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quarta-feira, 18 de junho de 2025

OLHOS D'ÁGUA - CONCEIÇÃO EVARISTO - POR PEDRO HENRIQUE PEREIRA

 

Imagem criada por IA

CONHEÇA UM POUCO DESSA GRANDE MULHER:

VIDA E OBRA

Livro OLHOS D'ÁGUA - em PDF

HISTÓRIAS DO NORDESTE! - Dinah Ribeiro de Amorim

 


HISTÓRIAS DO NORDESTE!

Dinah Ribeiro de Amorim

 

Lá pela baixa da égua, sertão nordestino, Estado da Paraíba, vivia uma família com onze filhos. Dedicavam-se à pouca lavoura e alguma criação.

Eram eles, pai José, mãe Filomena, Zé Tibúrcio, Zé Coió, Maria Filó, Marialva, Maria Inês, Zé Maria, Zé Germano, Zé Tonho, Zé Pedro, Ermenegilda e Zé Baleia. Todos registrados na cidade próxima, mas, quase sempre, tendo os nomes esquecidos pelos próprios pais. Eram tão numerosos e muito próximos em idade, que preferiam chamá-los de enxeridos, buliçosos, borocochô e raparigas, chumbadas, zuretadas, fuleiras, conforme a qualidade de cada um, no momento.

Voinha e voinho, de carapinha branca, também viviam com eles, já segurando uns bons anos, na corcova.

Todos no mesmo trabalho, tentavam produzir a terra, antecipando a época da seca, quando invadia o sertão. Secava a água do riacho, as verduras não nasciam, árvores sem fruta, com os galhos desfolhados. Só o Sol quente, invadia a região. Tinham que ter previsão, preparar comida, reservar água, fazer viver os bichos, até a nova estação, trabalho duro e cansativo, ou deixar aquela vida, abandonar o sertão.

Logo que amanhecia, saiam todos na lida, só ficando Zé Tibúrcio encostado, chumbado, queixando-se de amarelão. Doença que nunca sarava e deixa José ispritado.

Os irmãos debocham dele, o pai dá-lhe cocorotes, leva mesmo um carão, mas ele com uma gaguita, manda-os aperrear e dorme borocochô.

As irmãs não entendem como esse irmão enxerido mente assim ao pai. É mesmo um cabra fuleiro, ondonde foi mesmo que a mãe o achou?

O mais velho de todos e o mais preguiçoso, todo dia doente, deitado na rede ou no chão. Dá vontade neles de enxotar esse irmão, que vive às custas deles e não trabalha, não.

Zé Tibúrcio, entristecido, diante da sua situação, não gosta daquela vida, quer fugir do sertão. Começa a imaginar, preparar a cabeça, a fazer um plano certeiro que o livre, então.

Sabe que o voinho não é pobre, e vai, buliçoso, examinar seu chão.

Acha um pequeno cofre, escondido no armário, dentro de um gavetão. Cauteloso, descobre logo, uma solução. O voinho era rico, esconde muito dinheiro, Deus sabe como, naquela família sofrida, de grande filiação.

Apanha logo boa parte e sem ninguém perceber, enfia tudo nos bolsos e escapa do sertão.

Encontra pelo caminho, um idoso simpático, sentado à beira da estrada, com grande chapelão.

Sorrindo, o velho pergunta para onde Zé Tibúrcio vai indo, naquela região ensolarada, que ninguém aguentava.

O cabra responde logo que queria abandonar a região. Conhecer outras paragens, fazer novos amigos, outro tipo de trabalho, detestava a família numerosa, não sentia carinho não.

O idoso, pensativo, que diz chamar-se João, coça a barba, alisa os poucos cabelos, olha bem o Zé Tibúrcio, e começa a prosear, a sua história narrar, que irá servir de lição.

Fugiu da casa dos pais, muito jovem, sonhando melhorar o futuro, também detestava aquela vida, a luta do nordestino, desejando melhor cultura.

Essa história de lutar com a terra, vencer a natureza inóspita, aquela seca danada, não queria na sua história.

Deixou os pais sozinhos, com alguns irmãos pequenos, também era o mais velho, dependiam dele para continuar o enredo.

