A GRANDE JORNADA.
Autores: ICAL
Adelaide Dittmers
Helio Salema
Leon Alfonsin Vagliengo
Pedro Henrique Pereira
Hirtis Lazarin
Henrique Schnaider
Vanessa Proteu
Yara Darezzo
Alberto Landi
Dinah Amorim
Capítulo I
AO ENCONTRO
DO DESCONHECIDO
O céu tingia-se de diversas cores, que se refletiam nas águas azuis e serenas
de Paraty. O astro-rei surgia com toda a sua majestade no horizonte, iluminando
o belo e recortado litoral, onde pequenas ilhas salpicavam de verde o mar
límpido, que levantava brancas espumas, quando batia nas pedras ou beijava
languidamente as areias brancas das praias.
Três homens conversavam animados em uma marina,
onde estava ancorado um veleiro de uns 35pés (aprox. 11 metros), imponente, com as velas brancas
balançando ao sabor do vento, parecendo impaciente de singrar as águas
profundas e inquietas do oceano.
Os homens saltaram para o barco. Havia expectativa
e êxtase na expressão de cada um deles, a tensão e o entusiasmo misturavam- se
no íntimo deles, pois iam realizar o grande sonho de suas vidas: contornar o
mundo pelos mares infindos e muitas vezes perigosos do planeta.
O planejamento da viagem durou quase dois anos. Estudaram os ventos, as correntes marítimas e todos os revezes, que poderiam
acontecer durante essa grande aventura.
Determinaram que iriam até o sul da África, passariam pelo Cabo da Boa Esperança e alcançariam o Oceano Índico.
Pedro tinha o título de Capitão-Amador, um mestre
velejador tarimbado, que navegara pelo litoral brasileiro e em outros mares com
um grupo até os Estados Unidos. Júlio, oceanógrafo, que há muito tempo queria
enfrentar de perto os humores do mar, e Geraldo, um executivo bem-sucedido,
cansado da exigência de suas funções, sempre almejara a liberdade e os
perigos de uma grande aventura.
Sábado foi o dia escolhido para a partida, apesar
de que na quinta-feira à noite tudo já estivesse pronto e conferido para a longa
viagem. O barco totalmente revisado e com a documentação em ordem, os
mantimentos, o suprimento, água potável, o combustível para o motor a ser
usado nas calmarias, o rádio, enfim tudo adequadamente providenciado. Ansiosos,
Júlio e Geraldo queriam zarpar na sexta-feira, mas Pedro não concordou:
“sexta-feira, não. Todo marujo sabe que sair do porto numa sexta-feira dá
azar”.
Ao embarcarem, Geraldo e Júlio estranharam aquela
ferradura enferrujada pendurada no convés, que contrastava com a modernidade do
veleiro. Ao lado dela, uma cachorrinha vira-lata os recebeu, abanando o rabo
com alegria.
— Essa é a Tica, disse Pedro. Vai com a gente
para dar sorte; a viagem é longa, vamos precisar. E passem a mão na ferradura
sempre que entrarem na embarcação para espantar o azar.
Geraldo e Júlio não eram supersticiosos, mas
obedeceram ao Mestre, divertidos com as inesperadas novidades. A cachorrinha
seria, sem dúvida, uma alegre companhia, independentemente de trazer a sorte
esperada. Afinal, essas crendices de Pedro não atrapalhariam em
nada. Quem sabe, não teriam algum fundamento? Quem sabe?
O vistoso e imponente barco começou a navegar
mansamente, comandado pelas mãos hábeis do capitão, auxiliado pelos dois
amigos. Na marina, um grupo de pessoas formado por curiosos e familiares dos
intrépidos navegantes acenavam emocionados, alguns com lágrimas nos olhos, ao
acompanhar o suave balanço do barco rumo às surpresas inimagináveis do mundo
marítimo. O coração descompassado pelo temor do que lhes podia acontecer.
A família de Geraldo era a mais preocupada, pois
ele nunca se aventurou numa embarcação e, devido à pressão que sofrera nos últimos
tempos, sua saúde ficara abalada.
