QUE
SUSTO!
Dinah Ribeiro de Amorim
— Moço, o Senhor sabe onde moro? É que eu não
sei!
Perguntei aflito, aos quatro anos, ao dono
da banca de peixes, na feira perto de casa.
Insisti com mamãe que queria acompanhar
Dorita nas compras da feira, prometendo não largar da mão dela, até chegar em
casa. De tanto ouvir falar que na feira tinha muita novidade, frutas gostosas,
fiquei curioso em conhecê-la, como se fosse um shopping ou loja de brinquedos.
Dorita levou uma lista de
coisas para comprar e eu ia segurando na sua sacola para não me perder.
Fiquei meio atrapalhado com tanta gente
falando e caminhando, misturando frutas, verduras, dinheiro, sacolas,
discutindo preços, vozes altas demais. Dorita sempre me olhando e avisando para
não sair de perto dela. Grudei forte em sua sacola, mas era tanta gente
empurrando, ora eu ia para um lado, ora para outro.
De repente, passamos por uma senhora muito
gorda, maior que a Dª Ivete, lavadeira lá de casa, e fui jogado para trás,
soltando minha mão e perdendo Dorita de vista. Tentei encontrá-la, mas não consegui. Feira é um lugar perigoso
para crianças, pensei! A gente fácil, fácil, se perde. Nem sei como voltar para casa. Tomara que ela
esteja me procurando! Acho melhor ficar aqui, no canto, até ela me achar.
Esperei um tempão, assustado, no meio de tanta
gente estranha... Todos vinham falar comigo: “Que criança engraçadinha!” “ Cadê
sua mãe!” “ Está perdido! “ Até que um menino grande, desses que ficam rondando
por aí, aproximou-se de mim, querendo puxar papo. Fiquei com medo e me
aproximei da primeira banca que encontrei, era o homem que vendia peixes. “Será
que me ajudaria a chegar em casa!” Perguntei.
Ele coçou a cabeça, alisou seus bigodes
pretos com as mãos sujas de escamas e respondeu:
—Não sei onde mora,
garoto, mas espera um pouco que vou chamar um guarda e ele logo acha quem
trouxe você aqui! Pegou um alto falante,
barulhento demais e avisou que tinha um menino perdido na banca de peixes!
Morri de vergonha e logo avistei Dorita, toda descabelada, afastando todo mundo
e chegando até nós, desesperada.
— Onde se meteu, Jorginho!
Sua mãe vai ficar louca comigo! Estou cansada de tanto procurá-lo, sem saber
como fazer para encontrá-lo no meio de tanta gente.
E eu, que nunca tinha me perdido antes,
fiquei também sem saber como contar para mamãe o susto que passei e o que tinha
realmente achado dessa bendita feira “perto” de casa!
Com calma, mais tarde, mamãe achou melhor que
eu andasse sempre com uma correntinha no pescoço, com nome e endereço gravado,
quando saísse de casa com empregada, parecendo o cachorrinho de raça da
vizinha, para não ser colocado na carrocinha. Desejei crescer logo! Não gostei
muito de ser comparado ao cachorrinho. O melhor era não sair mais de casa! Por
enquanto!