COVARDIA
OU AMOR?
Dinah Ribeiro de Amorim
Rolo na cama revolta, lençóis amassados e espalhados
pelo chão, não consigo dormir! Viro e espio a hora, ansiosa em ouvir o barulho
da chave na fechadura. São duas e meia da manhã. Já deveria estar acostumada
com isso, mas a ansiedade da espera é sempre a mesma. Toda noite a mesma coisa.
Ele demora a chegar e eu sem saber se vem. Sai cedo de manhãzinha, dá um beijo
leve em minha testa e um até logo distraído, avisando que talvez chegue tarde.
No começo, perguntava o porquê desse trabalho
noturno e, suas desculpas eram sempre as mesmas: excesso de trabalho, reuniões
tardias, serões, sempre respostas atrapalhadas que saiam meio baixas,
envergonhadas, até que desisti de interrogar. Acostumei-me com isso, com medo
de perdê-lo para sempre.
Afinal, tantos homens agiam assim! Eu não era
a primeira mulher e nem seria a última a ser traída. Ficava às vezes pensando como
seria ela: mais moça, claro, mais bonita, agradável, boa de cama, com certeza! Alguém
com qualidades muito especiais para satisfazê-lo tanto!
Fomos felizes no início de nosso casamento,
parecendo que nunca haveria nuvens escuras a nos atrapalhar. Dificuldades
financeiras surgiram, mas logo se dissiparam com sua mudança para um cargo
melhor.
Foi com essa mudança que aconteceram: excesso
de trabalho, reuniões tardias, talvez alguma secretária nova, não procurei
saber.
Uma
grande amiga, com quem me abri algumas vezes, aconselhou-me a segui-lo, ir
verificar pessoalmente a causa da minha preocupação. Não tive coragem! E se
realmente o encontrasse com alguém e tivesse que tomar uma atitude! Seria o
fim. Prefiro esperar que, com o tempo, tudo passe e ele volte a ser o marido
que sempre foi: amável, amante, presente, não tendo mais que olhar o relógio
todas as noites, esperando-o chegar para dormir em paz.
O tempo está passando, estou envelhecendo,
nós estamos envelhecendo e percebo que aguento essa situação há muito tempo!
Não tomo uma atitude nem ele! Se quisesse uma separação já teria falado. O que
acontece conosco é meio sem explicação. Acho que nos acostumamos a viver assim.
Eu sem reclamar, e ele a se acomodar.
Covardia, medo de mudanças, falta de
iniciativa, hábito, amor... Não sei!
Quando pessoas íntimas me perguntam “como aguenta”,
respondo: “Tem sido assim há muitos anos... Não tenho coragem de viver sem
ele!”