A
SAÍDA!
Dinah Ribeiro de Amorim
Carlinhos, aos dez anos,
aborrece-se muito com seu irmão mais novo, Luizinho, que destrói tudo o que é
seu, correndo para não apanhar.
Queixa-se aos pais, aos mais velhos, ninguém
consegue dar jeito em Luizinho. Era um rebelde mesmo!
Tem, então, uma ideia: prender sua atenção
através de livros de histórias.
O menino mal educado, começa a se interessar,
sentando-se no chão, ao lado do irmão,
para ouvi-lo atentamente.
Carlinhos escolhe as histórias de fadas, pois
nota que são as que o irmão gosta mais. Inicia:
“A FADA LANA E O OGRO MAU!”
“Era uma vez uma fada diferente das outras,
muito alta, de membros longos, para alcançar e dominar toda a floresta,
protegendo os seres que nela viviam. Seu nome: Lana. Não possuía asas pois
conseguia chegar aonde queria com apenas alguns passos. Mesmo assim, tão
grande, era bonita e boa, amada por todos.
Certo dia surge um gigante, um ogro mau.
Queria desafiá-la para uma luta, vencê-la com sua força e comer os bichos
menores da floresta, prendendo os grandes para reprodução”.
Luizinho, nessa parte da história, arregala
os olhos, curioso e ansioso, mas
Carlinhos interrompe a leitura, mandando-o dormir. O menino, decepcionado,
reclama, mas obedece. Até obediente estava ficando.
No dia seguinte, Carlinhos recomeça a
leitura, fazendo-o primeiro arrumar seu quarto.
Luizinho logo
senta aos pés do irmão e continua ouvindo:
“Os pés do Ogro eram
enormes, estremecendo o chão quando andava, semelhante a terremotos. Os bichinhos, coitados,
escondiam-se em seus buracos ou tocas, esperando-o passar. Tinha o corpo
peludo, braços compridos, mãos cheias de garras ao invés de dedos, rosto largo
e feio, com orelhas semelhantes às folhas das palmeiras, que balançavam e
ouviam qualquer tipo de som. Atentas a tudo. Seu nariz, comprido demais e
achatado na ponta, sentia e pressentia todos os cheiros da floresta,
descobrindo facilmente aonde se escondia cada animal. Instalou-se no local e ia
comendo aos poucos cada bichinho que encontrava. Sua fome era insaciável.
Fada Lana, ao caminhar com braços e pernas
estendidos e elásticos, chega ao encontro dele, tentando puxá-lo pelo pescoço,
fazendo enorme força. O ogro dá uma estrondosa gargalhada e arremessa-a longe.
Pobre fada, sofrendo ao ver seu reino atingido e não sabendo como salvá-lo.
Tenta amarrá-lo com cordas de cipó das árvores, mas o forte ogro arrebenta logo
tudo com suas garras.
Pensativa e triste recolhe-se ao seu canto
predileto, uma imensa caverna dentro da montanha, meditando por longo tempo.
Não estavam acostumados à violência e à maldade, tendo necessidade de descobrir
uma estratégia. Ouvia, ao longe, o barulho das atividades cruéis do ogro.
Após muito pensar, resolve tirar da própria
natureza a salvação. Esse maldito ogro, destruidor e carnívoro, tinha um ponto
fraco quando comia demais: caia em sono profundo. Reúne-se, então com as chefes
das abelhas e formigas, combinando derramar mel no corpo dele, enquanto dormia,
formando esquadrão de insetos, abelhas e formigas que, enfileirados, atacariam
o corpo do gigante dorminhoco, enchendo-o de picadas e mordidas, fazendo-o
acordar e correr dali. Torcem todos para dar certo.
O ogro, após fartar-se de várias aves da
floresta, dorme profundamente, não percebendo a aproximação dos pequenos
insetos, que espalham mel sobre todo aquele corpo horrendo. Em seguida, o atacam ferozmente, em numerosos
grupos, tornando-o escuro e mais feio, irreconhecível.
Essa estratégia dá certo, pois o ogro acorda
com gritos e movimentos terríveis, coçando-se e balançando-se, querendo
expulsar seus atacantes. Não consegue e, desesperado, corre e atira-se num rio
ali perto, quando enormes jacarés o cercam e o destroem, com enormes dentadas.
Fada Lana, feliz com o final desse drama, é
cercada e aplaudida pelos seus amiguinhos da floresta encantada, que continuou em paz!
Abraçava todos ao mesmo tempo, com seus maravilhosos braços elásticos”.
Carlinhos fecha o livro e observa seu irmão.
Este, com rosto admirado e sonolento, pergunta quando lerá outra história!
Amanhã, talvez, responde
ele, após minhas tarefas de escola.
Luizinho diz “boa noite”, passando antes pela
cozinha e dando uma lambida no pote de mel que estava no armário.