No píer, os sussurros das orações de quem ficava. Pai-Nosso e Ave-Maria, até súplicas e promessas a serem cumpridas quando da
volta dos novos marujos. Esses atos de fé e esperança dominavam a mente e
o coração daqueles que vislumbravam o afastamento do magnífico barco.
Pedro ao timão, vento a favor, sol ameno, o veleiro
avançava com suave balanço no mar sereno, para o langor de seus ocupantes,
distanciando-se da costa. A pequena igreja da borda de Paraty foi ficando
menor, até que já não podiam vê-la.
E assim foram eles à procura de grandes emoções e
em busca do desconhecido.
Tica explorava os cantos do barco, cheirando aqui e
ali. Às vezes apoiava-se na amurada e olhava para longe, como a admirar a
paisagem. Também se mostrava excitada com a nova situação.
Devidamente protegidos pelos cuidados reais e
esotéricos do Mestre Pedro, os três amigos apreciavam aquele momento,
sentindo-se confiantes para a grande aventura que se iniciava.
— Que vida boa! — Disse Geraldo, entusiasmado. —
Não vou enjoar nunca.
Pedro sorriu com uma expressão zombeteira. Mal sabia Geraldo, que quando uma tempestade atingia a embarcação, muitas vezes, até os mais experientes marinheiros punham para fora o que já não tinham mais no estômago.
Navegando pelo cenário cinematográfico do litoral,
recortado por pequenas enseadas de águas preguiçosas, que disfarçavam o mar
revolto de águas mais profundas, os três aventureiros inspiravam com prazer o
ar salgado e morno do mar.
Gaivotas voavam em bando, mergulhando para pegar
peixes. Golfinhos passaram por eles, conversando alegremente entre
si.
— A natureza é soberba! Sempre adorei o mar!
Exclamou Júlio.
— Mas estejam preparados porque muitas vezes ele
nos desafia. E é para isso que estamos fazendo essa viagem, para testarmos
nossa coragem, inteligência e persistência, não é mesmo, companheiros?
— E descobrir novas experiências, conhecer lugares
distantes e outros povos. Sobretudo, aprender a lidar com o desconhecido
e o inesperado. Se formos bem-sucedidos, voltaremos outros homens. Disse
Geraldo, emocionado.
Capítulo II
QUEM SÃO ELES
Geraldo era conhecido empresário, dono de importantes
empresas de variados ramos no Brasil e fora do país. Seus negócios oscilam nas
bolsas de valores do mundo, variam conforme a maré. Desde os quinze anos
habitou escritórios e indústrias. Antes, acompanhava o velho pai e avô, mas
agora, já não os tem e a administração de todo negócio está em suas mãos. Não
teve filhos e, portanto, não tem um substituto para arrebanhar a labuta.
O estresse começou a provocar-lhe sintomas de
desgaste emocional, o que preocupava a esposa. Precavido, sempre fez
astronômicos seguros de vida, pensando no futuro da mulher.
Uma viagem de aventura o ajudaria a liberar a
energia boa, e por essa razão estava na embarcação. Mas, desta vez, com a
viagem de meses que faria com os amigos, Geraldo fez mais do que “seguro de
vida”, montou um canal de patrocínio entre grandes empresários, a cada etapa da
viagem, um valor significativo entraria na conta dos três companheiros. Os
vídeos da viagem seriam postados no canal “A GRANDE JORNADA”, e os valores em
Pix abasteceriam a conta bancária. Os investidores de cada etapa, estampariam
uma lista valiosa de empresas e pessoas que acreditavam no sucesso daquela
aventura, ou que acompanhavam a adrenalina da tripulação. Isso era mais um
estímulo para a viagem, uma válvula de ânimo que os impulsionaria mais
confiantes. O vídeo do veleiro zarpando teve um alcance estupendo, tendo sido
compartilhado milhares de vezes, o que provocou novos investidores a entrarem
no rol.
