UM CRUZEIRO MARÍTIMO COM
AMIGOS
Maria do Carmo
A história que
vou contar aconteceu em mil novecentos e setenta e nove, e não chegou a ser um
cruzeiro, mas foi em uma escuna – Cruz Malta – com destino a Angra dos Reis, no
fim de semana de Carnaval.
Um mês antes da
viagem, eu e minha amiga, não fizemos outra coisa além de nos prepararmos para
essa aventura, uma vez que iríamos ficar em alto mar, hospedados na dita
escuna.
Os passageiros
eram formados por casais, somente nós, duas jovens senhoras, é que formávamos
dupla e não casal.
As cabines eram
minúsculas, dormíamos em beliche, o banheiro era incrivelmente pequeno, o calor
insuportável, o barulho do ventilador, ensurdecedor.
O que nos
compensava dos transtornos da cabine era a paisagem que víamos em todos os
ângulos, magníficas, exuberante; em todo redor do nosso ancoradouro, passavam
iates com alegres jovens que nos acenavam, jogavam serpentinas, que
retribuíamos com acenos e palmas.
As refeições eram
soberbas, tudo pescado pela madrugada e servido com todo o requinte da gastronomia.
Todas as manhãs
íamos de lancha até as praias vizinhas onde comíamos petiscos e bebíamos
aperitivos extravagantes.
Bem, aventura muito
ousada era o momento de passagem da escuna para a lancha que nos levava às
praias.
A escada ficava
colada no casco da escuna e a lancha boiando o mais encostado possível,
acontece que o mas não para de movimentar-se, uma guerra de foice era esse
momento. Estávamos a oito metros de profundidade, nós mortas de medo, não sabia
nadar, solução? O capitão, logo no primeiro dia, agarrou-me pela cintura e
pulou para a lancha, que balançou mais que uma gelatina. Ao voltarmos para o
almoço, o pobre do rapaz colocava-me em seus ombros para que alcançasse a
escada.
Virou rotina nos
seis dias em alto mar – eu era a ultima a sair e a primeira a entrar, pois os
espectadores não queriam perder um lance sequer.
E agraciada com
essa recepção, vermelha tal qual um rabanete, encaminhava-me para a cabine e só
saia quando percebia que todos estavam se preparando para o almoço.
Com todas essas
peripécias, foi uma viagem magnífica, fizemos novos amigos, e até hoje nos
encontramos, três vezes por anos, para revivermos nossa viagem na – ESCUNA CRUZ
MALTA.