Tudo que encontrou na cidade grande, foi uma grande tristeza e aventuras decepcionantes. Não conseguiu fortuna, não teve a vida brilhante, que imaginava, sozinho, junto a alguns imigrantes.

Após muitos anos, longe da sua casa, resolve voltar, com saudades, procura a família deixada. Os pais morreram logo, cansados com tanto trabalho, os irmãos até que tentaram, fazer progredir a terra, mas também não conseguiram, devido a grande fastio. Atacados também por doença, sem tratamento ficaram, logo morrendo também, deixando aquela terra e indo para o além.

O velho João engasga, ao contar sua história, e  limpa com um lenço sujo, a lágrima que escorre agora.

Zé Tibúrcio se emociona, nunca ouviu nada tão triste, e estremece também o coração, com medo de deixar a família em triste situação, após a sua traição.

— Volta meu filho, volta, ajuda a viver no sertão, não termina como eu, sozinho, arrependido, infeliz, com saudades da terra, então. Família é importante, faz parte da geração, a nossa terra também, somos dela criação.

Zé Tibúrcio fica indeciso, não sabe se volta ou não, mas diante daquele caso, contado pelo João, começa a titubear, sentado também no chão.

Pensa um pouco, examina o velho, arrepende-se do que fez, a fuga e o roubo, dinheiro que o voinho, guardava de coração.

Acaba voltando então, começa a se interessar, pela história do sertão, daquela vida simples e trabalhosa, recomeçar sua história. Pedir perdão aos pais, aos irmãos que o judiavam, auxiliar no trabalho, continuar o destino daquela gente vitoriosa. Fugir é a saída para pessoas decaídas!

É recebido alegre, perdoam a sua ação, recebe a bênção do pai, o carinho de sua mãe, e voinho  esquece logo o roubo, pretende deixar p’ra ele,  todo o dinheiro roubado,  é o neto mais velho, deve ter um regalo!

Essa história me foi contada pelo povo de João Pessoa, quando lá estive, que acredita que o idoso João, que apareceu a Zé Tibúrcio, foi o anjo Gabriel, no dia de São João!

                                                          Fim!

ARIANO SUASSUNA - HIRTIS LAZARIN

 


Ariano Vilar Suassuna foi um intelectual, escritor, filósofo, dramaturgo, professor, romancista, artista plástico, ensaísta, poeta, político e advogado brasileiro.

Nascimento: 16 de junho de 1927, João Pessoa, Paraíba

Falecimento: 23 de julho de 2014, Recife, Pernambuco

 

                    Características da obra de Ariano Suassuna

·         regionalismo

·         valorização da cultura nordestina

·         linguagem coloquial

·         caráter nacionalista

·         crítica sociopolítica

·         ironia

·         aspectos cômicos e trágico

Vamos ler algumas frases de Ariano Suassuna:

1- Os doidos perderam tudo, menos a razão. Têm uma (razão) particular. 

2- Os mentirosos são parecidos com os escritores que, inconformados com a realidade, inventam outras.

3- Não troco o meu ‘oxente’ pelo ‘ok’ de ninguém!

4- Arte pra mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa.

5- Tudo que é bom de passar é ruim de contar. E tudo que é ruim de passar é bom de contar.

6-  Eu divido a humanidade em duas metades: de um lado os que gostam de mim e concordam comigo. Do outro, os equivocados.

7- Por enquanto, só existem dois tipos de Governo: o dos opressores do Povo e o dos exploradores do Povo.

 


SOBRE O CONTO: AMOR — DE CLARICE LISPECTOR! - Dinah Ribeiro de Amorim.

 


SOBRE O CONTO: AMOR — DE CLARICE LISPECTOR!

Dinah Ribeiro de Amorim.

 

 

Clarice Lispector analisa seu personagem Ana como uma psicóloga, visando expor mais os sentimentos diante das cenas banais de acontecimentos cotidianos.