Júlio sempre trabalhou com pesquisa marítima, já
participou de mergulhos profundos em mares diversos, é um professor renomado
com inúmeras literaturas publicadas. É convidado para programas de entrevistas,
projetos e pesquisas, seu nome é sempre lembrado quando o assunto é
oceanografia. Mas, ele jamais realizou uma viagem desse tipo, onde
experimentaria o oceano e suas adversidades em um veleiro. Por ser ele um
profissional tão conhecido e referenciado, os vídeos postados no canal “A
grande jornada”, ganharam o mundo da ciência e curiosidade.
Pedro é um experiente navegador, um Capitão-Amador
que singrou diversos mares, mais do que um aventureiro, é um arrojado
desbravador, um homem audacioso, corajoso, muito cauteloso, apesar de tudo.
Sempre teve veleiro, este levava a estampa de uma “FERRADURA” no casco, um
veleiro que já enfrentou tempestades e se saiu muito bem dos ambientes hostis.
Um navegador que sempre inspirou outros colegas que ouviam suas histórias de
sobrevivência de viagens como essa. Religioso, místico, crente de simpatias e
rezas, observador dos mares e dos homens.
Capítulo III
O COMEÇO DE
TUDO
A manhã deslizou como o movimento suave das águas daquele litoral recortado,
onde a muralha verde e magnífica da Mata Atlântica erguia-se soberba e desafiadora a quem
queria subjugá-la.
A beleza da paisagem foi inalada por todos os
sentidos dos três aventureiros.
Em uma praia paradisíaca aportaram para almoçar. Tica saltou do barco, pulando alegremente e correu pela areia, feliz por estar em terra firme. Um rústico restaurante de pescados e frutos-do-mar esperava por eles. O canal "A Grande Jornada", apontava o restaurante onde estavam os três marujos, e muitos simpatizantes foram chegando ávidos para conhecê-los, ávidos por uma foto.
Após a farta refeição, examinaram o mapa para confirmar o tempo, que levariam para chegar a Florianópolis, local
escolhido para deixarem o continente rumo à África.
Dias após percorrerem a costa brasileira, rica em
belas e diferentes paisagens, chegaram à bela capital catarinense.
Lá permaneceram por um dia, planejando a grande
travessia, estudando o clima e os ventos do momento. Caminharam pela
praia. A boa comida do Sul foi um presente para eles antes dos desafios que os
esperavam daquele dia em diante. Resolveram se abastecer de peixe e
camarões para os primeiros dias em alto mar e mais garrafões de água potável
foram levados para o barco.
Os fãs do canal foram chegando e dando ao lugar um clima de torcida.
A ansiedade e excitação marcavam os rostos e até
mesmo os movimentos dos três marinheiros.
Pernoitaram no veleiro ancorado e, com o raiar do dia,
partiram rumo ao desconhecido.
Na proa, com as velas içadas, os três levantaram os
braços com as mãos unidas e gritaram:
— Lá vamos nós!
Aos poucos, as gaivotas, companheiras da navegação
costeira, foram desaparecendo e apenas a imensidão do mar os cercava por todos
os lados.
— Como somos pequenos! Refletiu Geraldo.
Tanta vaidade! Tanto orgulho! E diante da natureza, somos menos que um grão de
areia.
Após
uma noite com poucas horas de sono, Geraldo percebeu os primeiros raios do dia,
convidando-o a contemplar o amanhecer no mar. Ele se acomodou virando para o
sol que delicadamente emergia no horizonte, com o olhar mergulhado nas águas e
o pensamento em reflexões.
Pedro
notou a quietude do companheiro e sentiu um lampejo de preocupação.
Silenciosamente, ele se aproximou e permaneceu ao seu lado, respeitando o
silêncio do amigo. Vendo que Geraldo não o percebera, Pedro se inquietou ainda
mais e decidiu quebrar o silêncio que tanto o incomodava:
—
Bom dia, tudo bem?
Geraldo
voltou o olhar para o amigo, um tanto surpreso:
—
Bom dia.
—
Você está bem? Parece preocupado.
—
Não exatamente preocupado, mas reflexivo.
Após
alguns segundos de silêncio, enquanto Pedro observava o amigo com crescente apreensão:
—
Eu sabia que esta viagem mexeria comigo.
