Paredes como pontes
Ana
Catarina Sant’Anna Maués
Casa nova, rua nova, ambiente novo, vizinhos novos, era tudo o que eu precisava naquele momento. Acabei de sair de um relacionamento sem filhos, o que me deixava mais tranquilo, e queria fazer tudo diferente, na vilinha que passaria a morar. Porém, a vizinhança era sisuda, deu para ver logo de início. Rostos fechados, ninguém cumprimentava ninguém, nem com simples bom dia. Com as casas geminadas percebia-se a ausência de silêncio durante o dia e também à noite, e foi assim, através das paredes, que pude conhecer um a um dos meus companheiros da vila.
Rafaelo, meu vizinho da direita, morava com a filha. Era idoso, com forte pigarro devido ao vício do tabaco. Podia-se escutar os gritos da filha dando bronca, toda vez que ele acendia um cigarro e depois tossia forte quase engasgando.
Do lado oposto estava a viúva Bernardete. Descobri o nome por acaso, certa vez que ela atendeu ao telefone e se identificou para quem estava do outro lado da linha. Pontualmente às vinte e uma horas podia-se escutar seu pranto, regados de soluços.
Mais adiante a Sra. Matilde com a casa cheia de cachorros, que latiam bastante, interrompendo meu cochilo nos finais de semana após o almoço.
Por fim os recém-casados Beto e Esmeralda. Descobri os nomes entre os sussurros fogosos altas horas da noite, que me faziam imaginar beijos e carícias atrevidas do casalzinho.
Enfim, foi assim que conheci um pouco sobre
eles, e eles a mim certamente, identificando pela parede, minha alergia
noturna, que me fazia espirrar, pelo menos quinze vezes antes de adormecer.
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