Retrata Ana como uma simples e completa dona de casa, muito preocupada em ser perfeita como esposa e mãe, até determinados momentos do dia, procurando, em presença familiar, estar satisfeita com tudo que faz. Mas, quando fica só, e filhos vão para a escola e marido ao trabalho, se perde, temendo a hora solitária ao ficar em casa, super organizada e limpa, temendo o momento de solidão. Em suma, realiza suas obrigações com prazer exagerado, sem sentir a felicidade que tudo isso deveria lhe proporcionar. Não consegue ficar sozinha e inventa sempre algo para fazer na rua, como uma válvula de escape. Não é completamente feliz, embora sem problemas matrimoniais.

Quando jovem, sentia necessidade de fincar raízes num apoio e isso a maternidade e o casamento lhe trouxeram. Tornou-se tão perfeita que até desenvolve técnicas artísticas com relação ao cumprimento de suas obrigações na casa. Veio, por sorte, nascer mulher e isso o faz com perfeição.

Seu único medo era não ser necessária, as horas em que não dependiam dela, ficar sozinha. Sentia-se feliz ao lado deles, necessitando dela.

Toma um bonde para realizar as compras do dia, não sente ternura nem devoção, mas uma necessidade da família. Seus cunhados iriam jantar em sua casa.

O bonde balança nos trilhos e ela derruba as compras no chão, principalmente os ovos, que se espalham e mancham sua sacola de tricô. Sente-se incapaz de se mover e dá um grito ao ver tanta sujeira, em público. O bonde, dando uma parada, faz Ana percorrer com os olhos, os transeuntes, parando, chocada, com uma cena que a choca e a modifica totalmente. Um homem cego, na calçada, que masca chicles… Esse homem cego, mascando chicles, ora sorrindo, ora não, impressiona tanto pela sua capacidade de existir, num mundo que sempre achou perfeito, que modifica totalmente sua maneira de pensar e vai persegui-la pela tarde toda, talvez pela sua interpretação atual de vida.

O bonde segue seu caminho, ela se defende da sujeira que fez com os ovos, mas não consegue se esquecer do cego na calçada, que lhe fica no pensamento. Sente-o como se não sofresse ou um certo arrependimento por nunca sofrer por um cego.

Como podia existir alguém deficiente tendo ela a sua vida tão perfeita?

Desperta no coração a bondade que, para ela, transforma-se também num inferno. Sentir piedade de um ser não perfeito e forte como ela. Teria que virar-se uma benfeitora, beijar as pessoas doentes nesse mundo. Teria que transformar suas ambições na vida.

Vai pensando em mudanças de que não se sente capaz, quando percebe que passou do ponto de partida. Desce perto do Jardim Botânico, prestes a fechar, já é o escuro aparecendo.

Entrou em crise, verificando com amor as plantas existentes naquele parque tão próximo. Nunca reparara nas flores, bichinhos, através da quase escuridão. Sentiu-se perdida, como se algum lobisomem aparecesse e a possuísse.

Nunca dera atenção a esse lado da vida, era o céu e, ao mesmo tempo, o inferno, com as coisas que poderiam fazer o mal.

E a figura do cego que masca chicles ainda não lhe sai da cabeça.

Aos trancos e barrancos, consegue chegar em casa, um prédio, apartamento no nono andar, esperando as crianças da escola e preparando o jantar.

Ajudada pela criada, na cozinha, enquanto bate com força os bifes. Talvez consiga descontar com alívio a pressão dos seus pensamentos.

O filho, quando chega, corre a abraçá-la, mas foge para o quarto, ao vê-la tão transtornada. Nunca a vira assim.

Durante o jantar, tudo corre normalmente, ela não demonstra as dúvidas que teve durante aquela tarde.

Uma mulher que fazia tudo por obrigação, sua vida era completa e forte, talvez não tão feliz como julgava, quando vê outro lado da vida.

Seu problema foi ter avistado o cego que mascava chicles e que nem pensava, talvez, que existisse. A vida, sem sua vontade, mostra o outro lado da existência.

Finalmente, nos braços do marido carinhoso, esquece momentaneamente os arrependimentos e conflitos que teve.

E a vida volta ao normal de sempre! Será?

 

 

 

 

 

OLHOS D'ÁGUA - CONCEIÇÃO EVARISTO - POR PEDRO HENRIQUE PEREIRA

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