRTIS LAZARIN - PROJETO MEU ROMANCE - BUSCAS E MAIS BUSCAS

 





PROJETO MEU ROMANCE



BUSCAS E MAIS BUSCAS

PARTE I


 

Como fazia todas as tardes, Homero caminhava pela ruazinha que adormeceu sossegada, bem antes da hora.

Essa tranquilidade contrastava-se com seus pensamentos rebuliçados que não se esqueciam do Valentim, seu gato de estimação. Fazia dois dias que Valentim saiu para o passeio habitual e não voltou. Procurou-o apenas no quarteirão que rodeava sua casa, pois sabia que o bichano costumava ir bem longe… Ele já tinha sete anos e conhecia tudo e todos.

Homero alterou o trajeto costumeiro e dobrou a segunda esquina da rua. Sentiu vontade de entrar na capela de Santa Rita. Sua mãe era devota de Santa Rita. Tinha um pequeno altar em casa, onde não faltavam, uma vela perfumada sempre acesa e uma rosa fresca. Ela acreditava piamente que, através de orações à santa das causas impossíveis, conseguiria a graça da cura da irmã, desenganada pelos médicos. A moça sarou e a família creditava a cura ao milagre da santa. Homero tinha, então, seis anos e aprendeu tudo sobre a Santa Rita. A mãe obrigava-o a rezar todas as noites diante do altar. O hábito permanece até hoje. Se tenta dormir sem orar, o pensamento não lhe deixa sossegado.

Homero aumentou os passos e entrou na igrejinha. Estava deserta e levemente perfumada de lírio-branco, ambiente de paz e propício à meditação. Era a capela mais acolhedora que ele conhecia. O padre responsável e as obreiras cuidavam dela como se cuida de uma obra rara. 

Mal acabara de se ajoelhar na terceira fileira de bancos, ouviu palavras sufocadas de socorro misturadas a gritos estridentes e desconexos. 

Como bom e experiente investigador, o homem ligou seu sistema de alerta. Correu em direção à sacristia. Era lá que acontecia a cena que descreverei: o padre Juliano estava esparramado no chão perto da porta, provavelmente na tentativa de fuga. O corpo com excesso de gordura, com certeza, amorteceu-lhe a queda. Sangue escorria de sua cabeça, percorria o pescoço e manchava a vestimenta sacerdotal de cor clara. O padre era das antigas e, no local sagrado, usava batina.  Respirava com dificuldade e balbuciava algumas sílabas. Tinha sido agredido fortemente na cabeça por objeto contundente. O mais importante: estava vivo. Sem perder segundos, pois em segundos pode-se perder uma vida, Homero chamou a ambulância. Por sorte, uma delas estava de prontidão e levaria não mais que quinze minutos para chegar. Fez travesseiro de um casaco pendurado atrás da porta e acomodou a cabeça do padre.

Só então ele se preocupou com o criminoso.  Não viu ninguém fugir e se tivesse tentado, seria impedido. Homero era um homem fisicamente forte e forte nas decisões. A postura imponente e um metro e noventa de músculos impunha-lhe muito respeito.

Nem foi preciso procurar. De trás de um armário forte e largo, apareceu uma mulher ostentando uma faca. Uma faca de açougueiro. Ao se deparar com o intruso, começa a movimentar os braços descontroladamente para cima e para baixo. Parecia um robô programado. O investigador de sobrancelhas grossas, arqueadas e testa franzida, veste-se de olhar frio e ameaçador. Assume postura altiva e se fixa num ponto próximo à mulher.  Ela não se intimida, ao contrário, ignora-o e grita. Grita muito, grunhidos de um animal furioso com vontade de atacar.

As vestes rasgadas mal cobriam o corpo magro de costelas saltadas. Os cabelos compridos, um amontoado de teias de aranha, cobriam parte do rosto. Uma fita vermelha prendia-se ali numa cena de enforcamento. Chamava a atenção as unhas compridas, dos pés e das mãos, pintadas de vermelho escarlate. Vaidade que não combinava com aquela aparência de total abandono. 

Homero manteve-se imóvel e calado.  Compaixão e dó foram os primeiros sentimentos que a mulher lhe provocou. Um ser humano que sofria e precisava de ajuda. E, ao mesmo tempo, criminoso.

Lá fora, uma sirene em som alto e distinto avisava que a ambulância acabava de chegar. Homero deixa a sala e tranca a porta à chave. A igreja, em segundos, estava cheia de burburinhos e de gente curiosa. Dona Hermelinda, vizinha da capela e muito amiga do padre, responsabiliza-se por acompanhá-lo até o hospital. Homero tinha outra missão.  Durante a remoção, Juliano recobrou os sentidos e abriu os olhos. Não se lembrava de nada, mas gemia de dor.

O investigador volta à sacristia na expectativa de encontrar a mulher, ainda mais furiosa e revoltada. A cena é inusitada. Ela está sentada no chão ao lado do facão. Com os cabelos afastados do rosto, podia-se ver que seus traços eram finos e a pele delicada. E que, talvez, um dia, já foi bem cuidada.  