Após
um breve silêncio, Geraldo prosseguiu:
—
Não consigo entender por que o ser humano está neste planeta. Nada na natureza
depende dos humanos para sua sobrevivência ou progresso. Sinto que há um equilíbrio
imenso e perfeito entre todas as espécies de plantas e animais.
Apontando
na direção do oceano:
—
Olha este mar, os peixes não precisam de ninguém para alimentá-los, nem de leis
para regulamentar seus comportamentos. Os seres humanos não contribuem de forma
positiva, pelo contrário, poluem as águas e destroem florestas. Às vezes,
parece que Deus errou ao colocar o homem neste paraíso perfeito.
—
Ou será que nos colocou aqui para aprendermos com a natureza e evoluirmos?
Acrescentou
Pedro.
O
silêncio se entrelaçou aos pensamentos compartilhados pelos dois.
Julio
soltou uma das mãos do leme e gritou:
— Ei, seus folgados! Quem vai fazer o café da manhã? Estou morrendo de
fome!
Os
dois se entreolharam rindo. O apetite de Julio era igual às suas superstições.
Tica chegou até eles abanando o rabo, como quem dissesse, "não se esqueçam de
mim".
Após
o desjejum, Pedro assumiu a direção do barco, que subia e descia ao sabor das
ondas. Aspirava com prazer o ar marítimo, sentindo-se parte daquelas
águas, daquele céu.
No
fim da manhã, um vento mais forte começou a soprar. Ao longe, nuvens
escuras se formaram no céu, apagando a luz do sol. Ondas altas começaram a
sacudir o veleiro. Preocupado, Julio disse:
—
Está se formando uma tempestade! Temos que nos preparar! Eu pego o leme, Pedro.
—
Pode deixar! Sei manejar um veleiro.
—
Você só navegou perto da costa. No alto mar, as coisas são diferentes.
Pedro
concordou e entregou o leme para Julio.
Geraldo,
que estava na cabine, saiu cambaleando devido a tantos balanços do barco. Estava
pálido. Com dificuldade, chegou até a balaustrada e inclinando a cabeça
vomitou o que tinha e o que não tinha no estômago.
Os
amigos olharam para ele e Júlio disse:
—
É seu batismo, amigão.
...
CAPÍTULO IV
CONFLITOS INTERNOS
O
mar agitado jogava a embarcação descoordenadamente, sorte deles ter a
experiência de Pedro naquele momento.
—
Geraldo, fique sentado. Não queremos um acidente nesta viagem! – Gritou Pedro
ao ver o estado cambaleante do amigo.
Geraldo
deixou-se cair próximo do cunho da amarra, e por ali ficou experimentando as
vertigens que imaginou que teria. Olhou para Pedro, um homem forte e destemido,
que manobrava com determinação o timão. Veio-lhe à mente sua própria vida, sua
fraqueza, a fragilidade do dinheiro que guardara há três gerações. A esposa
infiel, que ele fingia não saber. “Vadia, vagabunda! ” – Pensou gemendo. E o
Laércio, aquele corrupto, desgraçado, aquele ladrão que arrumei para sócio! Ele
me enganou direitinho, como fui tão ingênuo! Pensou, se contorcendo enquanto
comprimia o estômago com as mãos. “Tenho que dar um jeito nisso quanto antes”.
E lembrou de novo da esposa. Ele teve ajuda da vadia! – Murmurou.
Julio
olhou de soslaio para Geraldo e percebeu que se contorcia:
—
Como está, Geraldo? Não vai desmaiar, não, né? – Perguntou sem tirar os olhos
das perturbadas ondas que se moviam com o vento que soprava, agora, com menos
intensidade.
—
Tudo bem. Estou melhorando.
—
Fica aí quietinho, esse turbilhão logo passa. – Disse Julio, referindo-se à
tempestade, mas Geraldo atribuiu à sua própria vida.
—
Izar velas! Izar as velas – gritou Pedro.
Julio
se adiantou para cumprir a tarefa de reduzir as velas, Geraldo se esgueirou até
lá para ajudá-lo.
—
Precisamos navegar contra o vento, o Pedro vai capear o barco – explicou Julio.
Não,
Geraldo não sabia o que isso queria dizer, mas no momento certo, perguntaria.
