Saudades dos bondes de São
Paulo
Alberto Landi
Era uma manhã ensolarada na
cidade de São Paulo por volta dos anos 60, e as ruas estavam cheias de vida.
Os bondes, com suas cores
vibrantes e o som característico do tilintar do sino, eram o coração da cidade.
Entre os passageiros estava
Clara, uma jovem sonhadora que utilizava diariamente tanto o bonde camarão
quanto o bonde aberto para ir à Faculdade de São Francisco.
Ela adorava observar a
cidade passar através desse transporte.
No camarão sentia-se
protegida do frio e da chuva, enquanto no aberto, a brisa fresca no rosto e o
sol iluminando seu caminho, traziam uma sensação de liberdade.
Utilizava diariamente a
linha 43 Santana ao largo São Bento.
Uns dos aspectos mais
memoráveis nesse trajeto eram as viagens que fazia com o condutor, conhecido
como Bailarino.
Com o seu jeito gentil e
carismático cumprimentava cada passageiro com um sorriso caloroso e um aceno de
mão. Ele tinha um talento especial para apitar de maneira melodiosa, fazendo
com que o som do sino se transformasse numa espécie de música que alegrava a
viagem.
Durante todo o percurso ela
ouvia o Bailarino anunciando as próximas paradas com seu apito harmonioso. Ele
tinha um modo único de fazer isso, quase como se estivesse dançado com os sons.
Próxima parada: Av. Tiradentes.
Preparem-se para descer,
exclamava, e as pessoas riam encantadas na maneira dele se expressar.
Uma certa manhã, um clima de
preocupação pairava no ar. Rumores circulavam sobre a possibilidade de os
serviços de bondes ser descontinuados, para dar lugar aos ônibus mais modernos.
Durante o percurso, Clara
ouviu um grupo de pessoas discutindo sobre a mudança. “Precisamos avançar com o
tempo, modernizando o sistema de transporte”.
Outros diziam: “mas os
bondes têm história, eles fazem parte da vida da cidade.
Clara sentiu seu coração
apertar! Era mais do que um meio de transporte, era uma parte essencial de sua
infância e das memórias que compartilhava com seu avô.
Ao chegar na faculdade, Clara
decidiu que não poderia deixar isso acontecer sem lutar.
Ela conseguiu reunir alguns
amigos do curso e juntos planejaram uma manifestação para manutenção dos
mesmos.
No dia do protesto em frente
à Prefeitura, muitas pessoas nas ruas exibiam cartazes que diziam “Salvem os
bondes, a cidade é mais bonita com eles”!
Clara estava entre eles
cheia de esperança.
Alguns condutores estavam
também presentes, inclusive o Bailarino, ajudando a animar o protesto com seus
apitos alegres.
“Amigos”! Começou Clara:
Estamos todos aqui porque amamos nossa cidade!
Os bondes proporcionam
liberdade nos dias ensolarados. E o nosso condutor Bailarino faz cada viagem
ser especial.
As palavras dela começaram a
ressoar entre os presentes. Bailarino se aproximou e começou apitar uma melodia
suave que uniu todos em um momento mágico.
Clara propôs uma solução:
que tal mantermos os bondes em algumas rotas enquanto também adotamos melhorias
no transporte?
Podemos ter o melhor deles!
O diálogo foi aberto entre
os presentes e os condutores, juntos, começaram a discutir sugestões sobre como
poderiam coexistir na cidade.
No final do dia, ela sentiu
exausta, mas realizada.
A manifestação não apenas
defendeu os bondes, mas também trouxe as pessoas unidas para encontrar soluções
criativas para o futuro da cidade.
Alguns anos se passaram,
enquanto esperava pelo trem em uma das estações ainda mantida, ela sorriu ao
ouvir o som familiar do apito do Bailarino ao longe.
As pessoas utilizavam
animadas o transporte aberto e ela sabia que havia feito a diferença. Não
apenas por si mesma, mas por todos os que apreciavam aquela parte especial
da cidade.
E assim em meio ao progresso
urbano, continuaram em alguns trajetos simbolizando a união das pessoas e do
poder público.
Depois de algum tempo Clara
leu a notícia da partida do Bailarino, uma figura que permaneceu viva em sua
memória!