Alheia à presença de Homero, ela começa a cantarolar.  Canções dos contos de fada.  

Tira um caderninho da sacola, põe-se em pé e declama. A voz era clara e compassada:

 

      “Se não puder voar, corra.

       Se não puder correr, ande.

       Se não puder andar, rasteje”.

 

Temendo que Homero a interrompesse, pergunta:

— Posso ler mais um? 

Agora a voz era doce e aveludada:

 

        “Não tenho garantia e nem certeza de nada.

         Vivo tentando”.

 

Olhou fixamente para o homem atônito e desarmado de intenções: 

—” O que você faz quando te tratam mal”?

Esperou alguns segundos e, diante do silêncio, deu alguns passos à sua frente. Chegou bem próximo a ele e falou com ênfase:

— ”Eu me trato bem e vou embora”.

A moça sem nome guardou a agenda no saco, pendurou-o nos ombros e andou até a porta. Olhou para trás certificando-se de que não estava sendo seguida e jogou-lhe um beijo:

— Sou Isabely.

Desapareceu na noite cheia de estrelas.

Homero permaneceu sentado, sem reação; era a única múmia viva que ele conhecia.

Lembrou-se, então, do seu gato Valentim que desaparecera no dia anterior.

Sentiu saudade e chorou.

 

 


OSSOS DO OFÍCIO.

PARTE II 

                                                                                      

 


O mundo parecia desabar sobre Homero.  As últimas descobertas e a concretização de suas suspeitas exigiam uma tomada de decisão urgente.  Uma reunião de emergência agendada com sua equipe de trabalho pegou a todos de surpresa. A pauta não foi apresentada com antecedência. Ele passou horas durante a noite organizando materiais   que mostrariam uma verdade inquestionável.  

Amanheceu, e Homero não ouviu o despertador tocar. Pulou da cama num sobressalto e escorregou no tapete redondo. “Maldito!” O cachorro do Cláudio arrancara-lhe um pedaço. “Maldita a hora em que não joguei esse tapete no lixo”.  

Ele não teve tempo para caprichar no visual como era seu costume e a colônia importada ficou esquecida no armário. 

 “Paciência, Homero. A vida continua”.

O trânsito estava congestionado. Um homem esbravejava dentro do carro. “Adivinhe quem era?” O investigador até pensou em cancelar a reunião, mas desistiu por conta da gravidade da situação. ”Tudo tem que ser resolvido hoje”. Esse pensamento não lhe dava paz.

Com duas horas de atraso, ele chegou ao Departamento de Justiça onde os auxiliares preocupados o aguardavam na sala de reuniões. O chefe era exigente e pontual. Não perdoava atrasos. Encaminharam-no várias mensagens e nenhuma teve resposta. “Você acha que Homero, na angústia do atraso e da seriedade do momento, prestaria atenção aos toques do celular?” 

Entrou no prédio a passos largos e não cumprimentou ninguém. Nem teve paciência de esperar o elevador.  Subiu as escadas, não eram tantos degraus e chegou ofegante. Percorreu o corredor comprido e entrou na sua sala. Sentou-se à mesa, inspirou e expirou profundamente, não sei quantas vezes, mas sei que não parou até que a respiração voltasse ao normal; e a cabeça também. Mandou mensagem aos colegas desculpando-se pelo atraso.  Abriu uma das gavetas e se propôs a trancar ali seu mau-humor.  Sabe leitor, é o que ele mais queria antes de chegar à sala de reuniões. A secretária, que, há cinco anos, trabalhava com ele e conhecia todas as variantes do temperamento do chefe, entrou na sala, serviu-lhe água e café e retirou-se leve e silenciosa. Um gato caminhando…

Há duas semanas, um banco foi assaltado. O gerente abria o estabelecimento no momento em que foi interceptado por um assaltante com um fuzil apontado à sua cabeça.  Três homens encapuzados e armados esvaziaram o cofre e sequestraram o gerente pra garantir segurança durante a fuga. O funcionário foi liberto ao final da tarde. 

O caso era bem simples e de fácil solução para o nosso investigador, um dos profissionais mais bem preparados e experientes do Departamento. Dez anos de estudo, prática profissional e muita dedicação. Desvendou crimes complexos, aqueles em que há numerosos componentes interligados que precisam ser desmembrados. Mas a investigação do banco, tão simples, não andava. Misteriosamente, documentos importantes desapareceram, outros foram trocados e duas das cinco câmeras que filmaram o crime apareceram danificadas. Homero começou, em segredo, uma investigação paralela. O objetivo era descobrir o sabotador da equipe. Ele tinha uma suspeita e a suspeita foi confirmada com provas inquestionáveis. E havia dinheiro envolvido. 