...
Aos poucos, o vento perdeu
força e as ondas se aquietaram no seio da mãe líquida. Os olhares dos três homens
se perderam no horizonte infinito, onde o céu abraçava as águas verdes do mar.
Júlio
matutava sobre o que estava acontecendo com Geraldo. Antes de embarcar, ele estava muito estranho
e introspectivo. Nunca fora assim. Em uma conversa, que tiveram, quisera lhe contar
os apuros, que estava passando com um colega, que lhe roubara um importante
estudo sobre as tartarugas marinhas, mas notou que ele estava aéreo,
completamente alheio ao que ele falava, ao contrário do que sempre fora, um
amigo presente e interessado em ajudar e aconselhar os amigos.
Pedro,
de repente, voltou a si e perguntou:
—
Onde vocês estão? Voltem para a terra, ou melhor, para o mar!
Os
dois sorriram. Pedro sempre foi assim, bem-humorado
e otimista. Um amante da vida e de tudo
que dela pudesse desfrutar.
O
sorriso de Geraldo se apagou e pelos seus olhos passou uma nuvem mais densa do
que as do céu cinzento. Com voz pausada
disse:
—
Preciso contar a vocês por que deixei tudo para trás para viver esta sonhada
aventura.
Os
dois amigos o fitaram em silêncio.
Ele,
então, começou a despejar o que o estava atormentando: a traição da mulher com
o sócio, em que depositara tanta confiança, a descoberta do desfalque que o
canalha fez na maior empresa, que o estava levando a ruína e o desespero e o ódio, em
que mergulhou ao descobrir tudo isso.
Pedro
e Júlio escutaram aquele desabafo, surpresos, tensos e condoídos. Estavam tão
quietos, que pareciam nem respirar.
—
Mas o pior de tudo foi o que eu quis fazer para me vingar.
Os
dois amigos o olharam assustados.
Cerrando
os dentes, continuou:
— Descobri
o hotel, em que a prostituta e o cafajeste se encontravam. Peguei meu revólver e fui até lá para acabar
com a vida deles. Quando passei pela
recepção e percorria o corredor, que me levaria ao quarto em que estavam, meu
celular tocou. Não ia atender. Quase
apertei o botão para desligar a chamada.
Era você, Pedro. Porém, algo mais
forte me fez atender. Do outro lado, com
seu costumeiro entusiasmo, me convidava para esta aventura. Coloquei a mão no bolso, onde escondera a
arma. Apertei-a com raiva, tinha que
consumar o que viera fazer. Você continuava falando comigo, mas eu não o
ouvia. A sua voz, no entanto, me levou
ao passado e aos bons tempos de nossa juventude, às paqueras, às madrugadas,
que dividimos em bares e baladas e aos sonhos que tínhamos. Naquele momento, caí em mim. O que ia fazer? Acabar com a minha vida. Foi quando você gritou do outro lado: Ei,
você ainda está aí?
Como
estivesse acordando de um terrível pesadelo, meu corpo se retesou e sacudi a
cabeça, aturdido, e tentando disfarçar o tremor de minha voz, conversei com
você, enquanto saia do hotel com passos trôpegos.
Um
profundo suspiro irrompeu de dentro dele e ele finalizou:
—
Você salvou minha vida, amigo!
Pedro
e Júlio se entreolharam e os olhares intensos falaram mais do que mil palavras.
Calados abraçaram o amigo. Os olhos dos
três estavam marejados. Recobrando-se,
Pedro disse com a voz embargada:
—
Somos os três mosqueteiros. Vamos vencer
este mar e as vicissitudes da vida.
Tica,
abanando o rabo, latiu, como estivesse concordando com o dono.
Para amenizar o momento tenso, atrás de uma nuvem, surgiu uma nesga de um sol alaranjado, que se preparava para dormir e acordar do outro lado do mundo.
...
Pedro entregou o leme ao Júlio:
— Você pilota nesta noite. O mar está calmo, mas amanhã, bem cedo,
começaremos a atravessar uma região característica pelos fortes ventos e águas
turbulentas. Então assumo o controle da navegação.
