Pé
Grande
Christianne Vieira
Osvaldo e Ester caminharam muitos quilômetros até
chegar à clareira. A cada passo o caminho se tornava ainda maior. Calcularam
andar vinte quilômetros por dia, mas essa meta estava longe de ser
cumprida.
Uma viagem de Aventura, seria o tempero para suas novas vidas.
O roteiro foi pensado, por meses. Atravessariam um
grande parque estadual. Planejaram o tempo e as áreas de acampamento. A mochila,
outro desafio, devia ter o menor peso possível.
Eles se conheceram em um grupo de ecoturismo, ambos gostavam da Aventura, de Liberdade, do
desconhecido.
Já haviam percorrido três dos pontos de apoio do
roteiro. As pernoites anteriores transcorreram tranquilas, muito cansados, apos o jantar, nem o céu estrelado
os mantivera acordados.
A próxima etapa seria puxada, montanha acima, Trecho íngreme,
cheio de precipícios.. A vista era um bálsamo, para aliviar os pés doloridos e bolhas. A felicidade em
chegar à cachoeira dourada compensaria qualquer sacrifício.
Atravessaram a clareira cheia de flores. O sol brilhava
inclemente, só o céu trazia ânimo. Até o acampamento da noite faltava um bom trecho, resolveram
acelerar o passo. Osvaldo dava as coordenadas
tentando manter Ester animada. O cansaço ia e vinha como a brisa.
Após duas subidas pararam para tomar água e descansar
um pouco. As mochilas pesavam tanto, como se o mundo estivesse nelas.
Ester estava faminta, queria montar o acampamento da noite. Osvaldo começou pela
barraca, e o fogo com gravetos. A comida desidratada, parecia um
banquete. Ela pegou uma toalha, o sabonete três em um, e a
roupa. Foi até o rio se banhar. Osvaldo
lhe deu um beijo carinhoso, disse que logo a encontraria. Ao entrar na água
fria seu corpo ficou anestesiado,
acalmando os ferimentos. Quando já estava acostumada à temperatura, começou a
relaxar. Ouviu o marido se aproximar. Ele
entrou no rio também. Trocaram carinhos, brincaram na água. Ao sair Ester não
achou a roupa. Osvaldo vinha logo atrás dela, enrolado na toalha, também não as
encontrou. Estranho, algum animal poderia tê-las levado.
Encafifados, seguiram para o acampamento. O cheiro de
comida estava delicioso. Sentaram-se em torno da fogueira e jantaram. Anoiteceu
depressa, apenas conseguiam ver, o
tapete de estrelas forrando o céu, de
uma noite escura. Até que o sono falou mais
alto. Apagaram o lampião, deixando só a fogueira para manter o calor. Eis que
um vulto enorme passou próximo da barraca.
Um gigante chacoalhando as folhas
, e um cheiro azedo ficou no ar.
Eles se abraçaram, assustados. O melhor seria ficarem
em silêncio. Não conseguiram dormir e a noite se arrastou, lentamente, até o
amanhecer.
Já claro, saíram da barraca, amassados e devastados
pelo cansaço, foram em busca de alguma pegada deixada pela criatura.
Viram enormes rastros. Tão grande que Ester cabia
inteira dentro delas. O que podia ser aquilo? Resolveram partir para o próximo
ponto. No caminho havia um empório de suprimentos, poderiam se informar. Foi um
trecho difícil de cumprir.
Chegaram à loja no entardecer, e no balcão um homem
baixo com bigodes volumosos os atendeu. Após separarem alguns itens, foram até
o caixa, e perguntaram sobre o gigante. Ele
respondeu que havia uma lenda sobre o Pé Grande.
A criatura morava
em uma caverna do Parque. Nas noites de lua minguante, saia para caçar.
Suas pegadas eram assustadoras. Como um Alert, levava o que encontrasse, como
roupas e suprimentos, por exemplo. Existiam muitas histórias a seu respeito,
diziam que era inofensivo, se alimentava de pequenos animais, mas encontrá-lo
certamente seria um perigo.
O casal se entreolhou com expressão de dor e medo. Não
gostariam de passar por isso novamente. Se amavam demais, nada de ruim os
separaria.
Pagaram o homem, e seguiram para a Estrada. Iam pegar
um ônibus de volta para casa. A aventura chegara ao fim.