Leo era o mais velho do grupo. Um homem de cinquenta anos, esforçado, mas insatisfeito com suas realizações profissionais.  Estava sempre atento   às orientações   de Homero e pronto a seguir suas ordens, mesmo quando discordava delas. Todos notaram que, aos poucos, essa admiração foi crescendo… crescendo… e ele não conseguia mais esconder que queria ser o chefe.   Homero tinha maturidade suficiente pra lidar com o problema, pois sabia que o invejoso faz de tudo pra prejudicar o outro. O invejoso acredita que, pra ter o que você tem, você precisa perder. É uma dor psicológica difícil de ser controlada. E Aristóteles, que viveu no século IV A.C., já dizia: “Tudo o que traz felicidade, estimula a inveja”.

Essa era a pauta da reunião: denunciar e demitir o sabotador.

Homero ajeitou-se física e psicologicamente. Lavou o rosto, olhou-se no espelho e passou os dedos entre os cabelos desalinhados. Não gostou das olheiras profundas. Pegou um amontoado de papéis e dirigiu-se à sala de reuniões. A conversa animada foi interrompida bruscamente com a entrada do chefe. A mesa de madeira de lei, redonda e oval, acomodou-os com ar de nobreza. A reunião foi interrompida antes mesmo de começar. Leo não estava presente e ninguém tinha notícias dele.

Passou uma semana, passaram duas… três… um ano, até que as notícias chegaram.  Leo vivia como um rei no exterior ao lado de uma rica mulher.

 

 

          POR QUE TANTA PRESSA?    

            Parte III       


 

O telefone tocou várias vezes e ele não atendeu. Fingiu que não ouviu. Não queria interromper o momento de prazer que, há tempo, o excesso de trabalho não lhe permitia desfrutar. A cerveja gelada e os pasteizinhos quentes e crocantes encheram sua boca de saliva. Apenas a luz branca do abajur e o som clássico de Chopin. Um ambiente solitário, mas cheio de querer. Homero e o gato Valentim.

Ah! Já ia me esquecendo… Depois de uma semana, perdido na rua, o bichano abatido e assustado voltou pra casa. Não sei se aquele olhar espremido era de vergonha ou de arrependimento.  Cheirava mal e mancava; uma das patas estava ferida e sangrava. A visita urgente ao veterinário, alguns dias de tratamento e alimentação saudável o colocaram em forma novamente.

Homero ficou viúvo há dois anos e seu filho único estuda em Londres. A ausência da esposa causou-lhe um sofrimento sem fim. O casal parecia estar sempre em lua-de-mel, apesar dos dezessete anos juntos. Havia cumplicidade, confiança e apoio em todas as decisões. Um exemplo de casal feliz.  Acredito que o ideal é enxergar o parceiro como realmente ele é, sem expectativas irreais ou fantasias românticas. É o que os dois faziam.

O telefone tocou novamente. E insistiu…  Não contei quantas vezes, mas foram muitas. Essa insistência tirou o homem do sério. Ele esbravejou em voz alta e potente, soltou alguns palavrões, coisa rara no vocabulário desse cavalheiro. Até Valentim estranhou, pôs-se em pé, balançou o rabo e miou forte.

E se fosse uma emergência? A profissão de investigador assemelha-se à de médico. Os chamados não têm hora pra acontecer. Esse pensamento arrastou-o até o telefone que pretendia continuar esquecido e longe de mãos irrequietas.  Olavo, seu supervisor, estava do outro lado da linha e não precisou de muitas palavras para convencê-lo a assumir um crime horrível que acabara de acontecer numa pousada que abrigava vinte turistas. 

Adeus às férias programadas com tanto carinho e expectativa. Um roteiro na Grécia que provocaria inveja a qualquer agência de turismo. Mais de um mês de pesquisas no Google pra tudo se transformar numa frase tão curta: “Já era”. Desfazer as malas e devolver as roupas ao armário. Que missão difícil!

Homero voltou onde estava sentado anteriormente. A cerveja estava quente e os pastéis frios e prontos pra serem descartados. O lixo vazio foi inaugurado com esse presente. Ele sentiu vontade de chorar, mas lembrou-se de sua avozinha que dizia “Homem não chora”, todas às vezes que ele abria um berreiro por coisas insignificantes. Um menino mimado e “cheio de não me toque”. Esse pensamento arrancou-lhe um sorriso comprido e cheio de saudade da infância. A casa simples e bem arrumada; janelas grandes e muita grama no quintal; o cheiro gostoso que vinha da panela grande que mamãe mexia com doce de abóbora. 

 “Acorda, homem, você não tem tempo para devaneios! Sei que há lembranças que grudam na gente e são difíceis de esquecer, mas esse não é o momento.  Há, pela frente, um roteiro que você deve seguir: adiar os planos, embalar os sonhos e convocar a equipe de trabalho.  Homero olhou com tristeza as duas malas prontas.   As roupas, devolvê-las ao armário, até hoje não conseguiu.