O
céu salpicado de estrelas parecia querer desmentir a previsão de Pedro. A noite deslizou suavemente.
Às cinco da manhã, um vento úmido começa a
soprar com mais intensidade. Pedro surge
bocejando e alongando os braços:
— Vá descansar, Júlio! Agora eu assumo.
O barco segue sua trajetória sob o comando
experiente de Pedro. Umas horas depois,
nuvens escuras e densas encobrem o céu.
Ventos fortíssimos agitam o mar, que fica cada vez mais nervoso.
Ondas enormes se abatem sobre a
embarcação, que balança de um lado para outro.
Pedro pede ajuda para Júlio posicionar as velas de maneira que o barco
não emborque. Geraldo sai assustado e segura na balaustrada da embarcação.
Pedro tenta acalmá-los e, com sua grande
experiência, conduz com maestria o barco, lutando com a mãe natureza, que
demonstra toda a sua fúria. O cenário é de muito perigo. Em pleno alto-mar, precisam pensar rápido,
caso queiram sobreviver.
De repente, a aventura se torna uma
experiência, que irá cutucá-los, abrindo suas almas para a renovação de suas
vidas. E na luta com a natureza bravia, eles aprenderão a ter força e coragem
para sobreviver às armadilhas do destino.
— Segurem-se! Grita Pedro ao ver uma
imensa vaga vir de encontro ao veleiro.
Júlio e Geraldo se agarram ao mastro mais
alto do barco. Ambos se olham com
horror, seus corações aceleram em um ritmo frenético. O vento gélido arrepia suas peles,
potencializando o temor que sentem.
O barco quase vira e a água invade seu
interior. Pedro tenta manter a
embarcação a prumo. Já havia enfrentado muitas tempestades, porém nenhuma se
comparava a esta.
— O que vamos fazer? Gritou Júlio para
Pedro.
— Manter a calma. O desespero pode nos matar.
Júlio e Geraldo se entreolham
aterrorizados.
Outra onda de uns seis metros se levanta
diante deles. O veleiro sobe e assim que bate novamente no mar, Tica quase voa
para fora da embarcação, sendo impedida por Geraldo que a agarra, se jogando em
cima dela. Ambos se estatelam no chão.
Geraldo geme e a cadela solta um ganido. A queda foi forte, mas a fiel companheira de viagem foi salva.
Um dos mastros menores se quebra.
— Júlio pegue o leme! Vou ligar o motor!
Acionado o motor, Pedro volta ao
comando. O veleiro sobe e desce pelas
gigantescas ondas, mas consegue ir em frente.
Geraldo protege Tica na cabine, e os dois
marinheiros começam a tirar a água do barco. Uma hora depois, o céu começa a
despir seu manto escuro e a ondulação marítima vai se amenizando devagar.
Exausto, Pedro dá o leme a Geraldo. Joga-se no chão úmido e olha para os amigos,
balançando a cabeça:
— Foi uma luta insana! Mas vencemos!
Os dois concordam também balançando a
cabeça e apertando os lábios. Os rostos
ainda contraídos pelo esforço em vencer a natureza e seus temores.
— Querem desistir? Acrescenta Pedro.
— Não! Responde Júlio. Vencemos esta. Venceremos outras, que vierem.
— Sabíamos que seria um grande
desafio. Vamos em frente! Completou
Geraldo.
Pedro sorriu. Tinha a seu lado grandes companheiros de vida
e agora de aventura.
— Quando chegarmos à Cidade do Cabo,
teremos que consertar o mastro quebrado.
Dizem que é uma bela e interessante cidade. Vamos aproveitar para
relaxar e conhecê-la.
Levanta-se e entra na cabine para trocar a
roupa úmida grudada em seu corpo.
— Vocês também precisam colocar roupas secas. Vou aproveitar para fazer um café.
Grita, antes de fechar a porta.
Li o texto várias vezes. A história é muito boa e abre a possibilidade da criação de várias aventuras que possam ocorrer durante essa viagem aventureira. Apesar de conhecer pouco as dificuldades que o mar oferece, tentarei colaborar com a continuidade do texto.
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