AMIZADE
VERDADEIRA.
Do Carmo
Conheço muito bem
uma distinta senhora, que em determinadas ocasiões, perde toda a elegância e
por vezes retruca com aspereza.
Desde criança, diante de uma situação de
descriminação ou preconceito, ela fica indignada e chega a ser rude em sua
fala.
Por volta de mil
novecentos e quarenta e seis, estava ela no terceiro ano do curso primário,
hoje fundamental, quando uma das colegas de classe convidou-a para seu
aniversário, entregando um envelope com o convite.
Como era de seu
hábito, estava sempre com uma menina,muito estudiosa, que dizia ser sua melhor
amiga da escola, Para nossa
protagonista, cor de pele, religião ou classe social, era indiferente, o que
ela julgava importante era a índole da
pessoa.
Indignada, sem
agradecer ao convite, tremula e com voz embargada, perguntou a dona da festa, por
que só ela estava sendo convidada?
Com muita
tranquilidade ela disse que na festa dela só entravam meninas brancas, negras
eram diferentes.
Ah, com o coração
a saltar pela boca, essa menina com raiva, quis saber se o amor que ela sentia
pela mãe, era diferente do que uma menina negra, sentia pela mãe negra.
Sem saber o que
responder, muito admirada, estendeu novamente o convite dizendo que era só para
ela.
Mais controlada,
agradeceu e com voz mais doce que encontrou, disse que não poderia aceitar um
convite de quem tem preconceito de cor ou raça e que onde uma amiga é barrada,
ela também sente-se barrada..
Essa menina
cresceu, estudou, formou-se em pedagogia, casou-se, teve filhos e continua se indignando com preconceitos estúpidos.
Hoje é comadre da
melhor amiga da infância, pois amizade sincera, tem olhos para o coração e
despreza a cor da pele.