Duas horas depois, três homens desembarcaram na “Pousada da Concha”. Os policiais já tinham isolado o local e os hóspedes colocados fora das dependências. A equipe deslocou-se até o primeiro andar. O corpo quase nu de uma jovem estava caído à entrada do quarto número dez. A porta aberta mostrava um quarto revirado e coisas emboladas pelo chão: roupas de cama, roupas de gente, latas de cerveja… Manchas de sangue próximas ao corpo e nas paredes também.

Antes de começar a análise das evidências e levantar questões sobre o crime, Homero desce bem rápido as escadas, em direção à cozinha no andar térreo.  Estava com sede e com fome. Saiu de casa com tanta pressa que deixou, na mesa, a comida quentinha preparada por Dona Nina. Um escorregão nos primeiros degraus e o seu corpo roliço desceu feito uma bola de futebol.

Acordou instantes depois, gritando de dor na perna direita. Não conseguia levantá-la do chão. E horas mais tarde, o raio-x apresentava-lhe o que deveria fazer nos próximos meses: repouso e muita fisioterapia. 

 

 

 FLASHBACK

Parte IV

 

Homero passou dois dias no hospital. Não se conformava com os últimos acontecimentos: cancelamento das férias e perna quebrada. Nas primeiras semanas, recebeu muitas visitas. Cerveja, doses de whisky e muita conversa fiada. Esquecia-se da dor e dos pensamentos negativos. Nada de tristeza. Mas aos poucos a casa foi ficando vazia e a cabeça, cheia de irritação. Livros, filmes, noticiário, nada mais o entretia. A vontade era voltar ao trabalho: analisar cenas do crime, coletar informações e traçar o perfil dos suspeitos.  Muita ação envolvida e muita adrenalina. E, ao final de cada investigação, a comemoração do sucesso.

Dona Nina não se intrometia em nada. Arriscava alguns conselhos que a maturidade da vida já lhe permitia.  Fazia seu serviço, trocava algumas palavras com ele e tomava todo cuidado pra não contrariá-lo. Até as músicas que ela gostava de ouvir e cantarolar ficaram caladas.

Naquela quinta-feira, a senhora teve uma ideia, pra ela genial: lembrou-se de uma rede comprada no Nordeste e que nunca foi usada. Não sabia onde estava guardada, mas não teve preguiça para procurá-la. Foi cansativo, subindo e descendo da escada. Encontrou-a no mais alto de um dos armários da casa. A dor nas costas voltou, mas paciência…  Armou-a na varanda sombreada pelo imponente flamboyant de quase dez metros de altura. A copa compacta de flores vermelhas era um chapéu gigante  que protegia a casa. Uma jarra de suco de amoras frescas, pasteizinhos crocantes e um dia cheio de sol. Tudo isso seria capaz de proporcionar um pouco de prazer ao patrão? Não sei se ele gostou da surpresa ou se foi apenas educado. Ajudado por ela, acomodou-se à rede e ali passou a tarde toda sem gemer e sem reclamar.  Acredito que ele se esqueceu da perna imobilizada, do trabalho, dos crimes. Teve tempo pra devaneios e até pra um flashback.

Lembrou-se de um passado triste e bem longe do seu país que lhe custou muitas sessões de terapia. Lembrou-se também das tantas cartas que a avó Leninha lhe escreveu naquela época. Guarda-as até hoje. Dona Leninha foi a mulher generosa e forte que o protegeu e aceitou os desafios de criar um menino órfão ao lado do esposo rabugento, com mania de doença.  Ela se reinventava todos os dias pra dar conta do recado e os obstáculos nunca roubaram seu bom humor.  As rugas do rosto não conseguiram roubar-lhe a jovialidade e ela morreu linda com seu colar de pérolas miúdas.

Era 1960, trinta anos atrás.  Homero chegou longe. Revê uma das muitas cenas que viveu naqueles dias infernais. Caminha a esmo e pensa estar delirando. Olha ao redor e não acredita no que seus olhos veem e seus ouvidos escutam. Corpos caídos, mortos e feridos; gritos e gemidos; um barulho ensurdecedor; uma fumaça espessa que queima seus olhos. O corpo está cansado e dolorido, a cabeça gira feito pião e a energia não existe mais.  Mal consegue suportar o peso da arma que carrega. Sente vergonha dessa fraqueza física e mental. Não entende porque ali você mata ou você morre. 

Como será completar dezenove anos num campo de batalha? Tentou cantar o “Parabéns a você”, mas as letras fugiram. Estariam escondidas no tanque blindado? 

 Uma bomba explode às suas costas.

— Capitão, dois soldados foram atingidos e despencaram morro abaixo. — Alguém grita.

Homero não olha. Ouve passos rápidos que pisam forte no matagal.  Arrasta-se até os escombros do que já foi uma casa. Lava o rosto num fio de água que escorre de uma torneira enferrujada. Num amontoado de tijolos, vê pedaços de brinquedo.  Carrinhos sem rodas e os olhos da boneca, abertos e assustados. Ele não se lembra de mais nada e só acorda com os gritos potentes do comandante acompanhado de um chute. Põe-se de pé num salto e vê o dia amanhecido.

