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quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Saudades dos bondes de São Paulo - Alberto Landi

 



Saudades dos bondes de São Paulo

Alberto Landi

 

Era uma manhã ensolarada na cidade de São Paulo por volta dos anos 60, e as ruas estavam cheias de vida.

Os bondes, com suas cores vibrantes e o som característico do tilintar do sino, eram o coração da cidade.

Entre os passageiros estava Clara, uma jovem sonhadora que utilizava diariamente tanto o bonde camarão quanto o bonde aberto para ir à Faculdade de São Francisco.

Ela adorava observar a cidade passar através desse transporte.

No camarão sentia-se protegida do frio e da chuva, enquanto no aberto, a brisa fresca no rosto e o sol iluminando seu caminho, traziam uma sensação de liberdade.

Utilizava diariamente a linha 43 Santana ao largo São Bento.

Uns dos aspectos mais memoráveis nesse trajeto eram as viagens que fazia com o condutor, conhecido como Bailarino.

Com o seu jeito gentil e carismático cumprimentava cada passageiro com um sorriso caloroso e um aceno de mão. Ele tinha um talento especial para apitar de maneira melodiosa, fazendo com que o som do sino se transformasse numa espécie de música que alegrava a viagem.

Durante todo o percurso ela ouvia o Bailarino anunciando as próximas paradas com seu apito harmonioso. Ele tinha um modo único de fazer isso, quase como se estivesse dançado com os sons.

Próxima parada: Av. Tiradentes.

Preparem-se para descer, exclamava, e as pessoas riam encantadas na maneira dele se expressar.

Uma certa manhã, um clima de preocupação pairava no ar. Rumores circulavam sobre a possibilidade de os serviços de bondes ser descontinuados, para dar lugar aos ônibus mais modernos.

Durante o percurso, Clara ouviu um grupo de pessoas discutindo sobre a mudança. “Precisamos avançar com o tempo, modernizando o sistema de transporte”.

Outros diziam: “mas os bondes têm história, eles fazem parte da vida da cidade.

Clara sentiu seu coração apertar! Era mais do que um meio de transporte, era uma parte essencial de sua infância e das memórias que compartilhava com seu avô.

Ao chegar na faculdade, Clara decidiu que não poderia deixar isso acontecer sem lutar.

Ela conseguiu reunir alguns amigos do curso e juntos planejaram uma manifestação para manutenção dos mesmos.

No dia do protesto em frente à Prefeitura, muitas pessoas nas ruas exibiam cartazes que diziam “Salvem os bondes, a cidade é mais bonita com eles”!

Clara estava entre eles cheia de esperança.

Alguns condutores estavam também presentes, inclusive o Bailarino, ajudando a animar o protesto com seus apitos alegres.

“Amigos”! Começou Clara: Estamos todos aqui porque amamos nossa cidade!

Os bondes proporcionam liberdade nos dias ensolarados. E o nosso condutor Bailarino faz cada viagem ser especial.

As palavras dela começaram a ressoar entre os presentes. Bailarino se aproximou e começou apitar uma melodia suave que uniu todos em um momento mágico.

Clara propôs uma solução: que tal mantermos os bondes em algumas rotas enquanto também adotamos melhorias no transporte?

Podemos ter o melhor deles!

O diálogo foi aberto entre os presentes e os condutores, juntos, começaram a discutir sugestões sobre como poderiam coexistir na cidade.

No final do dia, ela sentiu exausta, mas realizada.

A manifestação não apenas defendeu os bondes, mas também trouxe as pessoas unidas para encontrar soluções criativas para o futuro da cidade.

Alguns anos se passaram, enquanto esperava pelo trem em uma das estações ainda mantida, ela sorriu ao ouvir o som familiar do apito do Bailarino ao longe.

As pessoas utilizavam animadas o transporte aberto e ela sabia que havia feito a diferença. Não apenas por si mesma, mas por todos os que apreciavam aquela parte especial da cidade.

E assim em meio ao progresso urbano, continuaram em alguns trajetos simbolizando a união das pessoas e do poder público.

Depois de algum tempo Clara leu a notícia da partida do Bailarino, uma figura que permaneceu viva em sua memória!

Saudades dos bondes de São Paulo - Alberto Landi

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