Era hora de enterrar os mortos, recolher os feridos e voltar ao acampamento.


 O TORMENTO TEM NOME: CIBERNÉTICA.

              PARTE V.

 

Dois meses se passaram desde o acidente de Homero e a sua recuperação surpreendeu os médicos. Apesar dos cinquenta anos, estava em plena vitalidade. Na juventude, jogou muito futebol e participou de competições na natação. Nunca foi campeão, mas atingiu ótimas classificações.   

Depois de alguns dias chuvosos, a segunda-feira amanheceu de tempo bom.  Ele foi até a garagem e Valentim o acompanhou rosnando à sua volta.  Abriu o carro e pôs o motor pra funcionar.  Criou coragem e pela primeira vez saiu dirigindo. Sentiu um pouco de dor, mas nada que comprometesse a habilidade de um bom motorista.

Estacionou o carro à frente da capela de Santa Rita. D. Juliano estava rezando missa e bem recuperado da paulada que levou na cabeça. A cicatriz de dez pontos ficou escondida debaixo da cabeleira crespa e a “mulher sem nome” que o atacou nunca foi encontrada.

A próxima parada foi na delegacia. Queria rever os colegas e criar ânimo pra voltar às atividades. Sentia muita falta daquele ambiente cordial, construído ao longo de quinze anos com muito trabalho e desafios.

A recepção foi acalorada e cheia de brincadeiras.

— Oi, chefe! Suas férias foram longas demais. 

— Não teve tempo pra fazer a barba? 

— Gente, a barba dele está ficando branca.

— Vocês estão com inveja do charme de Homero! Aproximou-se dele a escrivã de polícia, meio encabulada, e deu-lhe um abraço apertado. Ganhou um beijo no alto da cabeça. Era baixinha e, mesmo na ponta dos pés, sumia à frente daquele homem de um metro e noventa.

Ele circulou entre as mesas, cumprimentou cada funcionário e respondeu muitas perguntas sobre o acidente.  Com o copo de água ainda nas mãos, parou em frente à porta do chefe e deu duas batidinhas. Sem fazer barulho, entrou. O homem que estava de costas, de tão concentrado, não percebeu a entrada de alguém, nem desviou os olhos do computador.   

— Oi, Doutor — Falou Homero em tom baixo.

O Doutor levou um susto, pois ninguém entra em sua sala sem autorização. Seu primeiro movimento foi empunhar a arma e dar um salto da cadeira.

— Calma, sou eu, Homero.

— Oi, amigão, você me assustou. Por pouco não leva um tiro. 

E caíram na risada.

Sem pressa, os dois puseram a conversa em dia e passaram a tarde juntos.

Homero voltou pra casa com “uma pulguinha atrás da orelha”. Uma pulguinha que tinha nome: “cibernética”.  

“Crimes cibernéticos começaram a aparecer na delegacia e a investigação exigia do profissional conhecimentos tecnológicos”. Essa frase, ele não sabia se o chefe repetiu-a várias vezes ou se o impacto ao ouvi-la foi tão grande que ela não saía de sua mente. Ia e voltava, ia e voltava.

Você, leitor, deve estar se perguntando: por que Homero ficou tão incomodado?

Pense comigo: o avanço tecnológico trouxe mudanças significativas na forma como vivemos e trabalhamos. Não temos como fugir dessa tecnologia, a não ser aceitá-la e aprender a lidar com ela. E os mais velhos enfrentam-na com mais dificuldade e resistência.

Homero já não é mais um jovem. Tem conta no WhatsApp, passeia pelo Facebook, assiste a filmes no YouTube, mas sem muita afinidade com o notebook.  Sempre fugiu dele. Jamais pensou que, depois de tantos anos de trabalho, tantos cursos de aperfeiçoamento e chegar ao ápice na carreira, teria que voltar à sala de aula pra aprender o “a-e-i-o-u” da informática.

Dormiu preocupado e sonhou. Sonhou com o tempo, com a velocidade com que o tempo anda. Teria ele tempo e paciência pra dar conta de tantas coisas novas pra aprender? Ele não poderia perder o status conquistado. Ajeitou-se na cama e o sonho continuou.  Andou a esmo, por lugares desconhecidos e chegou a uma rua sem saída e sem direito a retorno. Uma casa amarela ao final da rua. Precisa entrar nessa casa amarela. A porta não está totalmente fechada. Ele entra cautelosamente. A sala está solitária, não tem flores e nem cor.  Não tem nada. Uma voz vem de algum lugar:

— Seja bem-vindo! Você chegou ao nosso mundo.

Homero sente calafrios.  Procura por alguém e não encontra. Tenta correr, mas as pernas compridas não saem do lugar. À sua frente, uma porta enorme se abre automaticamente. 

E a voz continua:

— Aqui é o mundo dos computadores. A partir de hoje, você também é um computador! O menor de todos, o de menor importância.

Homero acordou assustado, deu um pulo da cama e sentiu dor. Se a perna doeu, estava vivo e ele não era um computador.  

 

 Adeus, La Traviata

                                                                       Parte VI

 

Dona Nina esfregava as mãos no avental, ia pra cá e pra lá, andava pela casa toda. Estava bem preocupada. Já fazia muito tempo que Homero estava debaixo do chuveiro; pelo contrário, era rápido demais, era “banho de gato”. Ela bateu forte na porta do banheiro, várias vezes, até que um vozeirão lá de dentro gritou:

— O que foi, mulher?

— Nada, não. Só queria saber se você está vivo.

Ela sossegou e voltou ao fogão pra preparar um caldo verde. Queria servir ao patrão antes que ele saísse. 

 

Meia hora depois, Homero estava diante do espelho, deu algumas voltinhas, ajeitou o cabelo e gostou da imagem que viu refletida.  Era a segunda vez que usava o terno cinza-chumbo e a gravata vinho. Estreou-os no Teatro Estatal de Viena, acompanhado da esposa e do filho adolescente. E agora, depois de doze anos, o terno saiu do cabide cheirando a naftalina, passou alguns dias na lavanderia e voltou pra casa perfumado de amaciante.

 

Essas lembranças quiseram deixá-lo triste, mas expulsou-as tão rápido quanto se expulsa o “bzzzz” fininho de um pernilongo. Essa noite seria especial. Ele e Laura iriam ao Teatro Municipal assistir à ópera “La Traviata”, de Verdi. 

 

Ele aprendeu a gostar de óperas, já na adolescência. Seu pai tinha voz de barítono e, quando estava bem-humorado, imitava um ator em cena. O filho acompanhava-o como se fosse a prima-dona, expressando um lirismo caricato. Essa brincadeira os aproximava, principalmente num período em que os pais se desentendiam e as brigas eram constantes.

 

Afinal, quem é Laura? Voltemos um pouquinho no tempo, seis meses atrás. O aumento e a sofisticação dos crimes cibernéticos exigiram que Homero estudasse mais e, bem contrariado, matriculou-se num curso de informática. Sabia de sua dificuldade e de sua má vontade com a tecnologia. As primeiras aulas foram insuportáveis, não conseguia prestar atenção e achava aquilo tudo muito complicado. Várias vezes, desanimado e achando que não daria conta, saiu de fininho da aula.  Antes de chegar em casa, passava no Bohemio's Bar, um ambiente aconchegante e cordial. Apenas dois drinks bastavam pra acalmar, equilibrar seus pensamentos e ter uma noite bem dormida. Com certeza, esquecia das teclas do notebook.

 

Homero aproximou-se do balcão e ali ficou. O barman, que já o conhecia bem, preparou, em poucos minutos, seu “dry martini”. Ele olhou ao redor e viu pouca gente, ninguém que conhecia.

 

Nessa noite, Laura estava lá. Sentada num ponto estratégico, podia ver quem chegava, sem ser vista.  Aquele homem elegante e bem-vestido que acabara de chegar chamou sua atenção. Ela estava só e passou a observá-lo: ele falava baixo, ria na medida certa e segurava o copo de um jeito masculino. 

 

Não se conteve e, bem atrevida, aproximou-se dele. Foi ignorada, mas não desistiu e jogou todo seu charme. Homero não quis ser indelicado e ofereceu-lhe um drink. E não é que a conversa fluiu?  Interessante e descontraída, falaram coisas sérias e coisas engraçadas. Nem viram o tempo passar. Homero levou um susto quando consultou as horas, já era de madrugada. O dia que amanhecia reservava-lhe um trabalho intenso e muita disposição. Estava investigando um caso de latrocínio e tudo indicava que o assassino era alguém da família.

 

Engoliu às pressas os últimos goles do segundo drink, pagou a conta e, por educação, ofereceu carona à Laura e ela aceitou o convite. Alguns encontros aconteceram depois e chegamos, então, à noite da apresentação de “La Traviata”.

 

Os dois descem do táxi à frente do Teatro.  Encontram-se com dois casais amigos que os aguardavam. Gente feliz e ansiosa, muitas luzes e alguns policiais cuidando do espaço, todos à espera da abertura da porta principal.

 

Dois rapazes simpáticos e bem-vestidos circulam entre as pessoas. Conversam com algumas, fazem perguntas, parece que procuram alguém. Um deles aproxima-se, cautelosamente, de Laura. Posiciona-se bem às suas costas de um jeito que não fosse visto pelos amigos. Sussurra ao seu ouvido: 

— Você não é a Sofia?

Ela vira a cabeça num gesto simpático, tentando entender. 

Ele repete:

— Você não é a Sofia? 

Ela franze a testa, olha firme no rosto do rapaz e tenta identificá-lo.

— Você está equivocado. Eu não o conheço.

Ele continua falando e ela continua não entendendo.

Neste momento, o outro rapaz chega perto e, com mão, rápida e firme como as garras de uma águia, puxa e arranca o seu colar. Um grito de susto e dor. Uma confusão generalizada.

 

Homero havia percebido que Laura conversava com alguém, não se preocupou, mas ficou atento. “Talvez seja alguém que ela conheça”. Viu quando aconteceu o roubo. Saiu correndo, pois tinha certeza de que as pernas compridas alcançariam o ladrão. A indecisão do rapaz pra qual direção seguir, facilitou o trabalho do caçador. Ele alcançou-o assim que atingiram o segundo quarteirão. Dois policiais chegaram logo em seguida e a joia foi recuperada. 

 

Era um colar valioso no preço e no sentimento que carregava. Um colar que Laura ganhou da avó materna quando completou quinze anos. Um ano antes dela falecer, inesperadamente. Era uma noite de verão intenso. A casa ficou acordada até tarde e todos reunidos no quintal grande e cheio de árvores. Dona Esmeralda não era de reclamar e ninguém percebeu se ela sentia algum desconforto maior que a quentura da noite. Foi dormir antes de todos e não acordou mais.

 

Homero ligou pra Laura, tranquilizou-a e tranquilizou-se porque ela passava bem ao lado dos amigos. E já estavam no Teatro, faltavam alguns minutos para o início da peça. A notícia inconsolável é que ele, o ladrão e os policiais teriam que comparecer à delegacia para registro da ocorrência.

Aceite, Homero! E diga adeus à “La Traviata”.



 

                                                                                   

 

A Menina que gostava de ler

      Parte VII

 

Fazia apenas um mês que Luíza assumira o cargo de bibliotecária na faculdade onde estudava. Naquela sexta-feira não voltou pra casa como fazia todas as noites por volta das vinte e duas horas. Ela não compareceu às aulas e nem ao trabalho nos dois dias seguintes sem qualquer aviso que justificasse sua ausência. E esse comportamento não combinava com aquela jovem tão responsável.

A família, os colegas, ninguém obtinha resposta. O celular não tocava mais. A busca começou e a polícia contou com a ajuda da população. A cidade era pequena e a jovem era muito querida. Homero e sua equipe chegaram no dia seguinte aos acontecimentos.

Quem era Luíza?

Luíza estava na terceira série primária quando aprendeu a ler. Ninguém acreditava mais que isso fosse possível, mas teve a sorte de encontrar uma professora especial e juntas lutaram, durante um ano,  pra que ela superasse todas as dificuldades. A menina ficou deslumbrada quando pegou um livro, leu a historinha do começo ao fim e soube contar o que leu. Nascia ali uma grande leitora. 

E Luíza nunca mais foi vista sem ter um livro às suas mãos.

A leitura transformou a sua vida:  desenvolveu a capacidade de concentração, raciocínio e aprendeu a argumentar, com muita clareza, pra aceitar ou discordar de uma ideia.  

Cursava o primeiro ano do curso superior quando passou a trabalhar na biblioteca da faculdade. Fazia tempo que ela rondava a bibliotecária.

 

Dona Lídia, Do Li para os alunos, ocupava esse lugar há vinte anos e os familiares e amigos a aconselhavam a se aposentar. Não casou, não teve filhos e não aproveitou a vida. Deveria conhecer outros países e outras culturas, já que os conhecia muito bem através das tantas páginas de tantos livros que já lera.  

Na tarde da última sexta-feira do mês, ela chegou ao trabalho com os cabelos soltos, maquiagem leve e roupa de “ir à missa”. Eu a conheço faz tempo e sempre a vi com os cabelos presos. Acredito que até eles se estranharam ocupando aquela nova posição, livres e leves, balançando ao vento.

Chamou a atenção e recebeu elogios, retribuindo com sorrisos de gente feliz. Provocou muitos buchichos. “Será que a Do Li arrumou um namorado”? Não leitores, ela não arrumou um namorado.  

Colocou uma plaquinha na porta avisando que, naquela noite, não atenderia ninguém. Trancou-a por dentro antes que os curiosos se aglomerassem. Não tinha vontade de dar explicações. Sentou-se, confortavelmente, pela última vez, na poltrona bordeaux de florzinhas brancas que ela mesma comprou e reformou várias vezes. Respirou profundamente uma porção de vezes como se quisesse sentir e guardar pra sempre o perfume dos livros. Costumava dizer: “Esses são “meus livros”. Abriu as gavetas, minuciosamente organizadas, e guardou numa maleta todos os objetos pessoais de que dispunha para trabalhar.  O trabalho rendeu.

Conversou com os livros e se despediu deles sem lágrimas nos olhos. Foi forte.  Cumpriu rigorosamente o horário e saiu por último do prédio. Trocou algumas palavras com o segurança, pegou o carro no estacionamento e parou no portão de saída pra acender um cigarro.  Era o único cigarro que fumava todo dia. Um ritual que a acalmava. Amassou com raiva um pedaço de papel e jogou-o pela janela. Olhou pra todos os lados e só viu o morador de rua que dormia ali todas as noites.  Na segunda-feira de manhã, Dona Lídia solicitou aposentadoria ao reitor da faculdade e à noitinha bebia um vinho geladinho na primeira classe da Latam Airlines. Vinte dias na Itália. Não gastou a vida toda e podia se dar ao luxo de extravagâncias.

Na mesma semana, Luíza começou a trabalhar. Estava radiante e cheia de ideias. Queria incentivar a leitura e mostrar o livro como elemento transformador na nossa vida. Trazer palestrantes, atividades diferenciadas e até alunos de outras escolas, incentivando a competição. Aproveitaria tudo que aprendeu na vida e nos cursos especializados. 

Voltemos ao início do texto. Homero vasculhou todos os lugares por onde Luíza costumava passar no dia-a-dia. Conversou com pessoas com as quais ela se relacionava e recolheu imagens das câmeras instaladas no prédio da faculdade e nas ruas. Reuniu um bom conjunto de provas, suficientes naquele momento, pra examinar e, provavelmente, descobrir onde estava Luíza, viva ou morta.

Saiu rápido do estacionamento da faculdade e, distraído, esqueceu-se de acender os faróis. Quase bateu num carro que passava pela rua. Pisou firme no freio, graças a Deus estava funcionando bem, e dos pneus, travados no piso da calçada, soltaram-se faíscas de fogo. Os dois motoristas desceram do carro e, é claro, armou-se uma confusão. Um xingava e o outro se desculpava.  O morador de rua só observava e olhando pro alto pedia a Deus que se entendessem. E foi o que aconteceu. Uma hora a briga tinha que acabar.  

Homero, por um tempo, permaneceu fora do carro, tentando esfriar a cabeça e se recompor. Foi, então, que notou a presença do maltrapilho. Aproximou-se dele, não sentiu cheiro de bebida e conversaram. O homem tinha ideias claras e o seu português era correto. Ele conhecia bem Do Li.  Ela era atenciosa e sempre o levava até a cantina da faculdade pra jantar. Até contou que a viu no último dia em que trabalhou. Achou estranho porque ela não lhe deu o “boa noite” como fazia todas as noites. E, antes de ir embora, fez uma cara feia, de raiva e jogou um amassado de papel que acertou sua cabeça. Abriu o papel, mas não conseguiu ler o que estava escrito.  “Estava escuro e a vista já não ajuda”.

O corpo de Luíza foi encontrado quinze dias depois, dentro de um poço num terreno abandonado perto da cidade. 

O trabalho de investigação foi rápido e preciso. Dois homens já estavam presos, apesar de dizerem ser inocentes. A coleta de provas foi perfeita e as câmeras foram cruciais na identificação dos criminosos.

Dona Lídia desembarcou no aeroporto e três policiais a aguardavam. Naquele papelzinho amassado e sem importância que ela jogou e acertou a cabeça do morador de rua estava escrito: “Eu me aposento, mas prometo que enquanto eu viver, não deixarei ninguém entrar na minha cadeira”. 


     Laura e Alex

     Parte VIII

 

Laura é uma jovem mulher de trinta e dois anos. Entusiasmada com a vida e cheia de planos. Chegou na vida de Alex no momento em que ele, com cinquenta e três anos e viúvo há muito tempo, necessitava da companhia feminina pra compartilhar a vida e usufruir as conquistas profissionais. 

A missão como pai estava cumprida. Seu filho chegaria em breve de Londres, onde estudou por quatro anos. Estava formado, amadurecido e pronto pra assumir a vida. 

Foi o encontro de dois mundos diferentes. A justiça de Alex e a arte de Laura se entrelaçam e desse entrelaçamento surge um grande amor, marcado pelo companheirismo, respeito e muito afeto.

Alex, investigador, como já sabemos, convive no dia-a-dia com o crime, um mundo que atenta contra a vida, a liberdade, a propriedade e a dignidade do cidadão. Envolve armas de fogo, assassinatos, roubos, sequestros, toda e qualquer ilegalidade. Uma vida estressante e cheia de pressão.

Laura é arquiteta e seu mundo envolve criatividade, sensibilidade e artes. Elabora-se um plano cujo objetivo é chegar próximo à perfeição. Eu definiria a arquitetura como a “construção da beleza”.

Já faz um ano que o grande sonho de Laura se concretizou. O vestido de noiva, o mais bonito de todos, o buquê de flores frescas do campo, a igreja cheirando a rosas e muita gente pra compartilhar esse momento tão especial para os dois. A lua de mel em Paris.

Alex e Laura deixam o consultório do médico abraçados. Catarina chegará daqui a sete meses. O pai parece mais bobo que a mãe. Nada melhor que um bom restaurante pra comemorar que tudo está bem com a mamãe e a bebê.

 Ah! Quase me esqueci… E comunicar ao filho do Alex que, depois de vinte e dois anos, ele ganhará uma irmãzinha.

 


  

O CASAMENTO REAL - Alberto Landi

  O CASAMENTO REAL Alberto Landi  Em uma manhã ensolarada de 22 de maio de 1886, as ruas de Lisboa se encheram de flores e música para cel...